domingo, 17 de maio de 2015

X Jornadas de Etnobotânica - Fornos de Algodres


Quem nos segue há algum tempo já sabe que não gostamos de espartilhar o que nos rodeia. As coisas, nós, a terra, os elementos, flora e outros seres incluídos, estão todas ligadas e separá-las pode trazer benefícios, mas apenas para efeitos de estudo (e só de alguns). Persistir mais do que isso só nos prejudica e são poucas as vantagens que se podem tirar da permanente hiper-especialização que com frequência nos dizem ser o caminho.

Vem isto a propósito das X jornadas Etnobotânicas ontem realizadas em Fornos de Algodres dedicada este ano às ligações entre as Plantas e a Religião. O mesmo é dizer das ancestrais ligações que fomos desenvolvendo com as plantas e as suas cargas simbolicas, religiosas, espirituais e mágicas. Neste particular está tudo ligado e quando um grupo de humanos confere uma identidade e um valor  a uma planta é a sua própria identidade e diferenciação  que estão em construção nesse momento.

Daí que as mesmas plantas tenham, entre diferentes comunidades,  muitas vezes separadas apenas por pequenas distâncias, nomes tão diversos. Isto, longe de ser uma problema, é um dos nossos principais activos enquanto povo. Essencial para mantermos uma identidade própria, É factor de auto-estima e valorização da nossa forma de viver enquanto comunidade. E de como nos apropriamos da nossa terra numa relação de respeito mútuo, única e irrepetível.

Nesse aspecto as intervenções dos oradores Prof. Vasco Teixeira e António Catana, dedicadas aos ritos religiosos nas terras das Idanhas, por altura da Páscoa, demonstraram bem até que ponto os muito pobres da Beira baixa não o eram com toda a certeza de espírito.

Como é natural há quem possas achar estes aspectos perfeitamente acessórios e dispensáveis que se podem e devem descartar-se facilmente para não atrapalhar a uniformização a gosto dos senhores. E entre nós não são poucos os casos em que isso aconteceu. pois quando se tem muito património é-se com frequência, muitas vezes ingenuamente, perdulário. Felizmente um erro que em Fornos de Algodres conta, por agora ,com gente para o combater. Estas jornadas e o fim de semana dedicado à urtiga são um bom exemplo disso.

Numa terra com o imenso património cultural e natural como que Fornos de Algodres tem no sopé da Serra da Estrela, ousar enveredar pela erva mais mal afamada e dar-lhe uma confraria é não abdicar de um milimetro de terra!  Ainda bem. Uma terra custa muito e mal estamos quando começamos a abdicar dela de forma relaxada.

Outrora alimento de último recurso dos mais pobres, às urtigas aqui abundantes (Urtica dioica) a recente investigação científica  comprova-lhe inúmeras qualidades enquanto alimento nutritivo e de propriedades anti-oxidantes. Pode ser utilizado na confecção de inumeros pratos já concebidos e em muitos outros que estão para ser inventados. Defendê-la e promovê-la ilustra apenas o enorme potencial que todos os outros  recursos endógenos da região podem ter. Se forem devidamente valorizados, claro!


quinta-feira, 14 de maio de 2015

Dia da Espiga



Depois de alguns dias fora de portas regressamos com olhos renovados ao nosso ponto de partida. E hoje é o dia perfeito para o fazer pois assinala-se o cada vez mais "mítico" dia da Espiga!

Quarenta dias depois da Páscoa, o dia da Espiga celebrava-se outrora de forma exuberante por todo o país! E ainda hoje se assinala até porque, numa série de localidades o feriado municipal é móvel e feito para coincidir com este dia. também conhecido como quinta-feira da Ascenção. Daí que nas localidades em questão* seja mais provável ainda se manter esta boa-tradição!

Como referiamos aqui, no ano passado, é um dia de tal forma santo que a regra era de que não se trabalhasse e que além de participar nas cerimónias religiosas se fosse para o campo e colhesse um ramo de flores silvestres, ramos de oliveira, alecrim e espigas de trigo. 

