segunda-feira, 25 de abril de 2016

No dia da Liberdade: Jardins sem sistemas de rega



Este ano, numa simbólica e feliz coincidência, comemoramos o nosso Dia da Liberdade a "resumir" o que de mais marcante aconteceu na conferência de Primavera da Associação de Jardins e Plantas em climas Mediterranicos, realizada este fim de semana em Lagos.

É possível que para muitos que lêem estas palavras o tema da jardinagem e dos espaços verdes criados pelo Homem, seja, à partida, um tema acessório, pouco relevante e nada prioritário no meio das tantas urgências que nos assolam. Mas quem nos segue há mais algum tempo sabe com segurança qual é a visão que partilhamos sobre o tema: Um JARDIM é e será sempre uma das melhores sínteses civilizacionais que poderemos mostrar a alguém. Que é reveladora da forma como um povo quer e consegue viver em sociedade e com os elementos que lhe foram oferecidos.

Uma vez aceite isto, as questões que se colocam são essencialmente práticas e de como passar à acção fazendo uso dos mais diversos conhecimentos, detidos por investigadores, biólogos, arquitectos, botânicos, viveiristas e jardineiros, na construção desses novos e renovados espaços de lazer e fruição. Ousando e, sobretudo, desafiando o medo. É que também neste tema, aparentemente tão circunscrito, faz todo o sentido celebrar a que possivelmente é a mais sólida conquista do dia que hoje comemoramos: O direito a perder o medo, a arriscar e a deixar as grilhetas do "sempre foi assim, para quê mudar".

Expectavelmente, das diferentes palestras destacamos duas: a de Olivier Filippi (AQUI)e a de Miguel Coelho de Sousa (AQUI). O primeiro que, numa vibrante apresentação, partilhou a sua visão para uma nova geração de jardins para a região mediterrânica e que se propõe criar algo que nunca existiu antes, tirando partido da incrível bio-diversidade da nossa região. O segundo, a demonstrar nos seus últimos projectos que também nesta área Portugal dispõem de profissionais que estão a ousar, a reflectir e a trabalhar sem medo.

A expressão "Jardim Seco" não é na nossa perspectiva a tradução mais feliz. Na realidade o que estamos a falar é de Jardins sem "complexos e onerosos" sistemas de rega, e desenhados tendo em atenção as condições particulares do espaço, solo e clima. Não são secos. São verdes, plenos de cor e vida. Espaços de fruição para nós e para um sem número de outras formas de vida que farão dos nossos jardins espaços ecologicamente dinâmicos e mais sustentáveis. Com "novas" espécies de plantas, que na realidade não são novas e sempre estiveram ao nosso lado, como vimos nas duas saídas de campo na praia da Amoreira (Aljezur) e no Cabo de S. Vicente (Sagres). Com mais humildade, pois algures ao longo do ano saberemos conviver com menos verde e mais secura. Com mais economia de recursos, de energia e de água.

Para terminar deixamos duas sínteses de fotos dos inspiradores percursos que ao longo do fim-de-semana tivemos o privilégio de fazer, conduzidos pelo biólogo Udo Schwarzer e pela Arquitecta Paisagista  Claudia Schwarzer (praia da Amoreira) e pela guia de Natureza Carla Cabrita (Arribas do Cabo de S. Vicente):


À APPJCM e em particular ao Rob e e à Rosie Pad, o nosso obrigado e os parabéns pela forma excepcional de como decorreu a conferência.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Sabugueiro


Num ano em que a Primavera  se apresenta mais envergonhada, com  semanas anormalmente chuvosas e aparentemente mais frias que o habitual, recomenda-se apenas uma dose de paciência adicional e uma atenção redobrada a alguns detalhes. há-os por todo o lado a assegurar que é mesmo uma questão de dias até que a explosão de calor, sol e humidade se instalem por todo o lado.

Um desse detalhes que já se pode ver por todo o lado é o das umbelas floridas dos sabugueiros, a cobrirem de branco imaculado margens de rios e ribeiras. A desculpa perfeita portanto para divulgar uma espécie quase desconhecida da maioria de nós mas sobre a qual já quase todos ouvimos alguma coisa.

Considerada desde há milénios como uma poderosíssima planta mágica, todas as suas partes podem ser utilizadas, como é o caso das suas flores que depois de secas e em infusão são indicada para o tratamento de gripes e constipações.

Mas há quem faça champanhe de flor de Sabugueiro e aqueles que preferem antes esperar pelas bagas, algures para os meses de Julho e Agosto, para na cozinha as utilizarem em tartes, molhos e xaropes.

