terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Escrófulas



A par dos verbascos as escrófulas são para nós mais um dos géneros de plantas espontâneas que, apesar do desconhecimento generalizado, poderiam facilmente e sem muitos custos animar um canteiro.

É certo que o seu nome não ajuda, mas não é caso único. Mesmo fora do reino vegetal há nomes que se podem revelar um fardo pesado, pelo que convém estar atento e não ceder à primeira tentação do preconceito. No caso das escrófulas o seu nome até tem um motivo curioso e digno de nota.

No hemisfério Norte, incluindo aqui a América do Norte, a Europa e parte da Ásia, existem mais de 200 espécies do género Scrophularia. Em Portugal, apesar de por cá existir uma dúzia de espécies não lhe são conhecidos muitos nome populares e, tanto quanto sabemos, também nunca lhe atribuímos qualidades medicinais. Todavia noutros países acreditou-se durante muito tempo que estas plantas eram benéficas no tratamento quer das hemerroidas (razão pela qual em Inglaterra o seu nome popular ser figworts) quer da escrófula - uma doença que hoje está quase erradicada mas que na idade média e até ao século XVIII/XIX era frequente.

 A escrófula é uma patologia horrível, aparentada com a tuberculose, que se manifestava sobretudo em crianças e cujo principal sintoma era a inflamação dos gânglios linfáticos e consequente deformação do pescoço. Na realidade e escrófula era provocada por uma bactéria transmitida através da ingestão de leite de vaca contaminado, mas em Inglaterra e França acreditou-se durante muito tempo que era uma doença só resolúvel pelo toque real do soberano em funçoes. 

Se popularmente os soberanos absolutos eram amiúde chamados a curar quem padecia de escrófula, o advento da ciência moderna nos séculos XVII e XVII levou os herbalistas e fisiologistas de então a procurarem outras soluções. E foi nessa demanda que acreditaram ter encontrado a cura nas plantas de que agora falamos. Está hoje provado que de pouca ajuda são, mas do nome com que foram cientificamente baptizadas não se livraram e permanecem ainda hoje como sendo da familia das Scrophulariaceae.

Explicado o nome há ainda que justificar o porquê de a considerarmos ornamental. Há quem as desconsidere por as flores serem relativamente pequenas e pouco vistosas. O que apesar de ser verdade para algumas das nossas espécies, é ainda assim duvidoso. A beleza também se esconde nos detalhes e mesmo sendo minimas as flores têm formas e cores vincadas a requererem apenas atenção.

No caso da Scropholaria grandiflora (na foto), um endemismo exclusivamente português que ocorre ao redor de Coimbra, acresce que se trata de uma planta vivaz que forma tufos consistentes e homogéneos. A folhagem verde-cinza, as hastes florais de quase 2 metros que emergem na Primavera e duram até ao Verão, a par dos poucos cuidados requeridos, fácil germinação e boa adaptabilidade a diferentes tipos de solos, completam a lista de razões pelas quais somos seus admiradores.

Existem mais escrófulas que ficam bem em qualquer lado e a elas voltaremos oportunamente. Mas a divida principal fica hoje paga. Entretanto e enquanto nao voltarmos a este género botânico poderão sempre aprender mais sobre ele aqui e aqui, que foi aliás onde começámos a gostar dele.

"Scrofula" by Original uploader was Rsabbatini at en.wikipedia - Transferred from en.wikipedia; transferred to Commons by User:Quadell using CommonsHelper.. Licensed under Public Domain via Wikimedia Commons - http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Scrofula.jpeg#mediaviewer/File:Scrofula.jpeg"

1 comentário:

  1. A planta em questão também existe no Algarve, pelo menos na zona de Loulé, onde moro. Sou uma apaixonada pelas plantas, até fiz um "jardim botânico", onde tenho várias plantas consideradas raras, incluindo a famosa mandrágora. Aliás, eu sou um bicho do mato. Como fiquei desempregada, comecei a passear pela serra com os cães, as plantas maravilhosas que tenho encontrado. Já tinha bons conhecimentos de plantas medicinais, porque a minha mãe trabalhava com elas, era aquilo a que chama de curandeira, mas alguns chamam "bruxa". Parabéns pelo artigo, está óptimo. Felicidades.

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