quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A árvore das miragens



O título deste post é conscientemente abusivo. Que nós saibamos nao existem árvores de miragens, mas a espécie que hoje tentaremos pôr em evidência é de tal modo pouco conhecida, que para nós, e certamente para muitos outros, não passou durante muito tempo de uma miragem.

Árvore das miragens ou árvore mítica, pois além de pouco frequente, o seu nome científico, Myrica faya,  tem os requisitos certos para fazer sonhar todos os que a procuram e tardam a encontrar. As miragens são quase sempre isso: um alimento de emergência para que quem procura não desista!

A myrica faya, ou samouco - um nome vulgar bem menos elegante, é uma pequena árvore que ocorre espontaneamente nos pinhais arenosos da costa ocidental portuguesa. O mais certo é até já termos passado por ela e nem termos dado conta, uma vez que em termos de porte assemelha-se a uma outra espécie que por cincidência até compete com ela forma desleal, o mióporo (Myoporum laetum), uma espécie exótica amplamente utilizada na nossa jardinagem, apesar de poder ser considerada invasiva.

Parecida com o loureiro, é aliás sua contemporânea, partilhando com ele o facto de terem feito parte das florestas tropicais que cobriam o nosso território há 65 milhoes de anos e que sobreviveram aos periodos glaciares (iniciados ha 2,6 milhoes de anos e que persistiram até há cerca de 12.000 anos). E com efeito, a Myrica faya é uma das espécies que compõem a floresta laurissilva dos Açores, onde é ainda hoje abundante nomeadamente no Faial. Tanto que, como nos conta aqui o blogue dias com árvores,  nos meios científicos subsiste ainda hoje a dúvida se esta espécie é mesmo autóctone de Portugal Continental ou se aqui foi introduzida no século XVI após a descoberta das ilhas Atlânticas.

Dúvidas á parte, uma certeza subsiste: é uma pequena árvore com inegáveis qualidades ornamentais. De folhagem perene, em regra sempre verde, e, ao que apurámos, de crescimento relativamente rápido só nao gosta de geadas e frios extremos.  E que além do porte, oferece-nos no Verão uns igualmente estéticos frutos negros, de textura aparentada com a dos medronhos, embora mais pequenos, como é visivel na foto.

Para terminar deixamos duas sugestões. Primeira,  para quem quiser saber mais sobre esta espécie, que de link em link se deliciem com as inúmeras "estorias", usos e factos  á volta desta e de outras espécies da familia das Myricaceae (acreditem, não são poucas!) e, segunda sugestão, a quem puder e se dispuser a isso, a sua utilização como árvore ornamental. Teremos certamente bons companheiros para os neo-zelandezes metrosideros que nos últimos anos parecem ser a única espécie que existe para aprimorar as requalificações das nossas cidades e vilas costeiras!

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