quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

2020: Sementes de Portugal em Revista

 



Passando 2020 em Revista, escusado será dizer que também para nós 2020 foi, possivelmente, o ano mais atípico e difícil que tivemos! 

Porém, se o simples facto de continuarmos a existir  já seria motivo de muita satisfação, a verdade é que o nosso 7º ano de existência foi cheio de concretizações que nos enchem de satisfação. 

De todas elas salientamos, neste ano em que deixou de estar entre nós o Arq. Gonçalo Ribeiro Teles,  quatro momentos maiores:

1º - A nossa participação, enquanto membros fundadores, na Assembleia Geral da Associação Europeia de produtores de sementes silvestres;  ENSPA - European Native Seeds Producers, que se realizou no início de Fevereiro em Irdning-Donnersbachtal - Austria

2º - A possibilidade de participarmos, enquanto fornecedores,  no novo Jardim da Praça de Espanha  - chamará Jardim Arq. Gonçalo Ribeiro Teles. Ao longo da Primavera e Verão deste ano focámos a nossa energia na recolha, tratamento e limpeza de sementes de mais de 100 espécies autóctones da nossa flora autóctone que ocorrem na região da Grande Lisboa. Uma oportunidade única para levar para um jardim no centro da cidade o essencial da nossa flora silvestre contribuindo para a sua biodiversidade

3º- As melhorias efectuadas nas nossas instalaçoes das Caldas da Rainha, ao nível do equipamento/organização do espaço, mas sobretudo no belíssimo Mural  que dois jovens artistas plásticos da cidade- a Constança e Joao Margarido, criaram para nós no final do mês de Agosto.

4º - Por fim, enquanto sócios da Sociedade Portuguesa de Botânica, recordaremos 2021 como o ano em que foi finalmente publicada a Lista Vermelha da Flora Vascular de  Portugal Continental. Um projecto liderado pela Sociedade Portuguesa de Botânica, que avaliou o estado de conservação de mais de 600 espécies da nossa flora e que será relevante nas politicas de conservação do nosso país. O nosso contributo foi diminuto, mas mesmo assim um privilégio, ao apadrinharmos  4 espécies que apreciamos particularmente: a Genciana (Gentiana lutea, criticamente em perigo);  a Flor-de-adónis (Adonis annua; vulnerável); o Carvalho-de-Monchique (Quercus canariensis, criticamente em perigo) e a Mandrágora (Mandragora autumnalis, em perigo).

Nas duas imagens tentámos resumir os momentos mais marcantes de 2021. Com a certeza porém de que só puderam acontecer graças aos nossos amigos e clientes que, com as suas compras e apoio incondicional, suportaram e justificaram a nossa actividade: fornecer sementes de flora silvestre. Para jardins com maior biodiversidade e mais sustentáveis; para projectos de renaturalização, intervenções paisagisticas ou bosques mais resilientes!  

A todos, o Nosso Obrigado!







domingo, 20 de dezembro de 2020

Solstício de Inverno 2020

 


Com o solstício de Inverno a acontecer já amanhã (dia 21, pelas 10.00),  marca-se  oficialmente o fim do Outono e o início do Inverno. Esta é a altura em que, desde há milénios, no hemisfério Ocidental se celebra, das mais variadas formas, a vitoria da luz sobre as trevas. 

E efectivamente amanhã será o dia mais curto do ano: apenas teremos 9h27minutos de luz. Mas é também a partir de amanha que os dias, um após o outro, começarão a ganhar terreno sobre a noite!

  A  todos os que nos acompanham, os votos de um Feliz, Fraterno e Luminoso Natal.

sábado, 21 de novembro de 2020

23 de Novembro: Dia Nacional da Floresta Autóctone

 


Dia 23 de Novembro - Dia Nacional da Floresta Autóctone. 

Não fossem as medidas de confinamento decorrentes do COVID19 e este fim de semana seria marcado, um pouco por todo o país, de acções de educação ambiental de plantação de espécies autóctones. Haverá ainda assim certamente algumas acções simbólicas. 

Mas o essencial a reter é que, ao contrario das plantações de Primavera em Março pelo dia Mundial da Árvore, é no mês de Novembro e Dezembro que no nosso país mais faz sentido plantar árvores e arbustos nativos. E é fácil de compreender porquê. 

