terça-feira, 24 de outubro de 2017

Sementes de Portugal: 4º Aniversário!




Assinalamos hoje, dia 24 de Outubro, o nosso 4º Aniversário!

Na escala de uma vida humana 4 anos não são nada, mas na de um projecto peregrino, com natureza empresarial, persistir e sobreviver 4 anos  é para nós um enorme motivo de alegria e satisfação.
Como escrevíamos nessa altura, AQUI, abraçávamos nesse dia de Outono de 2013, a missão de tentar que em Portugal, e à semelhança do que já existia há tantos anos noutros países europeus, existisse uma empresa que disponibilizasse sementes das espécies autóctones da flora portuguesa. As suas potencialidades, o interesse que reuniam em matéria de paisagismo e jardinagem, a possibilidade de contribuir para a renaturalização dos mais diversos espaços, e sobretudo a nossa profunda crença de que podemos  e devemos ter espaços verdes mais bio-diversos e ecologicamente sustentáveis, fizeram-nos acreditar, desde o inicio, de que a nossa missão faria todo o sentido existir.

Fazia e Faz! Ao longo destes quase 1500 dias contribuímos para que cada vez mais pessoas estejam atentas à importância das espécies silvestres da nossa flora e que, caso seja essa a sua vontade, seja hoje muito mais fácil  encontrarem as sementes de espécies emblemáticas que fazem parte do nosso imaginário colectivo.

Apesar de apostarmos na dessacralização de temas que são demasiadas vezes capturados por discursos "científicos" herméticos e inacessíveis, as sementes de Portugal serão sempre, evidentemente, uma empresa - projecto de nicho. Não temos nem a veleidade, nem a vontade, de sermos uma grande empresa de comercialização de sementes. Mas continuamos a acreditar e a ter a certeza de que poderemos acrescentar valor promovendo o que é para nós fundamental: a nossa reconecção com os elementos e  com as outras formas de vida com quem partilhamos o nosso planeta Terra.

E gostando nós de eco-sistemas enche-nos igualmente de satisfação saber que a nossa empresa, embora de pequena dimensão, faz hoje parte do eco-sistema económico e social que é a nossa sociedade, na qual vivemos e para a qual desejamos contribuir com a nossa energia. 

Totalmente financiado pelas vendas junto dos seus clientes, contribuindo para a Segurança Social e cumprindo as suas obrigações fiscais, como qualquer outra actividade económica suportada pelo mercado, as Sementes de Portugal incorporam o resultado do trabalho de outras empresas e são hoje parceiras, acrescentando valor, de  comerciantes e empresas que promovem o melhor do nosso país. Colaboram com diferentes Universidades e Institutos Politécnicos,  estão integradas em associações como a Sociedade Portuguesa de Botânica e a Associação de Jardinagem em climas mediterrânicos e, o que é da maior importância para nós, têm um papel activo em projectos de enorme impacto em matéria de responsabilidade social como o Programa Eco-Escolas e o Projecto Futuro 100.000 Árvores - da Região metropolitana do Porto.

Neste 4 anos existiram naturalmente muitos desaires e dificuldades que não ultrapassámos como gostaríamos. Mas em dias de aniversário preferimos antes focar-nos no muito que pode e deve ainda ser feito. Como há quatro anos, continuamos com a mesma energia e a mesma certeza: A Flora autóctone tem tudo para fazer parte do nosso Futuro!

A todos aqueles que nos têm ajudado a fazer crescer esta ideia: OBRIGADO!

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Baixar os braços


Nesta altura do ano gostaríamos de apenas falar sobre sementeiras,  o que semear e qual a melhor maneira de o fazer. Mas o infortúnio, sem qualquer paralelo, que se abateu este fim-de-semana sobre o nosso país detém-nos uma vez mais. O cenário de destruição de Pedrogão Grande repete-se, supera-se e pulveriza-se. Para nós, considerar que esta tragédia é um cenário que devemos considerar como normal, condenado a repetir-se, e com o qual teremos de aprender a conviver,  é demasiado grave para um país que se pensava soberano. E quando não conseguimos proteger e defender sequer a que era possivelmente a melhor e mais bem ordenada floresta do nosso território - O pinhal de Leiria, ardido em 80%, há mesmo uma reflexão profundíssima a fazer com óbvias ilações a retirar. Ou se reconhece que houve incapacidade, uma vez mais,  ou então é evidente que somos um país que simplesmente não pode ter floresta.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Uma Arca de Noé. De sementes Portuguesas.


