domingo, 30 de março de 2014

Scila Peruviana

Scilla Peruviana

Se fossemos a olhar apenas para o seu nome, esta era uma das plantas que não só pensaríamos não ser nossa como possivelmente não consideraríamos merecedora de atenção. Mas os nomes por vezes enganam e este é a prova de que por vezes é preciso ver com os nossos próprios olhos.

Nativa do sul de Portugal, em especial do Algarve onde é possível vê-la em maior abundância, a Scilla peruviana, também conhecida por cebola-albarrã-do-Peru, é uma planta bolbosa que à semelhança de outros géneros da família das Asparagaceae, possui uma cebola ou alho que lhe garante os recursos para a sua sobrevivência nos períodos de Verão. Em regras as primeiras folhas aparecem no fim do Inverno e as inflorescências ainda no mês de Março prolongando-se até meados de Maio.

Tendo preferência por solos com alguma humidade e calcários, o facto é que se dá perfeitamente noutros tipos de solo podendo por isso ser uma escolha a considerar em quase todos os jardins. Ao contrário do que pensávamos, e como podemos constatar nos testes de germinação que efectuámos, as suas sementes germinam muito facilmente e resolvem um dos problemas que esta espécie enfrenta em estado selvagem - a colheita desregrada das suas cebolas.

Para finalizar uma pequena nota sobre a "estranha" designação cientifica desta planta originária dos países do sudoeste da Europa (Itália, França, Espanha e Portugal) e norte de África. Com efeito, de acordo com algumas fontes, estas Scillas existem no Peru por terem aí terem  sido introduzidas aquando da sua colonização. É possível que se tenha disseminado de forma generosa pelos territórios deste país dos Andes, mas tal não conseguimos confirmar com certeza. 

Para outros, a origem do erro tem uma explicação mais peculiar. Quando Lineu empreendeu o trabalho de descrever e dar nomes cientificos, a desta planta "apareceu-lhe" num lote oriundo de Espanha que aí tinha chegado a bordo de um navio denominado Peru. Daí a Peruviana foi um passo e como em matéria de classificação uma vez baptizada uma espécie, se segue a opção de não lhe modificar o nome, assim ficou baptizada induzindo-nos a pensar que é uma planta originária de um outro país que não o nosso.

De qualquer das formas, se está explicada a origem do erro, menos compreensível é, conforme refere Francisco Clamote do blogue  O botanico aprendiz na terra dos espantos, aqui, que o seu nome vulgar continue a basear-se no equívoco cebola-albarrã-do-Perú. Até porque, para os ingleses por exemplo, esta é vulgarmente conhecida por ...Scila Portuguesa!

sexta-feira, 28 de março de 2014

Pascoinhas



Dos muitos tons de amarelo que enchem os campos do centro litoral na Primavera há um que pela sua profusão chama a nossa atenção - o das Pascoinhas. Este arbusto, também da famílias das Fabaceae, denominado cientificamente de Coronilla glauca, deve o seu nome popular a razões óbvias por apresentar o seu período de máxima floração por alturas da Páscoa. E a deste ano é já daqui a pouco mais de 3 semanas!

O seu interesse ornamental resulta da conjugação de dois aspectos. Não só é um arbusto que não cresce desmedidamente - 1,5 metro de altura, como se reveste generosa e persistentemente até Junho de flores. Daí que seja hoje cada vez mais vulgar ver estes arbustos em jardins e parques públicos.

Isoladas ou em sebes as Pascoínhas garantem um jardim florido com muito poucas exigências, sobretudo no que se refere a água e adubações. Naturalmente habituada a solos calcários adapta-se bem a outros tipos de solos (uma vez mais desde que não sejam ácidos ou encharcados). A germinação das suas sementes não apresenta cuidados de maior e a uma temperatura de 16º a 20º com humidade e luz q.b. é quase certa!

Para terminar deixamos-vos um link para o Dias com Àrvores, um blogue que já escreveu quase tudo o que havia para escrever e que consultamos (e copiamos!!) regularmente antes de publicar algum disparate. Além do texto, as fotos são bem ilustrativas do interesse ornamental deste arbusto.

domingo, 23 de março de 2014

Alfavaca-dos-montes ou Garbanzo del Diablo



A Alfavaca-dos-montes ou Erophaca baetica, comum no centro e sul do país é uma das plantas que facilmente passa despercebida no meio de florações mais vistosas, porém se dedicarmos alguma atenção quer ao seu porte quer às suas flores facilmente percebemos a sua mais valia ornamental.

Da família das leguminosas, denominada Fabaceae e que alberga inúmeros géneros desde herbáceas a árvores de grande porte, é uma planta habituada a solos secos e expostos. Além das suas flores, das primeiras a aparecer antes do inicio da primavera e que se prolongam até Maio, destacam-se as suas folhas compostas e as vagens das suas sementes, muito parecidas com as das favas o que, aliás, deve estar na origem do seu nome popular.

