O que é que um dos maiores eventos dedicado à jardinagem do mundo, realizado em Londres, tem a ver com um projecto focado na flora silvestre de Portugal? À primeira vista pouco terá em comum, porém, a ortodoxia nunca foi o nosso forte e ter tido a oportunidade de o visitar além de um privilégio é a janela que também gostaríamos de manter aberta de par em par.
Mas, mais do que um gosto, é um traço essencial para a identidade do que pretendemos fazer. Sendo insuspeitos sobre o muito que apreciamos no nosso país, o pior que nos podia acontecer seria cair no erro de pretender que nada de melhor existe fora de portas ! E numa altura em que o discurso vigente é o de nos convencer a todos de que somos incríveis e a um passo de tudo ser declarado património da humanidade, é de elementar higiene verificar o que afinal se faz la fora.
E FAZ SE MUITO!! Inglaterra, ou o Reino Unido se preferirmos, têm uma longa tradição em matéria de jardinagem. É um facto que o seu clima ajuda e também é um facto de que se trata de uma sociedade rica que tem recursos para dedicar ao tema. Mas só isso não explica a verdadeira obecessão que os ingleses têm com os seus jardins. Este povo persegue a Beleza e ama verdadeiramente a Natureza e de forma muito consistente há pelo menos 300 anos. Visitá-los não é motivo de inveja e apenas pode servir de inspiração!
O RHS Chelsea Flower Show 2017, que decorre esta semana no bairro de Chelsea, é indiscutivelmente um dos pontos altos para os amantes de jardins de todo o Mundo. Atrai centenas de milhares de visitantes e de profisisonais em busca do que de melhor se está a fazer neste momento nesta área. E não são só Flores o que se pode ver por lá. São dezenas de stands de tudo o que possamos imaginar como estando relacionado com a jardinagem: mobiliário de Jardim, casas especializadas em utensílios, iluminação, rega, pergolas, estufas, toda a espécie de artesanato em madeira e metal. São dezenas de ideias para que qualquer um possa fazer do seu jardim o paraíso merecido!
Se não é difícil ficar com surpreendido com a diversidade menos ainda é ficar boquiaberto com a verdadeira sofisticação que em matéria de arte para jardins se pode alcançar. São inúmeros os escultores, artistas plásticos e instaladores de trabalhos em pedra, metal e madeira, com identidades e técnicas muito diversificadas, de largas milhares de libras, que acrescentam o remate final de beleza que muitos estão dispostos a pagar.
Em matéria de flores e jardinagem propriamente dita, poderemos, de forma resumida, dizer que são duas as principais áreas de interesse: O grande pavilhão Central, onde viveiros especializados de todo o Reino Unido exibem o melhor da sua produção, e os diferentes jardins, instalados ao longo das últimas semanas e que "transplantam" para o espaço da exposição jardins completos. Este anos eram 22 em diferentes categorias a concurso.
Visitar o Pavilhão central não é definitivamente para cardíacos! O nível de sofisticação que muitos produtores alcançam - e existem especialistas em todos os géneros usualmente utilizados em jardinagem: desde orquídeas, rosas, tulipas, dálias, vegetação aquatica, acers, peónias, entre muitos outros, é do melhor que se alcançou até ao momento. É o reino dasovas variedades apuradas, cultivares e híbridos que competem pelas cores e formas mais inesperadas. Não é naturalmente a nossa áreas preferida, mas não deixa de ser interessante observar a inexistência de limites nesta matéria. Um aspecto interessante é observar como alguns espécies silvestres de todo o mundo estão a captar um interesse crescente. compreensível regresso ao "simples" depois dos excessos.
Por fim, a secção que afinal mais motivou a nossa visita a este Chelsea Flower Show. Os jardins instalados ao longo das últimas semanas por equipas de dezenas de pessoas que tiveram a missão de garantir que tudo estaria apresentável (vivo!) nesta semana.
Neste particular a sofisticação é igualmente grande. São em regra projectos apenas exequíveis com o patrocínio de grandes empresas que dispensam orçamentos generosos para que designers de jardins e arquitectos paisagistas concebam espaços inspiradores das novas tendências em matéria de jardinagem. Sem nos demoraremos nos 22 jardins em concurso, é visível a influência que a flora silvestre e os diferentes ecossistemas têm no desenho de jardins que se querem cada vem mais sustentáveis, povoados de outras formas de vida e adaptados às condições de solo e clima de cada lugar . Esta tendência esta bem patente nos jardins de Yorkshire ou do Wellington´s college, mas os holofotes deste ano foram todos para um jardim de flora mediterrânica.
Desenhado pelo designer James Basson, o melhor jardim do certame replica uma antiga pedreira de calcário, abandonada, de Malta e lembra a extrema vulnerabilidade dos ecossistemas daquela ilha. A flora utilizada, toda nativa, não nos poderia fazer mais lembrar a nossa: Desde eufórbias, centranthus, echiums, ferulas, stipas giganteas, alfarrobeiras, entre muitas outros géneros que também ocorrem no nosso país!
E se existiam dúvidas sobre o que faríamos no melhor evento de jardinagem do mundo, o prémio deste ano dissipa-as todas, confirmando que, na dúvida, o melhor é, sempre foi e sempre será... ter as janelas abertas!
É de facto um outro mundo. Já visitei o Chelsea Flower Show duas vezes e também outros festivais e jardins ingleses. É de cortar a respiração. Tanto que poderiamos fazer por cá...
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