quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Catálogo Geral Sementes Autóctones - 2015-2016



Novo catálogo aqui:https://drive.google.com/file/d/0B9sKCKBDDsItWTg0VVQ3YmNfNzg/view?usp=sharing

E pelo terceiro ano, publicamos o novo catálogo geral de sementes da flora autóctone portuguesa! Pela primeira vez conseguimos publicá-lo na altura em que consideramos que um catálogo de sementes deve ser publicado: no início do Outono, a melhor estação para por as mão na terra e experimentar germinar sementes.

Face ao do ano passado, o catálogo deste ano regista um incremento significativo do número de espécies autóctones cujas sementes conseguimos recolher, limpar e conservar. São 309 espécies organizadas em 5 categorias, das quais destacamos aos seguintes aspectos:

 - Um número mais significativo e representativo de arbustos e sub arbustos;
 - A duplicação do número de espécies herbáceas, que passou de cerca de 90 para perto de 180;
 - A inclusão de uma nova categoria para as sementes de gramíneas, das quais contamos com cerca de 24 espécies.

Na elaboração do presente catálogo, o que é o mesmo que  dizer do nosso trabalho ao longo do último ano, foi nossa principal preocupação a de incluir mais sementes das espécies que de alguma forma pudessem ser alvo de procura individual, seja para fins ornamentais, paisagísticos, ambientais ou "hortícolas". 

Como seria de esperar não é ainda o catálogo "perfeito" que gostaríamos de poder publicar! Mas ficámos mais próximos: das cerca de 4000 espécies que compõem a flora autóctone portuguesa estamos perto dos 10% que na nossa perspectiva podem e devem ser por nós utilizadas de forma mais generalizada.

Como é claro também, não estamos a publicar um catálogo destinado ao grande-consumo. Mas bastará haver uma única pessoa interessada nas sementes de uma dada espécie recolhida para já ficarmos satisfeitos pelo facto de a termos incluído!

Terminamos com duas referências da maior importância. A primeira, de agradecimento a todos aqueles que nos têm ajudado a trazer á luz do dia este projecto. A segunda, de apelo ao feed-back que qualquer um considere relevante enviar-nos. Todos os comentários, sugestões e criticas, são bem vindos. E essenciais para nós.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Equinócio de Outono: Chegou o tempo de semear



Contrariamente ao que normalmente costumamos pensar, nem sempre as mudanças de estação são aos dia 21. Este ano, e de acordo com o Observatório astronómico de Lisboa, o equinócio de Outono ocorrerá amanhã, dia 23, pelas 9.20. 

Nesse momento, pelo menos em termos de percepção, a duração do dia igualará a da noite, isto é,  ambos terão 12 horas cada um. De assinalar que os dias já vêm a decrescer desde o solstício de Verão, em Junho passado, e assim continuarão até ao próximo dia 22 de Dezembro.

É pois a altura perfeita para recomeçar um novo ciclo, algo que para nós, centrados nas sementes, assume um significado ainda mais especial. É durante os próximos dois meses que se conjugam as condições perfeitas para semear e transplantar para os lugares definitivos a maior parte das nossas espécies.

Muito em breve partilharemos o nosso catálogo geral de sementes 2015-2016 onde contamos disponibilizar um numero ainda mais significativo das espécies mais emblemáticas da nossa flora autóctone e assilvestrada. Até lá, mudamos as roupas para os dias de luz coada e desejamos a todos os votos de um bom reinício de ciclo!


sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Plantas e flores do fim do mundo


Vai-se a Sagres e ao Cabo de S. Vicente e, mesmo que não se tenha ali ido com essa intenção, percebe-se que se está em peregrinação. 

Muitos vão lá hoje porque algures no tempo nos coube o mérito de transformar aquele ponto de chegada num incrível ponto de partida. Mas, apesar disso, Sagres e o Cabo de S. Vicente serão sempre um ponto de chegada. Um fim-do-mundo. 

Um dos muitos fins-do-mundo que existem pelo mundo e que há milénios nós escolhemos para nos relacionarmos com o invisível. Os promontórios, os abismos em que a terra acaba, um mar que nao tem fim à vista e percebemos logo que aquela terra não pode ser só nossa. Apenas nos coube em sorte o privilégio de a administrar. Todos os que andam pelo seu pé, pelo menos uma vez na vida, têm o direito de também ali chegar.

Porém, Sagres e o cabo de S. vicente não são só especiais pela sua particular geografia de serem os pontos mais a Sudoeste da Europa. Os Habitats diversos, de sapais, falésias, rios, dunas, matagais e bosques mediterrânicos da costa vicentina fazem desta região um património único que se pode gabar de albergar o número mais significativo de endemismos exclusivos como o Cistus ladanifer subsp sulcatus ou  o Teucrium vicentinum, para citar apenas alguns exemplos.

