domingo, 21 de junho de 2020

Solstício de Verão

Desde as 22h.44m de ontem, dia 20 de Junho, que estamos oficialmente no Verão!

Para a maior parte de nós começou a melhor altura de ir à praia, passear e descansar. Porém, sendo certo que também o é, o Verão é sobretudo o tempo para colher o que se semeou desde o Outono! Daí que nos próximos 3 meses o enfoque das nossas energias estará em colher as sementes das espécies mais emblemáticas da nossa flora e que todos poderemos semear a partir de Outubro!

De qualquer das formas não se pense que agora a Natureza apenas tem sementes para colher! Os seus ritmos apurados não permitem "colocar todos os ovos no mesmo cesto" e continuará a ser possível usufruir da beleza das muitas espécies que se foram programando para florir no Verão. Serão em menor numero sim, mas existem! Seja nas zonas litorais da costa marítima, seja nas zonas húmidas, há espécies incríveis que prolongarão a Primavera até ao final de Agosto!

Mas se a tónica dominante do Verão é a de colher, convém não ignorar que há em todas elas tempo para Semear, Descansar,Celebrar e Colher. O que muda apenas é o enfoque!

A todos os que nos seguem os votos de um bom Verão. Se não a Colher, a Descansar ou a Usufruir. E sobretudo a preparar o que se quererá Semear, daqui a cerca de 3 meses, no início do próximo ciclo!
Nota: Há um ano atrás publicamos no nosso blogue um texto a propósito do solstício de Verão que no essencial resume o que para nós significa o Verão. AQUI.

domingo, 14 de junho de 2020

A oportunidade das Limpezas Florestais


Nos últimos anos e sobretudo desde os grandes incêndios de Pedrogão Grande em 16 Junho de 2017 - fazem agora 3 anos!, as leis de limpeza de espaços florestais, com regras nem sempre fáceis de compreender, têm colocado uma pressão adicional sobre pequenos proprietários que, em prazos apertados, com custos significativos e sob pena de multas pesadas, são forçados a realizar trabalhos de limpeza de muita duvidosa necessidade e com claros prejuízos em matéria de biodiversidade.

É claro que se o bom-senso fosse generalizado não seriam necessárias leis, mas ainda assim há alguns aspectos que, no espírito da lei em vigor, poderão ser tidos em linha de conta tornando o seu cumprimento menos gravoso ponto de vista ambiental e até mesmo uma oportunidade de valorização de outras espécies autóctones que  ocorrem espontaneamente nas parcelas a limpar.

Esses aspectos são, de forma resumida, os seguintes:

 - O espírito da lei pretende acima de tudo uma redução significativa da matéria combustível. Isto é, não é necessário destroçar de forma generalizada tudo excepto árvores adultas! Além destas há um sem numero de arbustos, sub-arbustos e árvores juvenis que, além de pouco combustíveis, são um importante suporte para inúmeras formas de vida. Medronheiros, adernos, pilriteiros, carrascos, folhados são, entre muitas outras espécies, alguns exemplos. Preservá-las através de uma limpeza selectiva não representa custos acrescidos e os benefícios são visíveis.
 - Apesar do limite para a realização de trabalhos de limpeza coincidir com a Primavera (este ano prolongado até ao fim de Maio, devido aos impactos do vírus COVID-19), estes trabalhos não têm de ser efectuados em plena Primavera. Pelo contrário! A Primavera é a época de floração da grande maioria das plantas e de procriação da maior parte dos seres vivos, pelo que perturbar o seu habitat nesta estação é prejudicar irremediavelmente a biodiversidade. Na nossa perspectiva, a  melhor altura para executar estes trabalhos é, se for possível, de Setembro a Janeiro.

 - Reduzir a matéria combustível, na grande maioria dos casos, alcança-se reduzindo apenas as espécies mais abundantes e de crescimento mais vigoroso. Em regra e quase sempre, consoante as regiões, urzes, fetos, tojos, silvas e estevas. E dizemos "reduzir" em vez de eliminar porque não faz sentido pretender erradicar estas espécies. Além de ser um esforço inglório, ela desempenham um importante papel pelo que podem ser deixadas pequenas manchas a serem geridas, de forma alternada, ao longo dos anos.

 - Por fim, as acções de limpeza florestal são uma excelente oportunidade para criar bosques por regeneração natural, sem necessidade de plantar ou semear árvores que, na maioria dos casos, sao provenientes de outras regiões. A grande maioria dos povoamentos de pinheiro ou eucalipto existentes foram efectuados ao longo do século XX. Porém, ao contrário do que hoje acontece, os métodos de plantação não aniquilaram as espécies pré-existentes como carvalhos ou sobreiros. As suas raízes permanecem vivas e só esperam uma oportunidade para rebentar a partir da "toiça". Estas, a que se somam as foram semeadas pelas aves - gaios, por exemplo, são quase sempre mais do que suficientes para iniciar uma renaturalização bem sucedida. Mais do que semear ou plantar novas árvores, o importante é realizar uma limpeza selectiva que salvaguarde as já existentes!

Terminamos por fim com um pequeno video ilustrativo de uma limpeza florestal que tivemos a oportunidade de influenciar recentemente e que, de acordo com as linhas acima descritas, permitiram alcançar resultados muito mais mais equilibrados.

Trata-se de uma pequena parcela, na região de Leiria -Batalha, a Oeste da maciço calcário estremenho (Serra de Aire e Candeiros), cujo povoamento original de Carvalhos-cerquinhos (Quercus faginea broteroi) e sobreiros (Quercus suber) foi, ao longo das últimas décadas substituído por pinheiros e eucaliptos. 