É a altura em que terão a humidade e o tempo necessário para enraizarem e com isso melhor suportarem as temperaturas altas que a partir de Maio teremos.  Mas para aqueles que levam a sério as medidas de confinamento e este ano nem uma árvore irão conseguir colocar na terra, nem tudo está perdido! Há muitas e boas leituras sobre a importância vital que a Floresta Nativa tem para o ordenamento do nosso território. Um dos últimos posts no Facebook que lemos e que  vale a pena ler é da autoria do Prof. Jorge Araujo, professor na Universidade de Évora, e que bem sintetiza os desafios que temos hoje pela frente se quisermos deixar às gerações seguintes uma Floresta digna do nome!


"As florestas

Sob a designação genérica de floresta encobre-se um equívoco de consequências gravosas: no mesmo saco, incluímos o que resta da floresta autóctone (bosque, mata), o que foi domesticado pelo Homem (montado) e os povoamentos arbóreos para produção (pinhais, eucaliptais, castinçais).

O neolítico trouxe a reconversão progressiva do modo de vida de caçador-recolector para o agro-pastoril e, consequentemente, uma pressão sobre a floresta para libertação de terrenos destinados à pastorícia e à agricultura. Se até então, a floresta tinha evoluído ao sabor dos movimentos tectónicos e das alterações climáticas, na escala dos milhões de anos, a partir do neolítico, a intervenção humana acelerou drasticamente a sua mutação, na escala dos milhares ou mesmo das centenas de anos.

A chegada dos romanos à Ibéria por volta de 218 aC veio acentuar essa pressão pois, não só pretendiam substituir os cartagineses e fenícios na exploração das riquezas minerais, mas também produzir trigo, de que necessitavam para alimentar o Império. Aliás, todo o Norte de África, integrado no Império Romano, formatou-se como um imenso celeiro de Roma. Durante os 600 anos que permaneceram na Península, os romanos substituíram a economia de subsistência das primitivas tribos por grandes unidades de exploração agrícola, produtoras de azeite, vinho, cereais e pecuária. Em suma, com os romanos, assistiu-se à primeira grande transferência de solo florestal para a agricultura e a pastorícia.

Não esqueçamos ainda que a madeira foi, até ao advento dos combustíveis fósseis, e mesmo depois em muitas regiões, a principal fonte de energia para aquecimento e indústrias; as energias do vento e da água eram supletivas e aproveitadas para moagem e pouco mais. Portanto, a floresta autóctone teve de ser ela a suprir a “parte de leão” das necessidades energéticas, ao mesmo tempo que se via progressivamente amputada do seu solo em proveito da agricultura e da pastorícia; e isto... durante séculos!

Uma solução airosa foi encontrada no Sul onde dominavam as quercíneas perenifólias, a azinheira e o sobreiro. A astúcia consistiu em desadensar o bosque, abrindo espaço para o pastoreio, nomeadamente do porco preto, mas poupando as árvores, as quais foram sujeitas à poda, que favorece a produção de bolota, de que se alimentavam os suínos. A esta solução atribui-se a designação de “montado”. A cortiça, adquirindo um estatuto económico relevante, contribuiu para a sustentação económica dos montados, na perspetiva de sua exploração em uso múltiplo. 

Mas mesmo o montado, apesar do compromisso que representava com a pastorícia, não resistiu, já no séc. XX, à agricultura impulsionada pela política que visava a auto-suficiência da produção do trigo. Em 1929, inspirado na “Bataglia del grano” promovida por Mussolini, na Itália, o Estado Novo, ignorando as advertências de quem sabia, designadamente do Prof. Azevedo Gomes, lançou a “campanha do trigo” que teve a sua maior expressão no Alentejo e, por via da qual, foi subsidiado o arroteamento de vastas áreas de montado e matos para expansão da cultura do trigo. A erosão e o esgotamento da pouca fertilidade dos solos, maioritariamente delgados, conduziram rapidamente ao insucesso: a partir de 1934, a produção não cessou de decair.

Chegados ao séc. XXI, Portugal tem pela frente um desígnio maior: reconstituir grande parte do seu património florestal, inspirando-se na composição das florestas autóctones.    