Porém e como referiamos AQUI, a utilização das bagas, sobretudo em sumos, deve ser feita com alguns cuidados dadas as suas características purgantes.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Conferência de Primavera 2016 - Mediterranean Gardening Association Portugal


Dentro de 15 dias a Associação de Plantas e Jardins em Climas Mediterrânicos, realizará a sua  5ª conferência de Primavera, este ano a decorrer em Lagos entre os dias 22 e 25 de Abril.  Se a do ano passado, a que tivemos o privilégio de assistir, foi excelente a deste ano promete mesmo ser excepcional.

Serão três dias dedicados ao tema dos jardins secos na região mediterrânica bem como às tendências mais actuais relativas ao uso de plantas nativas numa jardinagem mais sustentável. O programa completo pode ser encontrado AQUI. Serão várias as palestras dadas por especialistas nacionais e estrangeiros, qualquer uma delas de qualidade garantida. Para aguçar a curiosidade e apenas a titulo de exemplo referimos: O Eng. Paulo Palha, que partilhará a sua experiência na construção de coberturas verdes ou O Dr Ken Thompson, da Universidade de Sheffield, cuja palestra será dedicada ao solo. Só estas já justificam lá estar, mas há mais !

Entre elas uma com Olivier Fillipi que é tão só e apenas um dos arquitectos paisagísticos europeus mais proeminentes e inspiradores da actualidade.  O seu livro " The Dry Gardening Handbook: Plants and Practices for a Changing Climate" de 2008 é hoje uma obra de referência e o seu site (AQUI)uma verdadeira fonte de esperança. A sua palestra terá por tema "Dry gardening: a new inspiration for gardeners in the Mediterranean region”. Por fim de salientar que durante a conferência será apresentado em Portugal o seu novo livro,  "Alternativas aos relvados",versão inglesa.

Uma nota final por fim para a grande maleabilidade da organização. Não é necessário reservar o programa completo podendo escolher-se uma ou duas palestras, participar em apenas um dos dias, com ou sem refeições, com ou sem visitas guiadas. Basta entrar em contacto e ajustar com a organização a opção que melhor convém a cada um dos interessados! Pela nossa experiência pessoal do ano passado, uma coisa é certa e garantida. Todos são genuinamente bem acolhidos pela APJCM!!

terça-feira, 5 de abril de 2016

Planta boa-escolha


No nosso último post permitimo-nos sugerir que as Scilla peruviana mereciam outra designação popular e, 10 dias depois, voltamos a reincidir. Não que seja por falta de assunto - as primeiras semanas de Primavera costumam ser vertiginosas em matéria de novidades e basta dar uma vista de olhos à nossa volta para verificar a azáfama de flores em corrida contra o tempo.

Mas como nem só de papoilas e pampilhos se faz uma Primavera, voltamos a uma das nossas espécies preferidas que por esta altura se encontra em floração e que, além de fama de medicinal, tem um inquívoco potencial ornamental. Dizemos espécie mas podíamos referir todo o género Asphodelus, que em Portugal, e de acordo com o portal Flora-On,  regista 7 espécies autóctones, conhecidas genericamente como abróteas.

Quem for versado em Latim ou Grego facilmente conseguirá descortinar a etimologia, mas como não é o nosso caso, basta ter um nome de peixe, marcado a ferros na memória de todos os que já frequentaram cantinas, para não motivar boas sensações. Para nós, e para os insectos polinizadores que se empanturram do seu néctar, devia chamar-se antes e apenas Boa-escolha. Claro que se pode baptizar com outros nomes, mais comerciais ou mais esotéricos, mas isso faz parte da reserva de liberdade de cada um.

Há cerca de dois anos publicámos AQUI um pequeno texto em que partilhámos algumas informações adicionais sobre a planta. Entre as quais o uso medicinal das suas raízes tuberosas cujo suco é indicado para o tratamento de impingens e ulcerações das mucosas. Lido algures como o que a seguir transcrevemos: as folhas pisadas e fervidas em água aliviam cãibras e ciáticas e  bebidas com vinho são um antídoto poderoso contra a mordedura de serpentes e lacraus. Afirmações que carecem de comprovação científica pelo que não se aconselha ninguém a procurar uma mordedura de lacrau para confirmar o poder desta planta!

De qualquer das formas e à semelhança do que sugerimos para a Scila Portuguesa nao se aconselha tentar retirar esta espécie dos seus espaços silvestres para a transplantar para o Jardim. As suas raízes são de tal forma ramificadas e profundas que dificilmente a planta sobreviverá! O melhor método é pois e uma vez mais a nossa solução preferida: germinar as suas sementes!