terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Engendrar Primaveras em Vila do Bispo


Quem nos acompanha ultimamente poderá ser tentado a pensar que só no Porto e na sua área metropolitana se está a plantar e a semear neste Inverno de 2017. É um facto que é aí que,possivelmente,  está em execução a politica mais consistente em matéria de recuperação de espaços verdes com flora nativa, mas felizmente há mais exemplos no nosso país de pessoas que sabem que é no frio e na chuva do Inverno que se engendra uma boa Primavera.

E um desses outros sítios onde isso está a acontecer aqui e agora, e no qual também temos o privilégio de poder colaborar, é em Vila do Bispo, na arriba fóssil do Telheiro em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina.

Pior do que errar é nada fazer para corrigir e é isso que a Câmara Municipal de Vila do Bispo, depois de uma intervenção menos feliz, está a fazer em conjunto com os cidadãos que fazem parte do Grupo de defesa do Telheiro: Recuperar o coberto vegetal das arribas fósseis do que é um dos mais importantes geo-sitios do nosso país. Para que também naquela parte da nossa costa, qualquer um de nós possa usufruir de muitas Primaveras floridas como só a Costa Vicentina sabe proporcionar. 

E tem tudo para dar certo. Este é um projecto em que além da autarquia e de um grupo de cidadãos empenhado foram envolvidas outras pessoas e instituições. Como o ICNF, a LPN, a associação A ROCHA, o  GEOTA e o Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves”, que com a participação Alberto Pietrogrande e  Carlo Bifulco, técnicos italianos de planeamento do território que aportam ao projecto a sua experiência em técnicas de engenharia natural na recuperação paisagística.

Os trabalhos de sementeira e plantações decorrerão ainda durante o mês de Fevereiro e quem quiser colaborar de forma voluntária  participar neste projecto de engenharia natural pode inscrever-se através do  email: proteger.telheiro@gmail.com. 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Uma Árvore para si. No Porto


No nosso último post, de 5 de Janeiro, partilhámos um pequenos texto sobre "O Homem que plantava árvores" de Jean Giono, um conto inspirador que é hoje um clássico da literatura europeia. Embora na nossa perspectiva a sua mensagem implícita vá muito além da leitura literal, esta por si só é mais do que suficiente! É na nobreza do acto de plantar, semear e persistir, que pode nortear a condição humana e de qualquer um de nós, que está o cerne da história.

E se por vezes temos a sensação de viver numa realidade crescentemente cínica, convém não desesperar e conseguir ver o que, se deixarmos, nos pode entrar pelos olhos dentro. A verdade é que neste preciso momento, aqui e agora, há pessoas ocupadas a plantar, a semear e a persistir!

O projecto Futuro:100.000 Árvores, do qual somos parceiros, em conjunto com a Câmara Municipal do Porto, são algumas dessas "pessoas" que nos enchem de satisfação por com eles podermos colaborar.

A iniciativa "Se tem um jardim.. Temos uma árvore para si" pretende proporcionar, pelo segundo ano, a todos os munícipes do Porto que tenham um jardim ou quintal a possibilidade de plantarem um Árvore oriunda dos viveiros municipais cedidos pela CMP ao projecto Futuro. O objectivo: Apoiar os portuenses que têm jardim ou quintal a plantar árvores ou arbustos nos seus espaços, num esforço conjunto que quer afirmar definitivamente o Porto como uma cidade mais verde e mais sustentável.

Todos os residentes, empresas  e organizações que sejam legítimos proprietários ou gestores de um pequeno jardim ou quintal – no concelho do Porto – que possua condições para receber uma ou várias árvores, podem candidatar-se até 10 àrvores ou arbustos a escolher entre 10 espécies como o azevinho,  a murta, o loureiro ou a bétula.

