segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Cardo Penteador



Menos conhecido que os anteriores não deixa porém de dar nas vistas. Poucos já o conhecem como cardo penteador, mas este era o nome vulgar dado aos Dipsacus - depois de secas, as inflorescências eram utilizadas para cardar a lã.

Em Portugal ocorrem duas espécies de Dipsacus: Dipsacus comosus  e Dipsacus fullonum. A distinção entre elas não é imediata e nem é tarefa fácil. Em ambos os casos as inflorescências são idênticas e com interesse para um jardim. Não só pelos insectos que atraem durante a primavera, que não resistem às suas flores rosa/purpura,  mas também pela sua inegável beleza geométrica.

 Mas esta planta tem mais alguns aproveitamentos possíveis. As suas sementes são bastante apreciadas por pequenos pássaros e as inflorescências, uma vez secas, podem ser utilizadas em pequenos arranjos decorativos sem grandes esforços de imaginação.

Nativa do Sul da Europa, Ásia e Norte de África é considerada invasora em alguns regiões dos Estados unidos. Além da  sua beleza terá certamente contribuído para que fosse levada da Europa o facto de aí ser considerada uma planta medicinal. As suas raízes maceradas em álcool são utilizadas como tonificante das inflamações de músculos e articulações.

Curiosamente do lado de cá do atlântico são outras as suas aplicações medicinais. Recorrendo ao conhecimento do mestre José Salgueiro (1), é uma planta considerada "útil em doenças da pele, tais como acne, eczema e outras" sendo a sua raiz cozida "diurética, sudorífica e aperitiva", entre outras possibilidades!

De referir por fim que é uma planta pouco exigente, de solos e água, e que é bianual florescendo no segundo ano. Porém, como produz sementes com alguma abundância é quase certo que algumas germinarão no ano seguinte possibilitando a sua permanência no jardim.

1 - Ervas, usos e saberes - Plantas medicinais no Alentejo e outros produtos naturais

terça-feira, 19 de novembro de 2013

A canafrecha

O que mais nos atrai nas plantas?
Canafrecha - Ferula communis     (foto: Wikipédia)

A nós e à maioria dos animais, atrai-nos basicamente a sua capacidade de fornecer alimento. Quer sob a forma de frutos, de flores fornecedoras de néctar, ou da sua folhagem ou raízes. Só nós os humanos, no entanto, nos damos ao luxo de lhes ver, apreciar  e poder “brincar” com o lado estético da sua forma.

As Umbelíferas ou Apiáceas, são ricas nessa faceta das suas espécies.
Hoje apresentamos o caso indiscutível de uma das Umbelíferas que pode alcançar maiores dimensões e que podemos encontrar em Portugal.
A canafrecha ou Ferula communis, encontra-se normalmente à beira de caminhos, taludes e orlas de matos. Sendo nativa da região mediterrânica, dá-se bem em climas áridos e com preferência por solos de origem calcária.
De porte vigoroso, as suas grandes folhas são tão finamente divididas que têm um aspeto plumoso, conferindo-lhes leveza apesar da dimensão ( as suas folhas basais podem alcançar 1m de comprimento). Já o seu escapo floral pode elevar-se desde os 2,5 aos 4 metros de altura, encimado por uma grande umbela de flores amarelas, no verão.

É esta a sua característica notável: é uma planta arquitetural com interesse em jardins informais ou em canteiros de flores. Jardins de clima mediterrânico, jardins mais ou menos silvestres ficam valorizados pelo seu porte colunar e  ao mesmo tempo, a “leveza” das suas folhas contrasta, valorizando a forma das plantas vizinhas.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Uma grande família - Apiáceas ou Umbelíferas

Esta família de plantas é facilmente identificável pelas suas inflorescências em forma de “umbela”, ou chapéu-de-sol.

Antes conhecida por Umbelliferae e agora também chamada de Apiaceae, é uma extensa família, com 300 a 450 géneros contendo 2500 e 3700 espécies, muitas delas aromáticas, medicinais e culinárias, sendo algumas tão nossas familiares como é o caso da salsa, dos coentros, a cenoura, o aipo ou o funcho.
Existe pois uma quantidade apreciável de espécies já conhecidas pelo seu grande interesse económico para a agricultura e com interesse medicinal pela sua riqueza em óleo essenciais. (1)

Mas entre estas e muitas outras espécies menos conhecidas existem fortes razões para lhes dedicarmos um pouco mais de atenção e reconhecer-lhes também o elevado interesse estético e ornamental que merecem. 
Senão vejamos os motivos porque lhe reconhecemos Interesse:

·         Boa adaptabilidade - Com preferência pelas regiões temperadas, podemos encontra-las nos mais diversos biótopos, o que faz dela uma boa matéria para cultivo, desde que escolhido o género ou espécie que mais facilmente se adeque às condições do nosso espaço.

·         Escultural – A diversidade formal e escultórica da sua folhagem revela-nos desde simples folhas inteiras a outras múltipla e finamente recortadas ou variar desde espécies com poucos centímetros de altura até outras de porte arbustivo como o Bupleurum fruticosum, ainda que sejam na sua maioria herbáceas. Esta característica permite introduzir contraste formal com as outras plantas.