E não resistimos a transcrever o que a Alexandra Melo, gerente da loja A vida Portuguesa do mercado da Ribeira em Lisboa escreveu hoje na página do FaceBook ( a quem aliás agradecemos, pois se não fosse essa publicação ter-nos-iamos esquecido de assinalar a data!):

""Por estes dias, o calor acordava as cerejas que se enchiam redondas e bem encarnadas e se ofereciam às nossas bocas. O ar carregava-se de cheiros de terra e plantas e ao anoitecer, lembro-me de ver pirilampos. O dia da Espiga trouxe-me estas recordações de outros Maios, passados no Douro Sul. Foram dias mágicos, eternos e felizes.
O dia da espiga chama-se também o "dia da hora" e é considerado "o dia mais santo do ano", um dia em que não se devia trabalhar. Era chamado o dia da hora porque havia uma hora, o meio-dia, em que tudo parava, "as águas dos ribeiros não correm, o leite não coalha, o pão não leveda e as folhas se cruzam". Era nessa hora que se colhiam as plantas para fazer o ramo da espiga e também se colhiam as ervas medicinais. Em dias de trovoadas queimava-se um pouco da espiga no fogo da lareira para afastar os raios."
Alexandra Melo
Gerente da loja do Mercado da Ribeira"


Mais palavras para quê!?! Está la tudo o que há para dizer num dia como o de hoje. São as memórias reais de quem teve o privilégio de vivenciar a forma muito particular e única o que a população de uma dada parte do nosso país tinha para fazer uma coisa essencial à condição humana e que deixámos de fazer sem se perceber bem porquê: Celebrar!

Se no ano passado salientámos as papoilas, este ano pomos os olhos nos malmequeres amarelos. Em bom rigor até nem é uma espécie nativa de Portugal (terá sido também trazida pelos Romanos?!), mas a forma como está disseminada pelo nosso território e o facto de ja fazer parte do nosso imaginário levam-nos a considerá-la já nossa! São os pampilhos-das-searas, ou, se preferirem, o Chrysanthemum segetum, e além de indispensáveis em qualquer ramo têm lugar certo em qualquer prado florido!

 *Alcanena, Alenquer, Almeirim, Alter do Chão, Alvito, Anadia, Ansião, Arraiolos, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Beja,  Benavente, Cartaxo, Castro Verde, Chamusca, Estremoz, Golegã, Loulé, Mafra, Marinha Grande, Mealhada, Melgaço, Monchique, Mortágua, Oliveira do Bairro, Quarteira, Salvaterra de Magos, Santa Comba Dão, Sobral de Monte Agraço, Torres Novas, Vidigueira, Vila Franca de Xira.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Jardim Botânico de Bruxelas


Como alguém nos dizia há algum tempo, as razões que estiveram na origem dos Jardins Botânicos Europeus fazem deles hoje potenciais feiras de "aberrações" do reino vegetal, tal qual os jardins zoológicos no que toca ao reino animal. Com efeito, a sua grande motivação, incluíndo-se aqui os nossos jardins botânicos de Lisboa, era a de reunir num espaço circunscrito uma colecção significativa de plantas e árvores de outras latitudes com um especial enfoque naquelas que tinham origem nos territórios ultramarinos dos respectivos países.

Posteriormente e á medida que se desenrolou o século XX, o seu papel científico no conhecimento e estudo da flora, a par da sua missão formativa, aprofundaram-se e o seu raio de acção alargou-se a toda a flora ultrapassando em muito a exclusivamente exótica. Razão pela qual hoje, por exemplo, os principais jardins botânicos europeus mantêm nas suas colecções espaços inteiramente dedicados á flora nativa europeia. 

Mas um jardim botânico não é só isso. É também lugar para com  persistência criar espaços de harmonia e exigência estética. O Jardim Botânico de Bruxelas (aliás Meise, a alguns quilómetros a Norte) é um desses lugares, Apesar de alguns detractores não o apreciarem particularmente, sobretudo pela sua ambição, pouco conseguida em algumas coleções ( 18.000 espécies numa área de 92 hectares), o facto é que não é uma perda de tempo visitá-lo. Pelo contrario.