A limpeza agora efectuada, apesar de não ter sido realizada na melhor altura(início de Junho), pretende no médio e longo prazo voltar a dar a primazia aos carvalhos e e sobreiros. Mas sem radicalismos. Neste processo foi efectuado um desbaste de eucaliptos e pinheiros e os que se deixaram, além de futuramente produzirem madeira, ajudarão na protecção das outras espécies ainda juvenis como é o caso, para além dos carvalhos e sobreiros, dos folhados, zambujeiros e pilriteiros.

As pilhas/amontoados de ramos e folhas, dispostos de acordo com as curvas de nível, irão decompor-se ao longo do tempo. Além de incorporarem matéria orgânica no solo, ajudarão a reter água e servirão de abrigo a repteis e pequenos mamíferos.

No final as espécies preservadas permitirão que dentro de alguns anos surja nesta parcela o que será um bosque mais resiliente e com um risco de incêndio bastante menor!



sexta-feira, 5 de junho de 2020

Dia Mundial do Ambiente ?

Dia 5 de Junho - Dia Mundial do Ambiente. Depois do dia da Árvore em 21 de Março, do Dia da Terra a 22 de Abril, do Dia internacional do fascínio das Plantas em 18 de Maio; do Dia da Abelha a 20 de Maio e do Dia da biodiversidade a 22 de Maio, as festividades de hoje encerram por este ano o circuito de celebrações para sossego das consciências. Os media, o governo, escolas e um sem numero de organizações ,celebrarão com bonitos logotipos e muitas acções de sensibilização o Dia Mundial do Ambiente. 

Mas equanto isso acontece, nós, portugueses, tratamos assim a Terra em que vivemos para fazer renascer um eucaliptal em fim de vida na região Oeste. Com uma receita simples: retiram-se todos os cepos, hoje carcaças esgotadas por diversos cortes em 30 anos de produção; lavra-se e draga-se com maquinaria pesada; destroi-se qualquer forma de vida que possa existir e afecta-se profunda e irremediavelmente a estrutura do solo. fazem-se ainda uns socalcos para melhor gerir e espetam-se eucaliptos. E aí teremos, uma nova "floresta sustentável", possivelmente "certificada" e que, provavelmente, até ganhará prémios europeus de exemplar sustentabilidade livre de incêndios!

Só que isto não é floresta! Aliás Isto nem monocultura chega a ser!

Isto a ser alguma coisa é mineração a céu aberto de papel higiénico, indústria onde Portugal decidiu ser líder mundial. É evidente que ali - uma ZIF- Zona de Intervenção Florestal que poderia ter os sobreiros mais produtivos do país, nunca existirão fogos porque tudo está morto. Nem fogos nem nada. nem uma erva nem um pássaro ou um rato. Apenas a morte.

Excepto os pobres eucaliptos que nos próximos 30 anos terão de parir pasta de papel à força, dê por onde der.

Nota -As sementes de Portugal são uma micro empresa exclusivamente dependente dos clientes que lhe adquirem sementes de flora silvestre! Por varias razões, explicáveis e inexplicáveis, no nosso país considera-se que uma empresa deve ser apolitica, exclusivamente focada nas vendas e lucros, devendo abster-se da politica e ter uma comunicação de responsabilidade social o mais assexuada possivel para que ninguém se melindre. Não é o nosso caso. Qualquer coisa que exista a pulsar neste planeta, mesmo sendo abstracta como o é uma empresa,faz politica diariamente na sua actividade. E não é somente quando paga impostos ou Segurança Social ou as taxas devidas, com a regularidade exigida, como é o nosso caso mesmo em tempo de COVID19. Tem também a obrigaçao moral de, na sua área e nas conexas, não ser indiferente ao que a rodeia.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Três espécies que merecem um lugar em qualquer jardim




Há 30 dias atrás assinalávamos o inicio do mês mais glorioso da nossa Primavera - Maio - e hoje assinalamos o seu fim com 3 espécies altamente ornamentais, mas que incompreensivelmente ainda hoje são pouco utilizadas na nossa jardinagem. E Injustamente. 

As 3 espécies pertencem todas à grande família das Apiáceas (o nome API indicia o quanto apreciadas são pelas Abelhas e da qual, só em Portugal , ocorrem cerca de 100 espécies distribuídas por 40 géneros diferentes) e todas alcançam um porte considerável, sendo possível encontrá-las um pouco por todo o pais. 

Na foto, em baixo da esquerda para a direita, o Canabrás (Heracleum sphondylium) o primeiro a florir em Março; o Turbit-da-terra (Thapsia villosa) que tem o seu auge de floração em Abril -Maio e a Canafrecha (Ferula communis), a mais alta das nossas espécies herbáceas (pode atingir 3 metros de altura!), e que tem em Maio-Junho o seu período de glória. 

Todas elas, além de estéticas e atractivas para as abelhas, partilham uma outra boa característica: são perenes vivazes. Isto é, só aparentemente é que morrem com a chegada do Verão. Para sobreviverem aos 3 meses de calor intenso que agora se seguem as suas raízes entram em dormência para renascerem com as primeiras chuvas do Outono. 

Ao longo dos últimos 6 anos fomos partilhando vários posts sobre esta família, onde se incluem as cenouras-bravas e o funcho, mas também espécies venenosas como a Cicuta! 

Para quem quiser aprofundar é só consultar a pasta das Apiaceas: http://sementesdeportugal.blogspot.com/search/label/Apiaceae