quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Borragem

Borago officinalis

Das plantas que na ultima entrada vos falávamos, e que já é possível admirar em pleno Inverno, elegemos a borragem, a primeira planta anual sobre a qual colocamos a atenção neste blogue. De discretas mas sofisticadas flores azul-violeta  em forma de estrela é uma planta que quase passa despercebida a muitos de nós. E isto apesar de se encontrar relativamente bem disseminada pelo nosso território. 

A borragem, ou Borago officinalis,  é uma planta anual que pertence à família das boraginácias (Boraginaceae) - Uma família que tem outras plantas que vos mostraremos em posts futuros. Não é exigente ao nível do solo, pelo contrário prefere-os pobres, e requer apenas que o sitio seja bem drenado.

De folhas rugosas e caules cobertos por pêlos tem na medicina popular diversas aplicações para as infusões feitas a partir das suas folhas, eficazes em tosses bronquites  gripes e constipações. Mais recentemente as suas folhas e flores ganharam aplicações culinárias. As primeiras pelo seu leve sabor a pepino, as segundas em saladas pelo efeito decorativo e travo picante. Um regalo para os olhos a provar que estes também comem. E se, por sorte, uma das sementes originar uma planta de flores brancas teremos a salada perfeita.

As suas sementes podem ser semeadas no início da Primavera a uma temperatura de 16º a 20º C. germinam entre uma a duas semanas e no inicio do Outono podem ser transplantadas para os locais definitivos. Depois de crescerem e florirem, as sementes que for deixando cair garantirão a sua auto-propagação nos anos seguintes.
sementes de Borago Officinalis

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Um Inverno florido



Para os mais sensíveis aos rigores do nosso clima o Inverno é aquela estação que, se pudéssemos, passávamos por cima. Menos sol, muito frio e quase sempre chuva inclemente e uma natureza em letargia ao ponto de parecer morta, só nos fazem desejar que a Primavera e sobretudo o Verão cheguem o mais depressa possível.

Mas a verdade é que a Natureza anda cá há mais tempo e não faz as coisas de forma leviana. É um facto que grande parte das árvores e arbustos aproveitam este três meses para se recolherem e fortalecerem as suas raízes, mas, de forma subtil e discreta, logo a partir de Janeiro algumas plantas são encarregues de começarem a florir de forma conjugada, preparando a apoteose do que daqui a um mês será evidente a todos nós. Tal qual os primeiros acordes de uma sinfonia, apenas com um ritmo diferente.

Esta semana, depois de quase duas a bater recordes de frio e chuva, os raios de sol de ontem vieram provar-nos isso mesmo e apresentar-nos o brilho dos campos cobertos de erva verde e da água a escorrer. E há que aproveitar as tréguas para ir verificar o que é que a Natureza anda a engendrar agora e, com alguma atenção, constatar que os alecrins, os teucriuns, os folhados e os abrunheiros-bravos, para além das amendoeiras, já estão a florir.

Mas há muitas mais flores a emergir de plantas como as calendulas, as vincas, as margaridas, o heloborus, a borragem, alguns narcisos e lirios, os malmequeres-dos-brejos ou os tojos para dar alguns exemplos. O desafio é sempre o mesmo: reparar não no que aparentemente está morto mas na vida que quer despontar. Muitas delas possuem folhas e flores comestíveis, outras possuem propriedades medicinais aromáticas ou condimentares. E todas podem ser boas soluções para levar mais um pouco de natureza para os nossos jardins que quase sempre se esquecem de alegrar no Inverno.

Por isso, hoje não falamos de nenhuma espécie em particular e apenas vos lembramos que esta é a altura perfeita para começar a notar os tons e acordes deste novo ciclo que agora ser inicia e que, esperemos, teremos o privilégio de assistir até ao seu término no começo do próximo Inverno, lá para meados de Dezembro de 2014.

PS - Como não somos os únicos a reparar que o Inverno também é florido aqui fica um link para uma entrada que a Fernanda Botelho escreveu motivada pelos raios de sol de quinta-feira passada em Sintra e que vale a pena ler.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A árvore da castidade


 Vitex agnus-castus

Embora não seja considerada uma espécie autóctone portuguesa, este arbusto que pode alcançar um porte arbóreo encontra-se relativamente disseminado pelas margens de ribeiras do Sul do País. Introduzido ou não pelo homem no nosso território, o facto é que o seu habitat-natural é o do mediterrâneo e nós, que não somos mais papistas que o papa, não resistimos a dá-la a conhecer mesmo que não seja nossa. 