Mas quem não tiver um quintal ou um jardim não fica de fora e este ano, além de espécimes prontos a plantar, a iniciativa foi alargada a quem tem apenas um pequeno canteiro ou uma varanda, sendo disponibilizadas gratuitamente sementes de 5 espécies autóctones: rosmaninho, alecrim, papoilas, borragem e erva-de-S.-Joao!

As inscrições podem e devem ser ser feitas AQUI até dia 5 de Fevereiro!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

O Homem que plantava Árvores


(versão dobrada em português; versão original em Francês, legendada em português, AQUI)

Os inícios de ano são sempre momentos propícios  a decisões de mudança e, qualquer que seja a profundidade que se pretender alcançar na mesma, não faltam hoje nas redes sociais milhares de posts inspiradores. Mas há alguns que, estando nós dispostos a ceder-lhe os minutos necessários, valem por muitos e contêm em si uma perspectiva de acção que pode nortear uma vida inteira.

E vem este nosso post, que esperemos possa ter a frescura da novidade para alguns que o lerão pela primeira vez, a propósito de um outro post publicado pelo Paulo Araújo do blogue Dias com Árvores no final de 2016, AQUI., partilhando um excelente texto que, na nossa opinião, é de leitura obrigatória para quem este ano quer por as mãos na terra e começar a plantar as  árvores certas nos sítios certos.

É um facto que somos seguidores apaixonados do Dias com Árvores desde o seu início em, imagine-se, 2004. Aliás, como costumamos brincar, se o nosso gosto pela botânica é filho deste blogue, o nosso projecto dedicado às sementes da flora autóctone e silvestre do nosso país, é seguramente seu neto! Com a vantagem que só a blogoesfera consegue ostentar, são 12 anos de publicações disponíveis para todos os que pela sua mão quiserem beneficiar do conhecimento generosamente partilhado pelo Paulo Araújo e a Maria Carvalho. Que, com a paixão que só os amadores conseguem ter, são inquestionavelmente os maiores e mais competentes  divulgadores de botânica que temos entre nós.

E se há muitos textos que merecem ser lidos, este é inquestionavelmente um deles. Um texto escrito para ser o posfácio de uma edição ilustrada do conto "O Homem que plantava àrvores" de Jean Giono, e que se dedica dar pistas sobre quais as melhores espécies de árvores, com um especial enfoque nos carvalhos, que cada um de nós pode plantar  consoante a região do nosso país. É que esta é uma das questões fulcrais para todos aqueles que querem começar e não sabem por onde. Não é uma ciência esotérica, nem precisa da intervenção de nenhum especialista, mas exige cuidados que são preciosos para evitar o que muitas vezes acontece e que é reconhecer, ao fim de alguns anos, que se pôs a Árvore errada no sítio errado.

Mas se este posfácio é de leitura recomendada, o conto que lhe está por detrás não o é menos. Tido por muitos como um dos clássicos incontornáveis da literatura europeia do século XX, O Homem que plantava árvores - cujo filme de animação, de Fréderic Back, que partilhamos em cima, foi ganhadora do Óscar de melhor animação em 1988 e que é também ele de visionamento obrigatório, conta a historia de Elzéard Bouffier, um velho pastor que nos primeiros anos do Séc. XX plantou por sua iniciativa uma floresta numa região inóspita dos Alpes franceses.

Porém o que é notável e inspirador neste conto de Jean Giono ( 1895-1970) são os diferentes níveis de leitura que ele possibilita. Descrevendo a acção de um pastor solitário que sozinho criou um novo bosque, fervilhante de vida, o que por si só é uma obra maior, o autor remete-nos subtilmente para as infinitas possibilidades da condição humana e que cada um de nós tem, por mais adverso que seja o contexto: O de recomeçar e persistir com esperança na mudança que queremos para cada um de nós e em nosso redor.

Como escreve e bem Jean Gioto "Os homens podem ser tão eficientes quanto Deus em tarefas que não seja destruir".

Que, na sua medida, este post possa inspirar um auspicioso 2017 para todos os que nos seguem são os nossos votos!