Em boa verdade, a maior parte do coberto vegetal que tem ardido, é composto por uns miseráveis povoamentos de pinheiros e de eucaliptos com que foi substituída a floresta autóctone ou ocupados os campos abandonados pelas culturas tradicionais, pouco resilientes no contexto da economia aberta. Quem atravessar as nossas Beiras (e não só), encontrará extensas manchas verdes, enganosamente florestais, candidatas a mudarem para cinzento, e extensas manchas cinzentas à espera de reverdecerem para de novo voltarem a arder.

Impõe-se quebrar este ciclo verde-cinza. Não vale a pena culpabilizar a economia; do mesmo modo que só se eliminarão os plásticos abandonados quando estes forem generalizadamente reconhecidos como matéria-prima valiosa para indústrias transformadoras, também a floresta só será protegida quando o seu repovoamento, manutenção e proteção assentarem numa equação económica robusta. Mas, para tal, importa atribuir valor ao que tem valor: isto é, aos serviços que a floresta nos presta.

• As florestas são sumidouros de carbono, e produtores de oxigénio que nós consumimos em cada segundo das nossas vidas. Quanto vale este serviço?

• As florestas são a única barreira eficaz contra a desertificação: cortam o vento, retêm a água, enriquecem o solo, regulam o regime das chuvas, refrescam o ambiente. Estamos dispostos a prescindir delas? Quanto vale este serviço?

• As florestas pintam paisagens que nos encantam, e nos repousam fazendo esfumar-se o stress; oferecem-nos também ambientes propícios a atividades de lazer e desporto. Quanto vale este serviço?

• As florestas e a sua biodiversidade são um dos ativos do território mais importantes para a promoção do turismo. Quanto vale este serviço?

• As florestas fornecem-nos diversos materiais como madeira, cortiça e resina, que o Homem explora desde sempre; mas também frutos, cogumelos, mel e muito mais. 

Enquanto não estivermos dispostos a reconhecer e contabilizar os inúmeros e insubstituíveis serviços que a floresta nos presta, se for genuína e acarinhada, encararemos sempre a reflorestação como um pesado encargo e não como um investimento. E é aí que está o busílis! 

A par da floresta autóctone, pode e deve haver, em terrenos apropriados e de forma regulada, agricultura florestal (silvicultura) para produção de madeiras e de pasta de celulose, que se enquadram, é bom de ver, na fileira do sequestro de carbono desde que, depois de usados, esses materiais não sejam queimados, mas sim reciclados.

Daí a importância, também, da economia circular!

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Homenagem ao Arq. Gonçalo Ribeiro Teles

Em dia de Luto Nacional, também nós nos associamos e prestamos a nossa homenagem ao Arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles (1922-2020). 


Que a sua passagem aos 98 anos tenha sido em Dia de S. Martinho, não deverá ser mera coincidência. Alguém que ao longo da sua longa vida nunca regateou generosidade para com este país merece todas as homenagens que lhe possamos fazer!

Mas as melhores homenagens serão sempre aquelas que transformem em acção as suas palavras e as suas visões! E neste particular, verdade seja dita, há muitas acções nas últimas décadas em matéria de ordenamento do território e do ambiente que não nos encherão de orgulho! Muito do que foi semeado pelo Arq. Gonçalo Ribeiro Teles nos anos 70 e 80 foi ignorado ou cortado rente (RAN/REN, etc) nos 20 anos seguintes.

Resta-nos o consolo de que as raízes do que semeou, rebentem agora de toiça por todo o lado. E que hoje, um sem numero de pessoas nos mais variados quadrantes, faça todos dias renascer - pela acção - a sua visão! Por todas as generosas sementeiras que fez ao longo da sua vida, e foram muitas, o NOSSO OBRIGADO!

Nota - Há quase 7 anos, por altura do Ano Novo de 2014 publicámos no nosso blogue um pequeno vídeo (de 2005!), "Em nome da Terra", onde a mensagem principal era a da necessidade de trazer o campo para a cidade! Há inúmeros vídeos que valerá a pena ver para beneficiarmos do que pensou. Este é, certamente, um deles. AQUI.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Sementes de Portugal: 7º Aniversário!

 


Assinalamos este fim de semana o nosso 7º Aniversário!