Fácil de germinar tem ainda a vantagem de ser uma planta vivaz. Após o Verão, em que a sua parte aérea quase desaparece, renasce miraculosamente no Outono/Inverno seguinte proporcionando um apontamento verde quando tudo o resto está no seu período de dormência. Com as condições certas - isto é desde que os solos não sejam excessivamente húmidos, ácidos ou sombrios, é quase certo que alcance uma forma arbustiva a chegar aos 60-70 centímetros de altura.

De referir por fim que esta planta tem outros sinónimos quer populares quer científicos. Alfavaca- silvestre e Astragalus  lusitanicus são sinónimos pelos quais também é conhecida.

Nota - Conforme nos refere Fernanda Nascimento no seu blogue plantas e flores do Areal (aqui) tudo indica que esta é uma planta tóxica que era evitada pelos pastores por provocar a morte dos animais. Talvez por isso em Espanha seja popularmente conhecida como Garbanzo del Diablo! Não sabendo nós os efeitos nos humanos o preferível é mesmo não arriscar e não tentar ingerir as suas sementes!

sexta-feira, 21 de março de 2014

Boas-vindas à Primavera e uma nova imagem


Hoje, dia em que marcamos o inicio da Primavera e em que celebramos o Dia da Árvore, o Dia mundial da Floresta e o Dia mundial da Poesia, gostaríamos de partilhar com todos vós a nossa nova imagem.

Desenvolvida pela dupla de criativos Lina&Nando, do Porto, foi, entre as diversas possibilidades que considerámos aquele com que desde logo nos identificámos. Esperemos que gostem dela tanto quanto nós e que sempre que a virem facilmente a associem ao nosso projecto de valorização das nossas espécies autóctones e das suas sementes.


Ao Luís e à Carolina o nosso obrigado e a todos vós os votos de bom início de Primavera!

quarta-feira, 19 de março de 2014

Sargaçinha

Halimium calycinum

Agora, em que só oficialmente ainda não é Primavera, são inúmeros os arbustos que já se cobrem de flores. Desses, um dos mais interessantes pela floração abundante é o Halimium calycinum, ou sargacinha como também é conhecido popularmente.

Tendo por referência a sargaça, de que aqui também já vos falámos, também é uma cistácia do género halimium, sendo porém um arbusto de menores dimensões cuja altura pode chegar aos 50-60 cm. As suas folhas fazem lembrar as do alecrim embora não sejam aromáticas. Mas, como diziamos, o seu maior interesse é mesmo  o que decorre da intensa floração que oferece. De Fevereiro até Maio-Junho as suas flores são renovadas diariamente o que lhe confere bastantes possibilidades ornamentais.

Habita normalmente junto às nossas orlas costeiras em dunas estabilizadas ou matos baixos, pelo que pode ser utilizada facilmente como arbusto ornamental em solos mais arenosos e com pouca água!

segunda-feira, 3 de março de 2014

Arruda


No segundo dia de festejos de Carnaval, tradição com origens remotas na antiguidade clássica e nos ritos pagãos de celebração do fim do Inverno e início da Primavera, colocamos hoje a nossa atenção numa planta com igual e longa carga simbólica, a arruda.

Também conhecida popularmente como erva-da-inveja ou erva-das-bruxas, eram-lhe usualmente atribuídos  poderes especiais para afastar o mau-olhado e a inveja, razão pela qual ainda hoje é possível encontrá-la à porta de muitas casas nas aldeias deste país.

Eficaz ou não contra os maus espíritos, o facto é que o cheiro intenso das suas folhas - agradável para uns, insuportável para outros, não deixou os homens indiferentes que nele advinharam qualidades medicinais. Na Grécia antiga, por exemplo, era utilizada para afastar doenças contagiosas.

Para além das inúmeras aplicações medicinais - no tratamento de doenças várias, sempre a realizar com cuidados considerada a sua toxicidade, são de relevar as suas características enquanto planta sub-arbustiva.

Parta além da Ruta graveolens, que normalmente se encontra à venda, existem em Portugal de forma espontânea quatro espécies das quais as mais frequentes  e que possuímos no nosso catálogo são a Ruta montana e a Ruta chalepensis. À parte algumas diferenças, nomeadamente no porte e no recorte das suas folhas, ambas as espécies possuem folhas de cor verde azulada e estão bem adaptadas a diferentes tipos de solos desde que não sejam ácidos ou alagados, suportando bem a secura do verão.

Por fim, e se todas as razões acima não fossem já suficientes para ter uma arruda no jardim, juntamos o seu interesse ecológico. Por um lado pode ser utilizada como planta repelente de pulgas e formigas e, por outro como chamariz de borboletas, nomeadamente de uma das borboletas mais bonitas que temos por cá, a cauda de andorinha (Papilio machaon) cujas lagartas, de cores igualmente elaboradas, têm nas folhas da arruda um dos seus alimentos favoritos.