quarta-feira, 30 de abril de 2014

Giestas e o dia das Maias

Cytisus grandiflorus - Cytisus multiflorus

A propósito do dia de amanha, que em muitas zonas do nosso país é, além do Dia do trabalhador, o Dia das Maias, publicamos hoje um post sobre giestas.

A celebração das Maias é uma tradição de origem Celta ligada aos cultos da fertilidade e da celebração do início do Verão - que para os Celtas se iniciava não em Junho mas no início do quinto mês. Assume diferentes expressões consoante a região e foi entretanto assimilada, à semelhança de tantas outras tradições pagãs, pela religião católica tendo-se hoje perdido o real significado que está na origem da celebração. 

De qualquer das formas o facto é que ainda hoje, em pleno século XXI a força da tradição se mantém, e neste dia são muitas as pessoas que, sobretudo no centro e norte de Portugal, assinalam o dia pendurando na porta das suas casas ramos de giestas e outras flores. A este propósito deixo aqui o link para um post publicado aqui pelo Dias com árvores em 2005! dando conta de que mesmo numa cidade como o Porto as pessoas adquirem ramos de giestas neste dia para colocarem à porta das casas.

Em Portugal existem, salvo erro, 6 espécies de giestas, todas elas de flores amarelas excepto a multiflorus que é de floração branca. Qualquer uma delas oferece uma significativa floração durante os meses Abril e Maio e são óbvias as suas qualidades ornamentais. Tanto que também para esta espécie é hoje vulgar encontrar à venda nos garden-centers variedades híbridas desenvolvidas para darem flores de outras cores como o vermelho ou o laranja.

Mas não era necessário. O amarelo e o branco das nossas giestas nativas é mais do que suficiente para abrilhantar qualquer jardim. No caso da Cytisus grandiflorus de flor amarela, disseminada  por praticamente todo o território, o seu porte arbustivo pode alcançar os 3 metros de altura. Já o Cytisus multiflorus, de cor branca, mais frequente no centro interior , Minho e noroeste de Portugal, o seu porte é quase sempre inferior aos dois metros.

Além do interesse ornamental, as suas flores são como é claro um chamariz para todo o tipo de insectos polinizadores. Acresce a isso que tratando-se de espécies pertencentes à família das leguminosas, são fixadoras do azoto e como tal contribuem para o restauro da fertilidade do solo.

Ambas as espécies se adaptam a diferentes tipos de solo, mesmo os mais pobres e não são exigentes de água.

Para finalizar deixamos ainda um link para o blogue Plantas e flores do areal que recentemente dedicou este post inteiramente dedicado à espécie cytisus Multiflorus. De leitura recomendada para quem quiser aprofundar os conhecimentos sobre esta espécie também conhecida como giesta das sebes.

domingo, 27 de abril de 2014

Saídas de Campo em Abril


Ao longo do mês de Abril realizámos diversas saídas de campo tendo em vista a identificação das melhores populações das espécies em que mais apostamos e das quais tencionamos recolher sementes de qualidade. E temos muito por onde escolher. A nossa flora autóctone compreende mais de 4000 espécies e basta focarmo-nos em apenas 1% para termos pano para mangas.

As fotos acima são das nossas duas últimas saídas de campo nos maciços calcários de Montejunto e Candeeiros. Para além das espécies que procuramos é impossível não reparar nas outras inúmeras plantas e flores que por esta altura comprovam a enorme riqueza em termos de biodiversidade destes territórios.Não pretendemos vir a recolher as suas sementes mas não resistimos a mostrar-vos algumas das suas formas e cores.

Em Maio temos planeadas mais saídas de campo que vos iremos dando conta!

sábado, 26 de abril de 2014

Chagas

Tropaeolum majus

A nossa flora é suficientemente rica e extensa para não termos de evidenciar plantas de outras latitudes. Até porque o nosso projecto é fundamentalmente dedicado à flora autóctone portuguesa . Todavia, volta-não-volta não resistimos a abrir uma excepção e colocamos o nosso olhar em espécies que não sendo de cá se assilvestraram pelas nossas paisagens. Basta serem suficientemente belas e não constarem da lista oficial de espécies invasoras. Desta forma ajudaremos também a demarcar aqui e ali as fronteiras do que é autóctone do que não o é.

A que hoje evidenciamos e que neste mês de Abril cobre de tons de vermelho amarelo e laranja muitos taludes e terrenos abandonados, vulgarmente conhecida por chagas ou capuchinhas, é originária do Peru de onde foi trazida para a Europa no século XVI. Existem diversas espécies, além de variedades das mais diversas cores, apuradas em viveiros de toda a Europa, mas a que se encontra disseminada entre nós é a espécie Tropaelum majus.