·         Aromáticas - São interessantes pelos seus aromas pois são plantas secretoras de resinas e de diversas substâncias aromáticas.

·         Atraem os insectos - Florescem no verão (o que é menos comum no nosso clima) e as suas pequenas flores, agrupadas em maiores ou menores umbelas são extremamente apelativas para os insectos polinizadores e consequentemente enriquecem a biodiversidade envolvente. Este fator, simultaneamente, faz delas boas plantas companheiras, pois atraem joaninhas e muitos outros insetos que apreciam a sua riqueza em néctar, entretendo-os e protegendo as plantas vizinhas do ataque das pragas.

Heracleum sphondylium                  Cenoura-brava (Daucus carota

Uma primeira obervação das espécies mais comuns em Portugal pode ser feita através da página da Flora-on  ou na Flora Digital de Portugal e em breve surgirão AQUI algumas das espécies que consideramos com maior potencial ornamental.

(1) in Flora Ibérica 

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Alcachofra de São João

Mais um cardo com inegável potencial ornamental. Embora a blogoesfera já lhe tenha dedicado a merecida atenção, como Francisco Clamote aqui o fez no O Botânico Aprendiz na Terra dos espantos e Fernanda Delgado no Plantas e flores do areal, nunca é demais voltar a ele. Aliás, algo que faremos recorrentemente neste blogue relativamente a outras espécies. Não porque já tudo tenha sido dito sobre elas (embora quase) mas porque nesta matéria, como em tantas outras, o esforço é sempre contra o esquecimento.


Como é referido é uma planta comum sobretudo no Centro e Sul do País. Nos maciços calcários do centro é vulgar encontrá-la a partir de Maio e quase até Agosto. Geralmente de cor lilás mas também de cor branca, a composição das duas cores tem um resultado de sucesso garantido.

A propósito das plantas de flor branca, que por vezes conseguimos encontrar exclusivamente em alguns povoamentos podem ser consideradas uma sub-espécie - Cynara humilis f. alba. 

De referir ainda que à semelhança do Cynara cardunculus em algumas regiões os seus estames eram também utilizados como coagulante do leite no fabrico do queijo.

De fácil germinação as alcachofras de São João são plantas perenes que, vivendo vários anos, são sempre ponto de interesse num jardim. Depois de secarem completamente em Agosto/Setembro renascem novamente nos inícios de Outubro.

Terminamos deixando um link para uma galeria de fotos - Thistle-Gardens - de Sal, um fotógrafo português, que partilha em 145 álbuns a beleza que capta das plantas a que chamamos cardos. A foto da inflorescência branca utilizada na composição foi aí copiada.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Frutos do Outono

Pilriteiro - (Crataegus monogyna)

No Outono, voltam as primeiras chuvas, os dias de vento, dias cinzentos e húmidos. Condições pouco ideais para recolher as pequenas sementes - se ainda as houvesse.

De facto, as sementes de verão como amadureceram mais cedo, são secas, são predominantemente de menores dimensões e muitas vezes providas de mecanismos de dispersão aérea para que facilmente se disseminem pelo vento.

Com o agravamento das condições climatéricas, as leves sementes molhar-se-iam e já não seriam capazes de ‘voar’ grandes distâncias. 

Assim, para as sementes que amadurecem mais tarde, a natureza 'criou' os frutos. Nos frutos, as sementes encontram-se protegidas de uma quantidade maior ou menor de polpa, até que amadureçam. Exibem cores atractivas para que os animais, em especial as aves, as comam e dispersem nas imediações, após a passagem pelo seu parelho digestivo.

Habitualmente conhecemos melhor os frutos cultivados e que estamos habituados a colher para comer nesta altura como os figos, maças, castanhas, uvas, avelãs, azeitona, nozes, amêndoas entre muitos outros.

Mas existem também os frutos silvestres, apreciados sobretudo pela fauna selvagem. O medronho (Arbutus unedo), o pilrito (Crataegus monogyna), a salsaparrilha-bastarda (Smilax aspera), as bagas do sabugueiro (Sambucus nigra) e da murta (Myrtus communis) entre muitos outros, são alguns exemplos de frutos que constituem uma importante reserva de alimento para o período frio que se aproxima e que 'enfeitam' as nossas matas, florestas e suas orlas.

Norça-preta ou Arrebenta-boi (Tamus communis)

Muitos destes frutos silvestres, a par das próprias plantas, possuem um interesse ornamental pela introdução de cor nos jardins, como é o caso do azul metálico dos frutos do folhado (Viburnum tinus), do vermelho dos frutos do pilriteiro, ou das roseiras-bravas. 

E podem além disso ter uso quer medicinal quer culinário. É o caso dos medronhos, usado na culinária e nos licores, o caso do arrebenta-boi ou norça-preta, usado como planta medicinal com propriedades anti-reumáticas, à semelhança da salsaparrilha-bastarda (apesar das suas bagas serem tóxicas).

                   Salsaparrilha-bastarda (Smilax aspera)       Folhado (Viburnum tinus)

 Por todas estas razões, os nossos pequenos ou grandes jardins, poderão passar a ser também um reservatório de frutos não só atraindo avifauna, mas também para as nossas próprias receitas caseiras.