Mas os endemismos são apenas a cereja no topo-do-bolo para quem visita este territorio. A multiplicidade de paisagens naturais e humanizadas; as perto de 1000 espécies que aqui ocorrem e o facto reconhecido de esta ser uma das linhas de costa mais bem preservadas da Europa, fazem desta região de Portugal um spot incontornável a visitar e usufruir sempre que se puder.

Claro que se pode sempre deambular sem um roteiro prévio e simplesmente absorver o muito que os sentidos têm para captar, mas se levarmos algumas ajudas é garantido o benefício. O livro 200 Plantas do SW Alentejano& Costa Vicentina, lançado esta Primavera e resultado da iniciativa das guias de Natureza Ana Simões e Ana Cabrita, é uma dessas ajudas. 

São 200 plantas, das mais de 1000 que ali ocorrem, e que são o degrau que faltava para que leigos e curiosos, simples amantes do que os rodeia, começem a descortinar uma parte do que observam. Só por isso, pela possibilidade nos ajudar a dar nomes ás coisas, já vale a pena ter este guia! 

O facto de ser resultado do esforço árduo de duas pessoas que não sendo botânicas de formação nao se negaram a aprofundar e partilhar o que sabiam, de todos os textos serem bilingues (português-Inglês), de ter um grafismo exemplar e de ser de muito fácil leitura, são simplesmente motivos adicionais para adquirir o guia! E que nos fazem desejar que esta iniciativa possa ser inspiradora noutras regiões do país!


terça-feira, 8 de setembro de 2015

Flores no fim do Verão

cardo-do-visco -  Atractylis gummifera

A propósito de uma visita a Sagres e ao cabo de S. Vicente, escrevemos hoje sobre duas plantas que, aparentemente sem razões plausíveis, têm o estranho hábito de florir por esta altura. Não que sejam especialmente raras, que não são, pois encontram-se disseminadas um pouco por todo o território centro e sul de Portugal, mas foi ali, na Costa Vicentina, que acabámos de as ver. Sinal pois de que é o momento certo para partilhar o que já há algum tempo andávamos para escrever.

Apesar de relativamente vulgares a verdade é que a maioria de nós nem dá por elas. Por distracção, porque apesar de tudo são facilmente notadas. Quer o cardo-do-visco (Atractylis gummifera) quer a cebola-albarrã (Urginea maritima) são plantas cuja flores, de inegável beleza, têm o mau feitio de se fazerem em contra-ciclo. Quando quase tudo o resto passou a maior parte dos últimos três meses a amadurecer sementes e, se possivel a tentar chegar vivo a um novo ciclo, estas estiveram recolhidas no solo, escondendo todos os sinais de vida da superfice. Para elas, o momento certo para se revelarem é mesmo nos últimos minutos do filme.

Perante tal incompreensibilidade há mesmo quem chegue a desconfiar da atitude, enventualmente um pouco trocista, face á miséria generalizada em seu redor. Dcidir florir nesta altura ...quase que parece de novo-rico.... Há tambem quem lhes anteveja o papel melancólico, próximo do das populares sul-africanas acucenas. de terem a seu cargo a  tarefa odiosa de anunciarem aos humanos a enorme desgraça que é o fim do Verão e o consequente início da descida ao Inverno. 

Para nós porém, que não somos antropocentricos, a  missão destas florações a destempo são tão só e apenas uma. São o alento para que as inumeras espécies vizinhas, que penam há meses à chapa do sol, não desistam. Incitam-nas a não desesperarem e que dêm tudo por tudo nesta recta final da maratona. Mais alguns dias apenas e chegarão com vida ás primeiras chuvas que aí vêm. São, se quisermos, na popular linguagem de gestão, flores motivacionais e, como tal,  fundamentais para um jardim que se quer a trabalhar em equipa,

Estas evidências tornam pois a sua presença ainda mais incontornável e pertinente num jardim. Tê-las é ter a segurança de um marcador preciso e infalível  que nos avisa, subtil e sem uso de alarmes ruidosos , que vem aí um novo tempo. O tempo de recomeçar. 

Ou, dito de outra forma, que se arrume o que eventualmente se colheu, e que se preparem as sementes do que se quer ver florir na Primavera de 2016. Todos os elementos, o Sol, as chuvas, os planetas estão todos a dar os passos necessários para a sincronização geral apurada ao longo de milhões de anos.

Não há dúvidas. Nesta latitude, tudo se compõe para começar em breve um novo ciclo!

cebola-albarrã - Urginea maritima