A todos aqueles que nos seguem e sobretudo a todos os muitos clientes que nos permitiram chegar aqui, o nosso MUITO OBRIGADO! 

Sem eles teria sido impossível acreditar que, à semelhança de outros países europeus, também em Portugal fazia sentido existir um projecto empresarial totalmente especializado na flora silvestre do nosso país! 

Um projecto de dimensão humana, exclusivamente vocacionado para a promoção de todo o potencial das espécies autóctones que ocorrem no nosso país e cuja utilização se impõe mais do que nunca nas mais diversas vertentes: Em jardins mais resilientes, em bosques com maior biodiversidade e em projectos de renaturalização ou requalificação paisagística! 

 E se fez sentido existirmos nestes últimos 7 anos, temos hoje a firme certeza de que teremos missão para muitos mais anos! 

Nota - Em 24 de Outubro de 2013 publicámos o nosso primeiro post AQUI .

 Poderia ter sido escrito hoje e permaneceria perfeitamente actual! 

Obrigado a todos!

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Lista Vermelha da Flora Vascular - Portugal continental

Decorreu hoje, dia 13, na Fundação Calouste Gulbenkian a conferência de apresentação pública do relatório final do projecto  da Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental. 

Um dia importante e que é o culminar do  processo liderado pela Sociedade Portuguesa de Botânica e pela PHYTOS, que ao longo dos últimos 3 anos avaliaram o estado de conservação  de 630 espécies da nossa flora.  

Só se pode gerir o que se conhece e este é um importante instrumento que poderá (deverá!) ajudar na definição das nossas politicas de conservação da biodiversidade e ordenamento do território. Das 630 espécies analisadas, perto de 380 - cerca de 60% - enfrentam algum tipo de ameaça! Conheçê-las é o primeiro passo para as proteger, uma responsabilidade que é de todos nós!

Toda a informação produzida ao longo do projecto está e estará disponível para a comunidade no site: https://listavermelha-flora.pt/

Das muitas espécies que fizeram parte do Estudo, há quatro que as Sementes de Portugal tiveram o privilegio de apadrinhar: a Genciana (Gentiana lutea, criticamente em perigo);  a Flor-de-adónis (Adonis annua; vulnerável); o Carvalho-de-Monchique (Quercus canariensis, criticamente em perigo) e a Mandrágora (Mandragora autumnalis, em perigo).

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Outono: chegou o tempo de semear


 

Outono: Chegou o tempo de Semear! 

Desde as 14.31 de hoje, terça-feira, dia 22, que estamos oficialmente no Outono.

Serão 3 meses de dias de tons quentes e mornos, com menos luz de dia para dia, que nos acompanharão nos próximos 3 meses até ao Solstício de Inverno no dia 21 de Dezembro. Para muitos é a estação triste e deprimente dos dias pequenos, da chuva e do vento. Erradamente! 

O Outono é a segunda Primavera do ano, e no hemisfério norte, onde nos situamos, é o reinicio do ciclo da Natureza que nos rodeia e da qual fazemos parte. Visto com os olhos certos é a oportunidade para, de forma mais serena, recomeçar de novo e decidir o que queremos para o período de expansão que nos será oferecido na próxima Primavera de 2021. 

E se isto serve para quase tudo, serve sobretudo para todos aqueles que este ano decidirão regressar à terra e ao Jardim pela flora silvestre do nosso país!  Estão reunidas as condições perfeitas de temperatura e humidade para fazer germinar sementes!  Chegou o tempo de semear hortas e jardins. Mais sustentáveis, com mais biodiversidade e com as espécies mais emblemáticas da nossa flora silvestre!

domingo, 30 de agosto de 2020

Caldas da Rainha : Germinar rima necessariamente com Criar!

 


Faz já quase 6 anos a primeira vez (e única!) vez que publicámos sobre a cidade onde estamos sedeados. Aqui, nas Caldas da Rainha. Se na altura a referência já pecava por tardia, mais do que 5 anos sem dizer nada sobre a cidade que nos acolhe não tem simplesmente uma explicação razoável.

O facto é que as Sementes de Portugal são mesmo de quase todos os sítios do nosso país, de onde provêm as sementes que colhemos e comercializamos. São do Nordeste Transmontano mas também do Sudoeste Alentejano e Algarvio. São dos calcários da estremadura e do barrocal mas também do Litoral Norte e do Alentejo. Por outro lado, as plantas nativas, o que elas proporcionam e as suas inúmeras potencialidades, fornecem tantos temas de divulgação que nos vamos focando quase exclusivamente neles.