A nossa visita tinha como principal objectivo o seu "jardin des plantes" dedicado á flora nativa da Europa. Muitas das nossas espécies autóctones estão lá representadas e lado-a-lado com parentes próximos de outros países europeus. Mas ha outros espaços que valem a pena visitar, como as estufas ou a "orangerie".

Como bónus e noutra zona do parque, tivemos a sorte de poder observar ainda a colecção de Paeonias no seu máximo de floração. Não somos conhecedores da real importância ou representatividade desta colecção, que julgamos conter uma parte significativa de cultivares pacientemente apurados por gerações de bons jardineiros. Mas é impossível ficar indiferente á dimensão formas e cores alcançadas. A nossa Paeonia broteroi, Rosa-albardeira, que agora se encontra em floração nos maciços calcáreos de Portugal,  e que é sem duvida uma das maires e mais bonitas flores da nossa flora espontânea é, se comparada com as que abaixo mostramos, verdadeiramente humilde!



domingo, 10 de maio de 2015

Um parque alemão



Depois de no fim-de-semana passado termos estado na conferência de Primavera dedicada ao Jardim Portugês, aproveitámos para tirar uns dias de descanso. Por norma este devem ser uma opotunidade para nos distrairmos dos temas que nos ocupam no dia a dia, mas se fosse essa a intenção entao teriamos escolhido um dos piores locais do planeta para o efeito.

Bremen, a 2,5horas do Porto via Ryanair, é simplesmente um inferno verde!

É um facto que está localizado numa latitude onde a abundância de água e a riqueza do solo proporcionam uma Primavera luxuriante. Todavia o que por lá se vê, não se faz só com bom solo e muita chuva. Resulta sim de opções muito claras do povo daquela cidade acerca da forma como pretende viver nesta terra.

Não sabemos se existe um Jardim Alemão. É provável, mas não foi, pelo menos por agora, o que nos levou lá. O que nós mais apreciámos, e nos deixou a indagar como é que é possivel que em 30 anos de integração europeia não tenhamos conseguido importar mais deste país do que carros de alta cilindrada, foram duas coisas: A dimensão e qualidade dos parques urbanos e, 2) o óbvio gosto que os habitantes da cidade nutrem pela Natureza.

Relativamente aos parques as duas  imagens acima são bem exemplificativas: O Rhododendrom Parc, a par do jardim botânico nele inserido, bem como a cintura de jardins que envolve o núcleo antigo da cidade, são do melhor que que se pode querer ver, pelo menos neste hemisfério.

Já no que respeita ao evidente gosto pela Natureza que aqui se cultiva, três aspectos entram pelos olhos dentro e é impossível não reparar neles. Por um lado, poucas sao as casas, mesmo as mais humildes, que não têm um jardim/horta digno do nome. Por outro lado consegue-se andar na cidade sem ver um único jardineiro obececado a aplicar mondas quimicas, a irradiar "ervas daninhas" e flores silvestres dos relvados ou a  derramar furiosamente as árvores, com a desculpa que tal trabalho é para a protecção de pessoas e bens. Árvores frondosas e passeios cheios de ervas "daninhas" abundam por aqui e, pasme-se, parecem não incomodar ninguém!

Algumas fotos do parque dos rodendros. È dificil nao ficar com inveja...

Algumas fotos de jardins particulares, onde quer a borragem quer as giestas (lado direito) fazem parte das espéices elegíveis;

Algumas fotos de como, pelo menos nesta cidade, é possível ver árvores com uma estrutura de ramos intacta ( ou pelo menos bem podadas)  e bermas e passeios com flora silvestre sem que ninguém entre em pânico!

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Um Jardim Português

Visita ao Jardim Botânico da Ajuda e aos viveiros da Sigmetum , dia 2 de Maio 2015.

A primeira conferência de Primavera realizada no passado fim de semana no Estoril pela Associação de Jardins e Plantas em Climas Mediterrânicos de Portugal teve como tema central o Jardim Português - Passado, Presente e Futuro. O programa da conferência, desde visitas a jardins a palestras dadas pelos que mais e melhor se ocupam do tema, proporcionou aos participantes, residentes em Portugal e não só, três dias que foram uma boa síntese do que melhor se fez, está a fazer e pode ainda ser feito pela jardinagem em Portugal.

