quinta-feira, 29 de maio de 2014

Dia da espiga

Papaver rhoeas

Aproveitamos hoje a oportunidade para relembrar a celebração do dia da espiga e com isso uma das flores do campo mais emblemáticas que habitam as nossas memórias e que fazem parte de uma espiga composta a preceito.

Este dia, que outrora era celebrado extensivamente por todo o país, e que ainda assim se mantém em algumas zonas da nossa província, coincide com a quinta-feira da ascensão - um dia feriado religioso  móvel que celebra, 40 dias depois da Páscoa, a ascensão de Jesus aos céus. Porém é de acreditar que a tradição de sair aos campos e formar uma espiga com ramos de diversas plantas e flores, tem as suas raízes mais profundas nas tradições pagãs das comunidades agrícolas de todo o mediterrâneo que neste dia celebravam intensamente a sua conexão à natureza e à terra.

Independentemente da origem, a tradição consistia (e consiste) em neste dia sair pelos campos entre a 12 e as 13 horas e colher uma espiga formada por ramos das seguintes plantas: malmequeres, folhas de videira, alecrim, oliveira, espigas de cereais e, claro está, papoilas. Cada uma destas plantas/flores tinha uma simbologia particular, cabendo às papoilas o significado de amor e vida.

 Uma vez colhida a "espiga" a mesma era pendurada pelas pessoas como amuleto nas paredes da cozinha ou da sala onde deveria permanecer durante todo o ano por forma a atrair abundância, saúde e sorte.

O dia era de tal forma sagrado  e importante que em muitas regiões havia o preceito de não trabalhar para participar activamente nos festejos religiosos. A expressão "No dia da Ascensão nem os passarinhos bolem nos ninhos" é disso um reflexo.

Mas se as tradições têm caído em desuso também não é menos verdade que no que respeita às papoilas também se assiste ao se rareamento. Outrora imagem de marca de muitas searas do sul do país são hoje cada vez mais raros esse campos tingidos de vermelho. E muito por culpa dos novos herbicidas selectivos que se encarregam de eliminar todas as plantas excepto os cereais em produção. 

Daí que hoje as papoilas estejam cada vez mais confinadas a algumas bermas de estrada. Embora sejam cada vez mais utilizadas em misturas de sementes para prados floridos. A papoila é uma planta herbacea anual que uma vez semeada se propaga nos anos seguintes pelas sementes que produz.

Uma nota final por fim para o valor alimentar das suas pétalas, as quais são comestíveis podenso ser utilizadas em saladas.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Erva Besteira



É conhecida a nossa predilecção pela flora dos ambientes básicos das serras calcárias de Portugal. Com maior ou menor facilidade uma boa parte de nós repara nas árvores, arbustos ou plantas de maiores dimensões ou com povoamentos mais generalizados, mas poucos reparam em algumas "preciosidades" que por serem menos abundantes passam despercebidas.

Uma dessas plantas pelas quais nutrimos especial simpatia - ao ponto de ser para nós incompreensível porque é que nao são mais utilizadas em jardinagem, está a popularmente conhecida por Erva-besteira ou, cientificamente falando, a Helleborus foetidus.

Discreta a maior parte do ano,ainda que as suas folhas também nao sejam de desconsiderar, é na primavera que esta planta revela a sua sofisticação quando lança as suas hastes florais de cor verde clara. É uma planta que em regra de pequeno porte, perene e vivaz que no periodo de Verão tem o seu período de dormência. Abaixo deixamos um detalhe das suas "vagens" a lembrar "chocalhos" que são igualmente estéticas, pois por esta altura do ano as suas sementes já estão na sua fase final de amadurecimento. 

Dois apontamentos ainda para outros dois aspectos: 

1) Apesar de se encontrar com facilidade nas zonas calcárias do centro do país, a sua distribuição alarga-se por outros tipos de solos, eventualmente mais frescos e ácidos como testemunha o mapa de distribuição da flora-on (aqui) e o Rafael Carvalho no seu blogue jardim autóctone.

2) Ao que tudo indica trata-se de uma planta com alguma toxicidade para os animais. Isso e um cheiro tenuamente desagradável se esmagarmos as suas folhas, valeram-lhe  o epíteto de fétido no nome. O que é discutível como bem escreveu há cerca de dois anos, no seu estilo inconfundível, o Paulo Araújo nest post cuja leitura recomendamos. Aqui.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Um trevo vermelho!?

Hedysarum coronarium

A primeira vez que nos deparámos com esta planta foi num dos muitos passeios que a Cristina Reboleira organiza pela zona oeste - acrescente-se, autora de um dos blogues de flora silvestre que seguimos, as minhas plantas, e a quem a génese deste projecto muito deve.

Inicialmente julgava que estava perante uma descoberta botânica na qual era o primeiro a reparar: um trevo vermelho!! Mas a Cristina refreou os ânimos. Ainda não era desta que iria latinizar o meu nome baptizando uma planta. Na realidade nem é uma herbácea nossa, mas sim trazida de outras paragens, acredita-se, por pescadores da zona Oeste. Daí que entre Peniche e S. Martinho do Porto seja possível encontrá-la em prados cobertos de vermelho onde é conhecida pela população como Sula.