Com um claro valor estético, razão pela qual é utilizada há alguns séculos como ornamental, destacam-se nesta planta as suas espigas de flores lilazes que normalmente aparecem no Verão e se prolongam até ao fim do Outono. Tem preferência por locais expostos ao sol ou meia sombra desde que em solos frescos e bem drenados.

Mas as maiores curiosidades deste arbusto prendem-se com os usos medicinais que os homens lhe foram dando desde a Antiguidade e que se verteram no seu nome cientifico. Com efeito desde a Grécia antiga que as suas folhas e bagas, foram utilizadas como um "redutor" de libido, sendo recomendadas às mulheres que quisessem acalmar os seus pensamentos. E as bagas vermelhas, depois de secas, têm também outro nome sugestivo do seu uso: pimenta de monge! Ao que parece no passado este era um dos suplementos que não poderiam faltar na dispensa de qualquer mosteiro.

Nos dias de hoje subsistem muitas duvidas cientificas sobre o real poder anti-luxuria dos princípios activos desta planta, mas são-lhe reconhecidos efeitos positivos para o tratamento de ansiedade, tensão nervosas e insónias. E como esclarece o Luís Alves aqui, uma infusão das suas folhas em banho "alivia os calores e suores típicos da menopausa". :)

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

De volta às cistácias

 Halimium halimifolium

E para continuar o que tínhamos interrompido, voltamos às cistácias e a uma do género Halimium  - O Halimium halimifolium. Se o nome cientifico nos diz pouco, o nome vulgar - sargaça - ainda nos diz menos e, em certa medida, chega a ser pejorativo. Quase tanto como a injusta designação popular de mato, que é como infelizmente muitos a ele se referem. O que é injusto, mas como sabemos não há povos perfeitos. E o nosso não é excepção.

Amplamente disseminado pelas dunas estabilizadas do centro e sul de Portugal, é um arbusto que pode atingir um metro de altura e que forma grandes manchas de tons cinzentos/brancos consoante a luminosidade do dia. Só por isso este arbusto já merecia estar nos nossos jardins, pois é a cor das suas folhas de cor verde claro/cinzento que mais podem contrastar com outras tonalidades de verde. 

Como alguém explicava, sobre qual o melhor processo para escolher as plantas para um dado espaço, mais do que as flores (efémeras) o critério que preferia era sempre o da cor das folhas. São elas que perduram mais ao longo do tempo e é das diferentes tonalidades em presença que se pode criar um espaço visualmente mais dinâmico.

Mas as suas flores não são despidas de interesse. Pelo contrário são a "cereja no topo do bolo". De Abril a Junho as sargaças cobrem-se de flores amarelas com ou sem máculas nas pétalas. Efémeras porque duram um a dois dias mas logo substituídas por outras novas na manhã seguinte. 

Apreciadas por inúmeros insectos, as suas flores contribuem para o aumento da diversidade e são também um bom motivo para quem quiser juntar mais uma cor aos rosas, lilazes e brancos das roselhas
e estevas.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Cardo Maritimo

Eryngium maritimum

E para terminar a nossa série dedicada aos cardos, colocamos hoje a nossa atenção num dos oito que na nossa flora autóctone pertencem ao género Eryngium. Todos eles são plantas com interesse ornamental e a eles voltaremos mais tarde, mas por agora rematamos com este: O Eryngium maritimum ou cardo marítimo como é vulgarmente conhecido entre nós. 

Presente em todo o nosso litoral, assim como em todas as costas marítimas da Europa, o cardo marítimo está em termos científicos mais perto das umbelífereas como a tápsia ou a férula, de que a Crix nos tem falado, do que dos restantes cardos. Porém, porque por razões de sobrevivência foi desenvolvendo espinhos nas suas folhas, não se livrou do incómodo do nome. 

Muito adaptado a solos arenosos e bem drenados, pois é no ambiente das dunas primárias que é mais frequente encontrá-lo, é uma planta semi arbustiva que pode atingir cerca de 60-70 cm. Além de ser um óptimo chamariz para os insectos, e portanto contribuir para a biodiversidade de um jardim, o seu principal interesse para nós é o ornamental.

A perfeição geométrica das suas folhas, rígidas ao ponto de parecerem ter sido recortadas num outro material que não o natural, e os tons únicos de azul metálico das suas inflorescências fazem do cardo marítimo uma planta perfeita para quem possui jardins de solos arenosos e empobrecidos. Plurianual renasce todos os Outonos deixando para trás os seus ramos secos. Que não são desperdiçáveis. Com um pouco de criatividade podem perfeitamente ser valorizados em arranjos decorativos.

Por fim e porque não vale a pena reescrever o que outros já fizeram muito bem, remetemos-vos para um post da Fernanda Nascimento que no blogue Plantas e Flores do Areal nos apresenta o cardo marítimo detalhadamente!