Para nós, um projecto centralizado nas sementes de flora nativa e espontânea, foi a oportunidade de reforçarmos a nossa convicção de que em Portugal, á semelhança de noutros países europeus onde a nossa flora é já hoje integrada em inúmeros projectos, há espaço e (muito!) para colocar a flora silvestre num lugar central das nossas hortas e jardins.

As palestras dadas pela Dra. Sónia Azambuja sobre Jardins notáveis Portugueses; pelo Dr. Jorge Paiva sobre o incrível projecto liderado pelos professores da Escola Secundária de Barcelos que ao longo dos últimos 30 anos instalaram um jardim- Arboreto de flora autóctone; pela Ann e Jean Paul Brigand acerca das potencialidades económicas que poderiam decorrer de uma maior valorização dos nossos jardins notáveis e, por fim pelo Gerald Luckhhurst, sobre o emocionante projecto de recuperação concretizado nos jardins de Monserrate, proporcionaram uma perspectiva ampla dum tema que é fascinante, vasto e inesgotável.

Um jardim é sempre um exercício de tentativa de ordenação do caos pelo Homem. Nele concorrem inúmeras disciplinas e artes que de forma harmoniosa e subtil procuram recrear partes do paraíso celeste aqui na terra. Seja para lazer e recreio, produção de alimentos, propositos espirituais ou simples deleite estético; mais ou menos artificiais ou informais, nada num jardim existe por acaso. Como os de outras paragens, os nossos jardins condensam  as nossas formas de vida, de estar, da nossa relacão com os elementos e são certamente uma das artes mais reveladoras da nossa identidade enquanto pessoas e povo. Com uma particularidade: Os bons jardins nunca são exercícios antropocêntricos e neles o Homem nunca se propõem a viver sozinho. Tudo o que vive pode lá ter lugar.

E nesta perspectiva esta primeira conferência de Primavera sobre o Jardim Portugês foi mesmo uma lufada de ar fresco. Uma oportunidade única para tomar contacto com as questões principais que têm de ser abordadas se quiseremos que uma nova, ambiciosa e inspirada forma de olhar para os jardins tome conta de nós todos. 

À organização, aos conferencistas, aos que abriram a porta dos seus jardins, ao Jardim Botânico da Ajuda, à Sigmetum e em especial aos incansáveis Rosie e Rob Paddle que trataram de todos os detalhes para que tudo ocorresse na perfeição, os parabéns e o nosso obrigado!

domingo, 3 de maio de 2015

E por fim, o Paraíso



Uma das questões fundamentais e  das mais importantes que a Humanidade tem tentado resolver ao longo dos séculos é esta. Onde está o Paraíso. É celeste ou pode ser terreno? Pode ser feito aqui e agora ou já existiu e está definitivamente perdido desde que Adão decidiu trincar aquela maçã? É uma questão muito complexa, de dúvida permanente. de inúmeras derrotas, algumas vitórias mas para qual não é possível uma conclusão segura e definitiva. 

Ha momentos de desespero em que nos parece que fomos mesmo expulsos e de que não há solução, entregues que estamos a um inferno prestes a tomar conta de tudo, Mas há outros momentos em que a angústia parece só poder dar lugar a uma imensa alegria.

Visitar Monserrate é deixarmo-nos invadir por essa imensa alegria que só se pode experimentar quando acreditamos que chegámos mesmo ao Paraíso. Ele existe, é possível e está em frente dos nossos olhos!

A melhor maneira de conhecer Monserrate é assim. Sem nunca ter visto uma foto prévia, caminhar desde Sintra. Entrar e descer uma vereda para por fim vislumbrar o palácio no meio da vegetação. Foi assim que o conhecemos em 1992. Fomos uns priveligiados sem o saber pois na altura não havia internet, existiam muito poucas fotos e Monserrate era administrado, imagine-se, pelos serviços da DIrecção -Geral de Florestas. Hoje esse efeito de surpresa é muito improvável (excepto para os ignorantes que tenham a inteligência de se deixar levar por um conhecedor) , pois Monserrate é hoje uma das principais atracções de Sintra, sobretudo desde que esta foi declarada Património da Humanidade. 