A Sula, ou Hedysarum coronarium, é uma planta herbácea perene originária de países mediterrânicos como Malta, Itália, Argélia, Tunísia e Marrocos. O facto de aí ser utilizada na alimentação de animais motivou a sua vinda pois as populações locais recorrem a ela para alimentar animais domésticos.

É certo que não é uma espécie autóctone nossa mas para ela abrimos aqui uma excepção. Até porque se assilvestrou sem se tornar uma invasora. Não só é útil como forragem como apresenta três vantagens inequívocas: É muito resistente à seca; permite colorir na Primavera um pedaço do jardim com uma cor que não é muito frequente na nossa flora (imagine-se a par, por exemplo, da tremoçilha!) e é uma planta melifera: as suas flores perfumadas possuem bastante néctar  do agrado das abelhas. Aliás, nas paragens de onde é originária tem também o nome vulgar de madressilva francesa!

Mais haveria para falar desta planta que é claramente ornamental. Mas para não corrermos o risco de alguém pensar que é mais uma bizarria nossa, deixamos um link para um artigo da secção de jardinagem do Daily Telegraph. Que começa por escrever assim: Uma vez vista nunca se esquece! E é verdade. O artigo debruça-se sobre como a utilizar em jardinagem e inclui dicas de sementeira e composição. Aquihttp://www.telegraph.co.uk/gardening/howtogrow/3321418/How-to-grow-French-honeysuckle.html.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Estorno




A propósito da nossa última saída de campo pelo litoral da costa oeste, colocamos hoje a nossa atenção numa das espécies mais emblemáticas das nossas dunas, a Ammophila arenaria, também conhecida por estorno.

Esta planta, que é das primeiras a colonizar as dunas primárias formadas pela acção do vento, contribui com as suas raízes para a estabilização das areias e com isso para a fixação de outras espécies pioneiras.

Frequentemente confundida com os juncos, esta espécie pertence todavia à família das gramineas (gramineae ou Poaceae), uma das mais extensas do reino vegetal e que inclui inúmeras espécies domesticadas pelo homem para a sua alimentação como o trigo, o milho ou o arroz. Sendo sem dúvida a família do reino vegetal com maior importância económica não é também de estranhar que sejam as gramíneas a ocupar a maior área da superfície terrestre: cerca de 20%.

À parte estes factos é de referir que o uso ornamental das gramineas é em Portugal cada vez mais frequente, acompanhando as tendências paisagísticas que se observam noutros países europeus. Das diversas espécies nativas do nosso país com características e potencial ornamental, a que hoje evidenciamos destaca-se pela sua enorme resistência a solos pobres e áridos. 

Apesar de estar perfeitamente adaptada a solos arenosos - o meio onde evoluiu, não rejeita ser colocada noutros tipos de solos, desde que não excessivamente pesados ou argilosos os quais impedem o o normal desenvolvimento do seu sistema radicular.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Azurea




 Anchusa azurea

Com uma foto descaradamente copiada do portal flora-on ( espero que quer a SPB quer o seu autor deixem passar o abuso), o post de hoje é sobre uma pequena preciosidade normalmente catalogada de "erva". 

Quem, como eu, for com atenção às bermas da estrada com certeza que já se deparou com ela. A tonalidade do seu azul-violeta não é vulgar e sobressai seja pela luminosidade seja pelo contraste que provoca ao aparecer no meio do verde de outras ervas e num lugar em que nunca imaginaríamos.

A Anchusa azurea, é uma herbácea perene vivaz, da familia das Boraginaceae, a mesma família da borragem e que em Portugal tem 15 géneros conforme se pode constatar aqui . Aparece normalmente "em bermas, baldios e em locais algo perturbados" e pode ser conhecida pelos nomes vulgares de buglossa, borragem-bastarda ou língua-de-vaca. Tudo nomes que não deixam antever a cor das suas flores. 

E se elas ficam fica bem num qualquer canteiro!

E ficam porque se nós não lhe damos muita atenção os ingleses, mais perspicazes, apuraram variedades para uso ornamental, como é exemplo a  variedade "Loddon Realista"que alcançou um prémio da Royal Horticultural Society.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Saída de campo - Lousã



Última saída de campo à serra da Lousã. Apesar da eucaliptização, em crescendo, e das enormes manchas de acácias, a Lousã proporciona ainda as condições para que algumas espécies de plantas se apresentem aí com boas populações.

E se não formos apenas com planos botânicos, preserva ainda alguns  espaços que merecem sempre uma visita como o castelo da Lousã e as aldeias de Xisto de que a Cerdeira e o Talasnal são bom exemplo de recuperação. Infelizmente e ao contrário do que muitas vezes as entidades oficiais querem fazer crer, a verdade é que a tão desejada dinamização da presença humana nestas paragens tarda em acontecer. E diga-se o que se disser, muito por culpa do padrão de florestação que ali, como em praticamente todo o antigo "Pinhal Interior", persiste nas monoculturas de Pinheiro, Eucalipto e eólicas. Enquanto assim for, poucos visitarão a Lousã a não ser de passagem.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Campos e bermas de tremoçilhas

Lupinus luteus e Lupinus angustifolius

Se há campos fotografados nesta altura do ano os de tremoços silvestres são desses. É claro que há outros dignos de postais como os de pampilhos amarelos de Trás-os-montes, os de papoilas do Alentejo ou os de Echium lilazes do Ribatejo, mas estes são dos que fazem parte do nosso imaginário.