No passado dia 6 de Outubro, em Braga, o Banco Português de Germoplasma Vegetal, em conjunto com a  ATAHCA - Associação Desenvolvimento das Terras Altas do Homem, Cávado e Ave, assinalou os seus 40 anos promovendo uma conferência Internacional sob o tema “Conservação dos Recursos Genéticos: na Alimentação, nos Sistemas de Produção e nos Bancos de Germoplasma”.

Não obstante estarmos sobretudo focados nas sementes das espécies silvestres para fins ornamentais e paisagísticos, foi para nós um privilégio poder assistir ao conjunto de apresentações e diferentes painéis de oradores que, com enfoques diversos mas complementares, perspectivaram a extrema importância dos nossos recursos genéticos vegetais numa perspectiva da segurança alimentar das gerações futuras.

O Banco Português de Germoplasma Vegetal, integrado hoje no INIAV e localizado em Merelim- Braga, tem uma designação que, temos de reconhecer, assusta a maior parte de nós. É um nome, diríamos, demasiado hermético para designar o que é na realidade e que qualquer um tem facilidade de perceber a importância:

DIriamos antes que é sim uma imensa Arca de Sementes que conserva o essencial das espécies que os nossos agricultores utilizam para produzir os alimentos que consumimos: Os cereais, as leguminosas, as hortícolas, e tantas outras espécies nas suas inúmeras variedades regionais que ao longo dos séculos foram sendo seleccionadas pelos nossos antepassados. É, portanto uma Arca de Noé. De sementes Portuguesas. Que garante que o essencial desse valioso património colectivo é guardado e passado às gerações futuras. Só isso e já é imenso!

Atenção: Não é uma loja de sementes nem disponibiliza sementes a coleccionadores e interessados! A sua missão é simplesmente preservar!

Esta Arca de Noé, iniciada em 1976 pela prof. Renna Farias - uma cidadã brasileira que, tivemos nós essa sorte, dedicou a energia da sua vida a construí-la para nós, e hoje continuada pela Eng. Ana Barata - que, mais não fosse pelo facto de também ser mulher, nos garante que a sua missão de guardar a agro-biodiversidade continua em boas mãos guardiãs. Está entre os mais de 1700 que existem pelo mundo e destaca-se, pela quantidade e diversidade de sementes guardadas, no grupo dos 170 mais importantes, conforme reconheceu a FAO em 2016.

Dos diferentes painéis e oradores, gostaríamos de destacar, cometendo a injustiça de não referenciar muitos outros igualmente relevantes,  a apresentação da Investigadora e professora Dulce Freitas que muito recentemente viu o seu projecto de investigação sobre a introdução das sementes na Península Ibérica ser seleccionado pelo Conselho Europeu para a Investigação (AQUI) E que nos próximos anos irá estudar como se processou,  a partir da Ibéria de meados do século XVIII, a introdução das espécies oriundas dos novos mundos descobertos, revolucionando a alimentação e proporcionaram o crescimento populacional sem precedentes que a partir daí toda a Europa alcançou.

Nota final - Talvez mais subtilmente do que o desejado, este texto pretende também ser uma desenvergonhada homenagem às mulheres que individualmente e no seu todo, em Portugal e em tantos, tantos outros sítios do mundo, chamam a si a tarefa de guardar as sementes para o Futuro. Fecundas como a terra que semeiam são e serão sempre a única terra de onde poderá, um dia, brotar alguma coisa! E é tanto assim e está de tal forma enraízado no nosso sub-consciente, que, enquanto esta missão tiver nome de Banco a cobrir a sua evidente natureza materna, dificilmente alguma vez será compreendido e apreendido à primeira pela maior parte de nós!