domingo, 5 de fevereiro de 2017

Recomeçar depois dos Incêndios em Monchique


Pode não se acreditar mas foi apenas há cerca de 5 meses, no início de Setembro de 2016, que um violento incêndio deflagrou em Monchique destruindo perto de 4000 hectares de "floresta". Um incêndio de origem claramente criminosa mas que só ganhou aquelas proporções pela abusiva monocultura do eucalipto de que aquela serra padece. Nada que não se saiba há muito, mas ainda assim uma tragédia insuficiente para arrepiar o caminho seguido nas últimas décadas.

Depois de, a quente e  no rescaldo dos fogos, mais um lote de promessas nos ter sido feito de que era desta que a floresta portuguesa iria ser gerida estrategicamente, ainda muito recentemente governo e industria exibiam a sua sintonia nas politicas necessárias para fazer crescer o sector o que, fruto da generosa pluviosidade que ali ocorre, condenam a serra de Monchique a ser considerada uma área de elevada produtividade. Uma industria que, bem apoiada, continua a sua campanha de teor "ecológico" para nos convencer de que não há razão absolutamente nenhuma para Portugal ter uma área tão grande de" matos improdutivos".

Dito isto e esclarecidos que estamos sobre a nossa frágil memoria e de como serão, infelizmente, os Verões dos próximos anos em boa parte do país, vamos ao que interessa!

E o que interessa é que, apesar de tudo, continua a haver a possibilidade de não baixar braços, de não desistir e de recomeçar! O projecto Futuro no Porto e a renaturalização do geo-sítio das arribas fosseis da praia do Telheiro, de que escrevemos AQUI e AQUI são exemplo disso, Porém, dos muitos exemplos que certamente estão a acontecer, muitos dos quais nem sequer conhecemos, um, que nos enche de orgulho por com ele colaborarmos, é o que um casal de humanos estão a fazer em 2,5 hectares de terraços da serra de Monchique.

Depois de conhecerem uma parte significativa do mundo e de terem vivido em diferentes países, foi em Monchique que há alguns anos atrás o Rustom e a Tamasin decidiram viver e, a partir daqui, desenvolver um pequeno negócio de comercialização de mel português para o mundo  inteiro: Wild About Honey! Poderiam ter escolhido outro sítio  -  e é bem possível que existam centenas de sítios em todo o Mediterrâneo igualmente  agradáveis para viver, mas foi ali que escolheram viver. Ou, se preferirmos, foi ali que a terra os escolheu e lhes pediu para ficar.

É que para nós, o mérito é  todo daquela serra, que depois de tão maltratada percebe claramente que, não conseguindo expulsar quem a explora, precisa  urgentemente de seduzir e reter gente que a possa ajudar. 

Depois dos incêndios de Setembro passado, o Rustom e a Tamasin poderiam simplesmente ter escolhido partir, até porque nem são proprietários daquele espaço. Seria muito mais fácil e certamente muito menos trabalhoso e frustrante. Mas não. Decidiram recomeçar e estão desde então de mangas arregaçadas e ao seu ritmo a procurar devolver novas e brilhantes Primaveras aqueles 2,5 hectares de terraços. 

Para nossa grande satisfação temos o privilégio de poder colaborar com eles no  seu repovoamento, tendo fornecido misturas de sementes de flores e arbustos silvestres, muitas delas colhidas naquela mesma região nos meses que antecederam os incêndios.

Porém, o que verdadeiramente nos deixa mesmo felizes é ver que na hora de gostar desta terra, a nacionalidade inscrita no cartão de identificação é totalmente irrelevante! 

Ao Rustom e à Tamasin o nosso obrigado por ficarem e persistirem nesta terra que é obviamente vossa!


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