Quando passamos por eles ficamos sempre intrigados a imaginar que planta será aquela de hastes floridas dispostas em andares  de forma regular e harmoniosa. A maior parte de nós nem desconfia que afinal se tratam dos parentes afastados da iguaria dos menos abonados que acompanhará muitas cervejas no Verão que se aproxima. O tremoço!

E se reparamos nos campos de tremoçilha, espontâneos ou propositadamente semeados, ficamos ainda mais surpreendidos quando descobrimos que afinal eles existem também noutras cores como o azul. Menos frequentes que os anteriores é possível no entanto depararmos-nos com eles. Os que conhecemos abundam sobretudo em Trás-os-Montes e no Alto Alentejo. A estrada Alpalhão-Castelo de Vide, além de uma alameda de freixos que promete ser daqui as uns anos ainda mais impressionante que a que liga hohe Castelo de vide a Marvão, é ladeada nas suas bermas e em toda a extensão com um consistente e abundante povoamento de tremoços azuis.

Claro que hoje já se encontram pacotes de misturas de sementes para prados floridos onde estes dois se encontram a par de outras variedades com tantas outras cores apuradas ao longo dos tempos. Porém neste caso, como quem segue este blogue já nos ouviu dizer e não nos cansamos de repetir, não é necessário procurar híbridos e variedades apuradas quando a Natureza já o fez tão bem.

Os lupinus são um género que pertence à grande família das leguminosas, Fabaceeae. Sobretudo a tremoçilha amarela é utilizada com frequência pelos agricultores para restaurar a fertilidade dos solos durante os pousios uma vez que contribui para a fixação do azoto.

Semeados na altura certa, por alturas de Outubro/Novembro, são de fácil germinação e garantem um prado de Primavera com outras cores sem qualquer trabalho pois não necessitam de qualquer tipo de rega. As chuvas de Inverno são-lhe mais do que suficientes!

Nota - Além das duas espécies aqui afloradas existem ainda em Portugal mais três espécies: de flor creme; uma outra de cor azul e, imagine-se, cor-de-rosa/roxo!
Lupinus luteus

terça-feira, 6 de maio de 2014

Rosmaninho


Lavandula stoechas e Lavandula pendunculata

Nem só de curiosidades ou plantas relativamente "desconhecidas" se faz este blogue. As de hoje são talvez as plantas que, a par do Alecrim, primeiro vêm à cabeça de todos nós quando se fala em aromáticas. E de facto não só fazem parte do nosso imaginário bucólico dos campos e serras de Portugal como são, justiça lhe seja feita, as primeiras embaixadoras na divulgação do fantástico mundo das ervas aromáticas que ao longo dos últimos 10 anos se difundiu de forma assinalável.

As que vos mostramos acima são apenas duas das cinco espécies autóctones que temos no nosso país. As outras destacaremos em  posts futuros. São, se assim quisermos chamar-lhe, os ancestrais aparentados das Lavandas que fazem dos campos do Sul de França um postal procurado por milhares de turistas nesta altura do ano. E que, diga-se, já hoje começam a fazer parte da nossa paisagem resultado de novos projectos no sector das Ervas aromáticas e medicinais que, observando o óbvio, estão a tirar partido das nossas excelentes condições naturais para este tipo de plantas.

Possivelmente existem hoje no mundo dezenas de variedades de lavandulas, com maior ou menor rendimento na produção de óleos essenciais. Assim como existem diversas variedades de jardim com florações que vão desde o branco ao lilaz passando pelo rosa. Todavia, para aqueles que não pretendem complicar o que a Natureza já faz bem naturalmente, estas duas espécies silvestres são mais do que suficientes para alegrar um jardim.

Em termos práticos o que as distingue é o pedúnculo, claramente mais elevado na pendunculata. De resto são em tudo parecidas. O óleo essencial obtido a partir das suas inflorescências tem propriedades relaxantes/calmantes e é hoje incluído nos mais diversos produtos desde ambientadores, óleos, sabões para citar alguns exemplos. 

Tem naturalmente aplicações medicinais. Como refere o mestre José Salgueiro no seu livro, uma infusão das suas inflorescências ´produz bons resultados no tratamento da tosse, bronquite catarro.

Para os que pretenderem ter rosmaninho nos seus espaços, resta acrescentar que é uma planta arbustiva que gosta de solos expostos ao sol, muito resistente aos nossos Verões e adaptada a todos os tipos de solo. Uma planta que é um clássico de qualquer jardim, de aroma intenso e um chamariz para as abelhas,como refere Rafael Carvalho neste post aqui.