Trata-se de uma planta anual, rasteira, que por vezes assume o comportamento de trepadeira e que normalmente tende a cobrir os solos com as suas folhas. Prefere solos bem drenados e com exposição solar para poder oferecer uma floração mais intensa e não rejeita ser viver em vaso. As flores assumem diversas matizes que vão desde o quase amarelo até ao vermelho passando pelo laranja.

Além da valia estética - até porque, que nos recordemos, não são muitas as nossas plantas que oferecem floração nestes tons, é uma planta com interesse quer medicinal quer culinário. Nesta última aplicação, as suas folhas jovens e tenras, bem como as flores podem ser utilizadas em saladas. Possuem um travo amargo/picante e, claro, são bastante decorativas.

Medicinalmente, possui elevados teores de vitamina C e ferro e possui propriedades antibióticas. Uma infusão das suas folhas e flores, como nos explica Fernanda Botelho na sua agenda de 2014, aumenta a resistência a infecções bacterianas e externamente pode ser usada para desinfectar feridas.

De referir por fim que, talvez pelas propriedades acima, as Chagas são uma boa planta para num jardim ou horta consorciar com outras plantas pois afastam afídeos e outras pragas.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Uma planta boa-escolha



Ora aqui está uma planta cujas características fazem dela uma boa escolha para qualquer recanto de jardim. E chamamos-lhe "boa-escolha" porque à parte a sua beleza, que é  intrínseca, tudo o que lemos sobre ela desmoraliza o mais optimista dos seres. A começar pelo nome vulgar: Abrótea !;  passando pelas designações cientificas: pertence ao género Asphodelus da família das Xanthorrhoeaceae e terminando nas descrições do seu habitat : "matagais", "terrenos secos e algo perturbados"; tudo nos leva a considerar que se trata de uma planta sem qualquer interesse.

E não é ! Pelo contrário é uma planta muito ornamental cujas hastes floridas impressionam até quem não gosta de flores.  Tivesse ela o nome de orquídea e uma etiqueta com um preço em Euros a condizer e seria certamente a estrela de qualquer garden-center! Por isso, e para não induzir nenhum preconceito, passamos a designar as plantas do género Asphodelus simplesmente de boas-escolhas. Pode ser que assim se tornem mais populares.

A que aqui vos mostramos pertence à espécie Asphodelus ramosus e pode ser encontrada um pouco por todo o nosso país. É uma planta de raízes tuberosas, folhas verdes compridas, a fazer lembrar as dos alhos,  bastante ramificadas a partir da base. As plantas mais maduras (presumimos que com mais do que um ano) costumam por esta altura do ano levantar hastes floridas que podem chegar ao metro e meio de altura.

Como referíamos acima é uma planta pouco exigente. Nem de solos - praticamente adapta-se a todos os tipos desde areias pobres até solos argilosos mais pesados, nem de nutrientes, nem de água - a que as chuvas lhe dão é mais do que suficiente.

Uma nota final para o uso medicinal que popularmente é dado às suas raízes tuberosas, cujo suco é indicado para o tratamento de impigens e ulcerações das mucosas.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Uma centaurea

Centaurea sphaerocephala L. ssp. polyacantha

A par das armerias há muitas outras plantas que por esta altura nos chamam a atenção nas nossas arribas litorais. A que hoje vos mostramos é uma delas e se nos despirmos de preconceitos facilmente reconhecemos o quão bonita é e o quão interessante pode ser num jardim. As suas enormes inflorescências cor-de-rosa  podem chegar a ter 15 cm de diâmetro!

Esta planta, com o nome botânico de Centaurea sphaerocephala L. subespécie. polyacantha, pertence ao género Centaurea e pode ser encontrada em praticamente toda a costa ocidental portuguesa sobre areias, arribas e matos próximos do mar. Pode todavia ser usada com facilidade em jardins fora da linha de costa pois não estranha outros tipos de solos nem requer regas frequentes. Pelo contrário, até gosta de ser deixada por sua conta! 

De notar que é uma herbácea perene vivaz que após desaparecer com a secura do Verão volta a renascer no Outono seguinte. Por isso, uma vez semeada e germinada, pode ser colocada no seu lugar definitivo estando garantido todas as Primaveras uma vistosa floração. O que, aliás faz as delícias dos insectos polinizadores como as abelhas que apreciam especialmente o seu néctar. 

Para terminar deixo aqui uma ligação para o blogue da Fernanda Nascimento. Como é seu timbre, um artigo completo através do qual se ficam a saber algumas interessantes curiosidades sobre as flores desta planta.

domingo, 13 de abril de 2014

Armerias


Armeria welwitischii Boiss

Das cerca de 20 espécies de armerias nativas de Portugal, existem algumas cujo porte e inflorescências lhe conferem um indiscutível valor ornamental. Valor esse que não tem passado despercebido pois já hoje é possível encontrar algumas espécies e variedades ornamentais em muitos centros de jardinagem, como é o caso da Armeria maritima.