Mas mesmo sem esse efeito-surpresa é impossível não ter a certeza de que se chegou ao Paraíso quando se avista Monserrate.

Monserrate é uma historia de Amor. Não apenas de um só homem, mas de muitos homens e mulheres desde que Gerard de Visme comprou a propriedade, numa altura em que a serra de Sintra era basicamente desprovida de vegetação!, há pouco mais de 250 anos. Já passou de mãos várias vezes. Francis Cook foi o que inquestionavelmente lhe deu mais esplendor, porém, muitos outros ficaram rendidos e a sua fama ultrapassou há bastante tempo as nossas fronteiras. Já teve períodos de decandência, seguidos de recuperação, novamente de decadência  e de recuperação outra vez.

E hoje, incrivelmente, é-nos oferecido recuperado e num dos seus melhores e mais vibrantes períodos. 

Não descurando a óbvia importância que o enquadramento proporcionado pela Sociedade Monte da Lua - parques de Sintra teve neste renascimento do melhor jardim que existe em Portugal, é de elementar justiça reconhecer que tal também só foi possível com o Amor que muitas pessoas dedicaram e dedicam ainda hoje a Monserrate, Individualmente ou integrados na Associação de Amigos de Monserrate, foram eles que nunca desistiram, que não se deixaram tomar pelo desalento e que dedicaram uma boa parte das suas melhores energias a recuperar este tesouro da Humanidade.

A Emma Gilbert e o Gerard Luckurst são duas dessas pessoas. Têm nomes ingleses, mas vivem em Portugal há décadas (na realidade são já dos nossos melhores portugueses!) e  têm estado ao longo dos últimos anos ocupados a fazer renascer Monserrate.

Concretizaram para nós um sonho que perseguimos desde sempre: Chegar ao Paraíso, Por fim. 

Obrigado!

sábado, 2 de maio de 2015

Um dia Perfeito



Existem infinitas combinações possíveis para que um 1º de Maio, ou outro dia qualquer, possa ser perfeito, e para nós o deste ano passou-se entre Cascais e Sintra. 

No primeiro dia da conferência de Primavera da Associação de Plantas e Jardins em climas Mediterranicos, tivemos a oportunidade de visitar dois jardins privados em Sintra que sustentam bem a hipótese, plausível, do paraíso ser mesmo aqui e agora.

Existem inúmeros detalhes no dia de ontem que dariam matéria para várias entradas, mas evidenciamos apenas um de que gostámos particularmente na Quinta dos Castanheiros: o da integração das dedaleiras no Jardim, 

Nas vertentes a norte da Serra de Sintra as Digitalis purpurea são espontâneas e para a maioria dos locais não apresentam qualquer interesse. Tanto que normalmente não costumam escapar á furia rossadora dos funcionários das autarquias locais que as irradiam tão eficazmente quanto possível de todas e bermas e taludes que constarem da ordem de serviço. Mas uma prova de que às vezes basta aproveitar o que a Natureza oferece sem esforço é o que os proprietários da Quinta dos Castanheiros em Colares generosamente nos deixaram usufruir.

Além da Quinta dos Castanheiros, de uma passagem pelo jardim do Verdial da Roca (aberto ao público e que não é nenhum supermercado de plantas, mas antes um jardim que também vende plantas, como deveriam ser todos os "garden centers") tivemos ainda tempo de ir espreitar as armerias (Armeria pseudoarmeria) no cabo da Roca. Um endemismo nosso, protegido por vários decretos-Lei, grupos detrabalho e investigação, subtraído de todo e qualquer tipo de comércio, mas que, infelizmente, está á merçê dos chorões. Mas de forma perfeitamente justificada e compreensível. Lisboa e as Direcções-Gerais montadas para o efeito, ficam lá longe e não é qualquer um que nos dias que correm. consegue alcançar facilmente o Cabo da Roca. É impossível chegar a todo o lado e faz-se o que se pode, o que deve ser imenso.

