segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Mata Nacional do Vimeiro




Ontem participámos em mais uma saída de campo da Lirium - Aromaticas, desta vez na Mata Nacional do Vimeiro, Alcobaça, com a atenção voltada para os fungos e cogumelos que nesta altura do ano têm a sua época de glória.

Claro que as saídas de campo da Lirium nunca são apenas sobre um aspecto em particular e versam sempre sobre muitos e diversificados temas. Tantos quanto a Natureza e o Homem em acção provocam nos diferentes participantes que em cada saída se dispõem a partilhar o que vão sabendo.

E a Mata Nacional do Vimeiro é um desses sítios perfeitos para ocupar uma manhã de um Domingo de Novembro. A começar pela designação do espaço. Uma Mata Nacional. Vá lá saber-se porquê, mas numa época em que o Estado se evapora de todo o lado, a expressão Mata Nacional transporta-nos ainda e sempre para o território seguro de um País a sério, com uma administração organizada e que até tem matas nacionais!  

É certo que para a grande maioria de nós, as matas nacionais são coisas vagas, quase lendas medievais. Alguns conhecem ou ouviram falar do Pinhal de Leiria, eventualmente por ser o maior, mas a grande maioria, urbana ou não, desconhece que no seu património privado, o Estado tem a responsabilidade de inumeras propriedades, umas matas nacionais, outras perimetros florestais, outras simples propriedades agro-florestais. Com alguma paciência é possivel chegar ao mapa de todos esses espaços, disponível no site do ICNF, mas não se espere encontrar muita informação. Os recursos para tomar conta deles não são muitos e, em sintonia, não convém fazer grande publicidade aos mesmos.

Sucede que esta Mata Nacional do Vimeiro não é uma mata qualquer. É uma floresta que já o é há alguns séculos e que não foi indiferente aos que por cá andaram antes de nós.

Para começar convém dizer que apesar da passagem dos séculos e do uso que o Homem fez dela, conserva ainda muitas das espécies autóctones que espontaneamente a Natureza atribuiu a este território a Oeste da Serra dos candeeiros.

Fazendo parte desde o século XII  dos coutos da Abadia cistercience de Alcobaça, mais concretamente do couto do Vimeiro, esta propriedade de cerca de 100 hectares foi sabiamente preservada pelos monges como a reserva florestal mais significativa dos seus domínios, que, refira-se chegaram a totalizar cerca de 500 km2. Como é sabido, os monges de cister foram hábeis agricultores, mas nem tudo teve de ser arroteado e desbravado para campos de cultivos, e esta floresta foi deliberadamente preservada.

E assim se manteve durante quase 700 anos, como propriedade dos monges de Alcobaça. Até 1833, ano em que o decreto de extinção  das ordens religiosas masculinas e consequente nacionalização dos seus bens, a fez transitar para a posse do Estado. Por razões que não aprofundámos, escapou á sanha das hastas públicas e nunca chegou a ser alienada.

De 1833 até aos dias de hoje ainda lhe sucederam mais factos relevantes e nem sempre das melhores, mas alguns a pedirem para serem mais averiguados, como o facto de Vieira Natividade, um dos agrónomos portugueses mais ilustres do inicio do Século XX, aí ter instalado um viveiro e um campo de experimentação de sobreiros.

É certo que hoje a mata sofre de alguns problemas, as acácias proliferam e as construçoes estão arruinadas. Poderia e deveria estar mais cuidada. Porém,  apesar de tudo, os carvalhos-cerquinhos centenários lembram que o essencial não está perdido e que o futuro pode sempre reservar novo esplendor para um dos legados dos monges de cister. A sua floresta. Existe e pode ser usufrida por todos os que dela se quiserem aproximar.

E para nós, que além do passeio  de ontem, a frequentamos com alguma assiduidade na colheita de algumas das nossas sementes, é uma das Matas Nacionais que convém visitar pelo menos uma vez!

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