A que hoje vos mostramos e sobre a qual recaem as nossas preferências, é a Armeria welwitischii Boiss, um endemismo português. Isto é apenas ocorre em Portugal, mais concretamente nas dunas e arribas do nosso litoral entre Cascais e o Cabo Mondego. 

É uma planta sub-arbustiva perene que em regra se apresenta em tufos densos e cuja floração ocorre entre Março e Julho. Habituada ao rigor dos ventos salinos do seu habitat adapta-se todavia com grande facilidade a outros tipos de ambientes não exclusivamente arenosos ou litorais. Tem ainda a vantagem de suportar muito bem a secura, não exigindo nem regas frequentes nem solos ricos. É por isso uma planta ideal para jardins secos ou naturais.

Sendo exclusivamente portuguesa o seu nome "welwitischii Boiss" tem porém uma explicação simples. O botânico Pierre Edmond Boissieri  foi quem primeiro a descreveu. Em honra de um outro botânico austríaco,  Friedrich Martin Josef welwitsch, que em meados do século XIX também estudou a nossa flora nativa,  foi baptizada de welwitischii, como como nos explica  aqui Maria Carvalho do blogue Dias com árvores.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Vassoura véu de noiva

Retama monosperma

Se é certo que o amarelo das giestas e das pascoínhas é a cor dominante das nossas paisagens do litoral nesta altura do ano, a verdade é que aqui e ali há outras cores que nos chamam a atenção. Uma delas, sobretudo para quem viaje nas auto-estradas do litoral e for com alguma atenção, é o branco de alguns arbustos que aqui e ali vamos avistando..

À primeira vista somos tentados a pensar que se tratam de giestas de flor branca - e de facto em algumas das nossas regiões, como o Alto Alentejo e Trás-dos-montes, são estas (cytisus multiflorus) que dominam na paisagem, mas no litoral e Algarve o mais provável é que seja a Retama monosperma, vulgarmente designada entre nós por piorno-branco mas que em inglês tem um nome mais sugestivo e condizente: bridal veil broom.

Originária das faixas litorais do Algarve e do Alentejo, é hoje uma espécie disseminada um pouco por todo o país nomeadamente nos taludes das principais vias de comunicação. Mas este facto não deve menorizar o seu valor ornamental. Pelo contrário, é um arbusto que podendo alcançar o porte de uma pequena árvore nos oferece uma intensa floração branca logo ao inicio da Primavera.  Seja sozinha ou em conjugação com outras espécies arbustivas é uma opção a considerar.

Um parágrafo final para referir que esta é uma espécie da família das leguminosas,  pouco exigente de água e que se adapta bem a diferentes tipos de solos.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Rosa-albardeira

Paeonia broteroi

Para quem se inicia na descoberta dos nossos territórios pelos inícios da Primavera, uma das surpresas maiores é encontrar uma rosa-albardeira. Achamos sempre que a nossa flora apenas produz pequenas e simplórias flores e somos surpreendidos por uma que pode chegar a ter 12 centimetros de diâmetro! Quase que chegamos a duvidar se é mesmo nossa, se não será uma exótica assilvestrada.

Mas é. É aliás uma das nossas plantas vivazes mais apreciadas noutros países como em Inglaterra onde o género Paeonia é largamente utilizado como planta de jardim e as nossas rosas-albardeiras assumem o lugar de preciosidade. Esta nossa espécie, que em Portugal é possível encontrar com alguma facilidade no centro e sul do país, é autóctone da Península Ibérica. Isto é, além de Portugal só no sul de Espanha é possível depararmo-nos com ela em estado selvagem.

Indiferente ao tipo de solo, ácido ou básico, é todavia vulgar encontrá-la nos maciços calcários da estremadura, bem como no barrocal algarvio, em locais sombrios e nas orlas de bosques de azinheiras, carvalhos ou sobreiros. Isto é, desde que não seja colocada num lugar excessivamente exposto ao sol, é possível ter uma rosa-albardeira em quase todos os jardins.

É verdade que as flores possuem uma vida efémera de poucos dias, mas a exuberância das suas dimensões compensam largamente essa desvantagem.

Paralelamente é de realçar que as rosas-albardeiras não foram nem são ignoradas pela nossa cultura popular. Consoante as regiões assume outros nomes vulgares como Erva-casta, Rosa-cuca ou Rosa-de-lobo, apenas para citar alguns. É, além disso, uma das flores mais vistas na decoração das tochas floridas, carregadas apenas por homens e uma das principais atracções numa das procissões mais genuínas do nosso país e que ocorre na Festa das tochas floridas em São Brás de Alportel nos domingos de Páscoa. As fotos abaixo são de procissões de anos anteriores. A deste ano ocorrerá a 20 de Abril.


Para terminar juntamos dois links para duas entradas que o Dias com árvores e o O Botânico Aprendiz na terras dos espantos já publicaram sobre esta espécie. Aqui e aqui, respectivamente.