Para que um dia seja perfeito não é precisos que os 86400 segundos que o constituem sejam todos de êxtase. Mas o de ontem teve mesmo muitos segundos desses e a imagem abaixo é apenas mais uma ilustração que aqui deixamos para memória futura.


sexta-feira, 1 de maio de 2015

Colher é preciso! Aqui e Agora



Semear é preciso! É sempre verdade e esta é uma altura perfeita para o fazer. As temperaturas são as ideais e qualquer varanda pode servir. Germinando no período de Março a Maio tem ainda a vantagem de as plantas terem depois tempo suficiente para crescerem até ao final do Verão podendo ser transplantadas já com algum vigor para os locais definitivos no Outono. Semear é possível durante todo o ano, mas esta é a na nossa perspectiva a altura que na nossa latitude melhor aproveita o movimento de translacção  do planeta Terra.

Mas se semear agora é preciso e possível, colher também já o é. E esta é a altura perfeita para começar a pensar em colher. A grande maioria da nossa flora espontânea está em floração o que ajuda (e muito!) a identificar onde estão as melhores populações silvestres da nossa flora.

E é aqui que gostariamos de desafiar os nossos seguidores com maior disposição para usufruirem da Primavera: Que também sejam nossos colectores!

É verdade que as sementes de Portugal já têm uma rede de colectores nas principais regiões do país, mas quando se possui uma flora com mais de 4000 espécies e um território como o nosso, mãos e olhos nunca são demais e todos os que quiserem colaborar connosco serão bem vindos.

Para ser colector do nosso projecto não é preciso ser um botânico extraordinário. Pode ajudar, mas não é necessário!

O mais importante é que goste realmente das plantas cujas sementes vai colher. Não interessa se é uma erva, um arbusto ou um alho e que tenhamos até tendência a considerar banal e sem interesse. O principio é: Se gostarmos dessa planta, é porque essa planta tem de facto interesse. Basta isso e nao é necessário auto-limitarmo-nos dizendo para nós mesmos que não tem valor e que ninguém gostaria de ter uma erva daquelas no jardim. Não é verdade. Raramente estamos sozinhos e se nós gostamos haverá mais alguem que com certeza também gostará e tem a vontade de germinar as suas sementes.

Alargando a nossa rede de colectores poderemos aumentar de formar ainda mais significativa o números ds espécies cujas sementes ja temos em catálogo (neste momento cerca de 200)  e permitir que quem quizer germinar sementes de uma dada espécie as terá oriundas de populaçoes silvestres genuínas e trazidas pelas mãos de quem também aprecia essa planta. E este aspecto é fundamental: sementes colhidas com amor germinam sempre melhor!

E agora a pergunta, mas " As sementes de Portugal remuneram esse esforço de colher as sementes!?!? Esta é a questão que aqui, como noutros campos, normalmente nos conduz à inacção que só a excessiva valorização do tempo gosta de promover. Colher sementes pode ter uma mais valia económica ( a nossa aposta de longo prazo é de que sim!) mas nesta fase do projecto não é mesmo viável fazer desse aspecto a questão primordial.

Há espécies cujas sementes são mais procuradas pelo que necessitamos de mais sementes e será possivel remunerar o trabalho de recolecção. Mas para muitas outras não é certo que haja já procura amanhã. De qualquer das formas estamos disponiveis para retribuir todas as colaborações e a troca com outras sementes que tenhamos já em catálogo é uma das possibilidades!

Daí que o requisito fundamental para ser colectar das sementes de Portugal seja mesmo o de em primeiro lugar gostar de cada uma das plantas cujas sementes se quer colher. E de olhar para essa actividade como perfeitamente secundária face ao seu beneficio principal que é de andar de olhos abertos e o de reconhecer que a beleza está mesmo por todo o lado e até nos detalhes. De tal forma que é bem possível concluirmos que se calhar há a hipótese do paraíso não ser noutro lugar mas mesmo Aqui e Agora.