cardo-do-visco - Atractylis gummifera
A propósito de uma visita a Sagres e ao cabo de S. Vicente, escrevemos hoje sobre duas plantas que, aparentemente sem razões plausíveis, têm o estranho hábito de florir por esta altura. Não que sejam especialmente raras, que não são, pois encontram-se disseminadas um pouco por todo o território centro e sul de Portugal, mas foi ali, na Costa Vicentina, que acabámos de as ver. Sinal pois de que é o momento certo para partilhar o que já há algum tempo andávamos para escrever.
Apesar de relativamente vulgares a verdade é que a maioria de nós nem dá por elas. Por distracção, porque apesar de tudo são facilmente notadas. Quer o cardo-do-visco (Atractylis gummifera) quer a cebola-albarrã (Urginea maritima) são plantas cuja flores, de inegável beleza, têm o mau feitio de se fazerem em contra-ciclo. Quando quase tudo o resto passou a maior parte dos últimos três meses a amadurecer sementes e, se possivel a tentar chegar vivo a um novo ciclo, estas estiveram recolhidas no solo, escondendo todos os sinais de vida da superfice. Para elas, o momento certo para se revelarem é mesmo nos últimos minutos do filme.
Perante tal incompreensibilidade há mesmo quem chegue a desconfiar da atitude, enventualmente um pouco trocista, face á miséria generalizada em seu redor. Dcidir florir nesta altura ...quase que parece de novo-rico.... Há tambem quem lhes anteveja o papel melancólico, próximo do das populares sul-africanas acucenas. de terem a seu cargo a tarefa odiosa de anunciarem aos humanos a enorme desgraça que é o fim do Verão e o consequente início da descida ao Inverno.
Para nós porém, que não somos antropocentricos, a missão destas florações a destempo são tão só e apenas uma. São o alento para que as inumeras espécies vizinhas, que penam há meses à chapa do sol, não desistam. Incitam-nas a não desesperarem e que dêm tudo por tudo nesta recta final da maratona. Mais alguns dias apenas e chegarão com vida ás primeiras chuvas que aí vêm. São, se quisermos, na popular linguagem de gestão, flores motivacionais e, como tal, fundamentais para um jardim que se quer a trabalhar em equipa,
Estas evidências tornam pois a sua presença ainda mais incontornável e pertinente num jardim. Tê-las é ter a segurança de um marcador preciso e infalível que nos avisa, subtil e sem uso de alarmes ruidosos , que vem aí um novo tempo. O tempo de recomeçar.
Estas evidências tornam pois a sua presença ainda mais incontornável e pertinente num jardim. Tê-las é ter a segurança de um marcador preciso e infalível que nos avisa, subtil e sem uso de alarmes ruidosos , que vem aí um novo tempo. O tempo de recomeçar.
Ou, dito de outra forma, que se arrume o que eventualmente se colheu, e que se preparem as sementes do que se quer ver florir na Primavera de 2016. Todos os elementos, o Sol, as chuvas, os planetas estão todos a dar os passos necessários para a sincronização geral apurada ao longo de milhões de anos.
Não há dúvidas. Nesta latitude, tudo se compõe para começar em breve um novo ciclo!
Não há dúvidas. Nesta latitude, tudo se compõe para começar em breve um novo ciclo!
cebola-albarrã - Urginea maritima
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