terça-feira, 16 de junho de 2015

As sementes de Portugal estão em Marvão


É sabido que o Alto Alentejo encerra incontáveis motivos de interesse, mas para quem nada dele conhece, permitimo-nos aconselhar que se começe por alguns dias na área de Marvão-Castelo de Vide, 

Uma região incompreensivelmente pouco visitada e que oferece inúmeros e bons motivos de visita, Seja pelos valores naturais da Serra de São Mamede, apesar de tudo ainda bem preservados, seja pelo riquissimo património cultural, cujas raízes remontam á idade do ferro e que passam pela antiga cidade romana AMMAIA.

Há várias maneiras de chegar a Marvão-Castelo de Vide. A que sugerimos, pela emoção que causa, é a de entrar pela fronteira. Sair de Portugal por Vilar Formoso ou Elvas, aproveitar para visitar algumas das cidades da Estremadura espanhola (Cáceres, Trujillo, Mérida, entre muitas outras, merecem ser visitadas,  ou não fossem elas também cidades que outrora integraram a antiga Lusitânia!) e depois voltar a entrar em Portugal pela fronteira de Marvão, hoje de cancelas escancaradas.

Após a aridez e monotonia dos campos da estremadura espanhola, chegar à antiga portagem, ver o castelo de Marvão lá em cima. a abundância de água do rio Sever, a Natureza luxuriante, a harmonia perfeita da arquitectura popular e não sentir uma emoção será praticamente uma impossibilidade! 

E permitirá imaginar facilmente a emoção que os judeus sefarditas espanhois sentiram quando atravessaram entre Março e Agosto de 1492 a ponte da foto acima. Uma vez expulsos por Espanha, Portugal (D. João II) acolheu cerca de 60.000 judeus que recusaram a conversão proposta pelos reis católicos. E não foi por sermos um povo hospitaleiro. Tiveram de pagar a peso de ouro a sua entrada por esta portagem. Muitos seguiram para Lisboa e daí logo para os países baixos e Londres, mas outros ficaram-se por esta terra prometida. Tanto, que Marvão, Castelo de Vide e outras localidades próximas  conservam ainda hoje sinais da sua presença.

Diga-se, de resto, que só cá estiveram de passagem. A felicidade é sempre efémera e cinco anos depois foi a vez de Portugal ceder ás tramas diplomáticas e decretar, pressionado pelos vizinhos reis de Espanha, a sua nova expulsão deste canto da península. Dir-se-ia hoje que num comportamento muito pouco ético e que nos haveria de sair bem caro, pois não se salva niguem da miséria a troco de boas somas para dai a pouco tempo inflingir igual violência.

De qualquer das formas não é dificil imaginar a esperança daqueles milhares que atravessaram, na Primavera de 1492, o rio Sever . Bosques de Sobreiros, Castanheiros, giestas e flores diversas como as que hoje vemos, foram também vistas por eles. Se não era a terra prometida, andaria lá muito perto. E uma das plantas que devem ter visto, com toda a certeza e em abudância, foi a Digitalis thapsis, uma dedaleira de porte mais baixo que a Digitalis purpurea, folhas de cor verde-amareladas, mas iguais senão superiores qualidades ornamentais.

Espanha aprovou recentemente uma lei que tenta reparar o seu erro historico conferindo a nacionalidade espanhola a todos os descendentes dos judeus expulsos naqueles anos. Ao que parece Portugal prepara-se também, para o fazer. Que seja. È de elementar justiça e inegável mérito, mas é pouco provável que sejam assim tantos os descendentes que pretendem voltar a cruzar aquela ponte.

Hoje o desafio, dificil, é outro e passa por conseguirmos manter os poucos portugueses que ainda por lá persistem e resistem! 

Visitar e ficar uns dias naquela terra é o melhor que podemos fazer para que isso possa continuar a acontecer. Ficar nos seus alojamentos, comer nos seus (excelentes!) restaurantes e comprar no seu comércio é o oxigénio que hoje Marvão e Castelo de Vide precisam com urgência. 

Da nossa parte, se pudermos contribuir para que novos e mais clientes cheguem à loja do Vale da Aramenha, na Portagem, e ao Poial da Artesã Luísa Assis, lá em cima, dentro das muralhas da vila de Marvão, ficaremos muito felizes. São duas lojas genuínas. Sem falsas pretenções mas com a sofisticação que só está ao alcance de quem faz o que gosta: promover e dar a conhecer a todos o que melhor se produz naquelas terras!


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