As nossas instalações, inseridas nos SILOS/antiga moagem de cereais - CERES -  que nos últimos 10 anos e em pleno centro da cidade das Caldas se soube transformar num fervilhante condomínio de actividades criativas que vão desde a música à pintura, escultura, ateliers de cerâmica -, são no fundamental logísticas. Nem sempre lá estamos, mas é nelas que centralizamos as sementes  que recolhemos  e onde procedemos à sua limpeza, selecção, conservação e posterior comercialização.

À primeira vista uma empresa de sementes, por pequena que seja - como é o nosso caso, deveria estar isolada no meio do campo ou de uma quinta. Mas isso é só mesmo à primeira vista! Na realidade o que fazemos nas Sementes de Portugal está bem longe dos processos de industrialização e maximização de produção que hoje nos dizem dever dominar toda a nossa existência. E está bem mais  próximo daquilo que para nós pode ser a melhor, senão única, possibilidade da Natureza humana: a do sonho, a de dar forma ao que não a tinha, a de nos superarmos a nós e, connosco, o que nos rodeia . Seja a semear, a colher, a regar, a florir ou a pintar, esculpir ou a conceber o que nunca existiu!

Por isso é que para nós as Sementes de Portugal estão sedeadas onde devem de estar: Nas Caldas da Rainha. Onde também elas podem fazer parte de um ecossistema onde o melhor da Natureza humana tem a sua oportunidade.

E foi a isso tudo que a Constança (www.instagram.com/a.cmarie/) e o João (www.instagram.com/joaommargarido/), jovens artistas plásticos de méritos reconhecidos, fizeram ao dar as cores certas quando lhes pedimos para nos criarem um mural que fosse a cara das Sementes de Portugal. E o resultado já se colou à nossa pele. A eles, o nosso OBRIGADO por terem germinado tão bem esta ideia! 










domingo, 21 de junho de 2020

Solstício de Verão

Desde as 22h.44m de ontem, dia 20 de Junho, que estamos oficialmente no Verão!

Para a maior parte de nós começou a melhor altura de ir à praia, passear e descansar. Porém, sendo certo que também o é, o Verão é sobretudo o tempo para colher o que se semeou desde o Outono! Daí que nos próximos 3 meses o enfoque das nossas energias estará em colher as sementes das espécies mais emblemáticas da nossa flora e que todos poderemos semear a partir de Outubro!

De qualquer das formas não se pense que agora a Natureza apenas tem sementes para colher! Os seus ritmos apurados não permitem "colocar todos os ovos no mesmo cesto" e continuará a ser possível usufruir da beleza das muitas espécies que se foram programando para florir no Verão. Serão em menor numero sim, mas existem! Seja nas zonas litorais da costa marítima, seja nas zonas húmidas, há espécies incríveis que prolongarão a Primavera até ao final de Agosto!

Mas se a tónica dominante do Verão é a de colher, convém não ignorar que há em todas elas tempo para Semear, Descansar,Celebrar e Colher. O que muda apenas é o enfoque!

A todos os que nos seguem os votos de um bom Verão. Se não a Colher, a Descansar ou a Usufruir. E sobretudo a preparar o que se quererá Semear, daqui a cerca de 3 meses, no início do próximo ciclo!
Nota: Há um ano atrás publicamos no nosso blogue um texto a propósito do solstício de Verão que no essencial resume o que para nós significa o Verão. AQUI.

domingo, 14 de junho de 2020

A oportunidade das Limpezas Florestais


Nos últimos anos e sobretudo desde os grandes incêndios de Pedrogão Grande em 16 Junho de 2017 - fazem agora 3 anos!, as leis de limpeza de espaços florestais, com regras nem sempre fáceis de compreender, têm colocado uma pressão adicional sobre pequenos proprietários que, em prazos apertados, com custos significativos e sob pena de multas pesadas, são forçados a realizar trabalhos de limpeza de muita duvidosa necessidade e com claros prejuízos em matéria de biodiversidade.

É claro que se o bom-senso fosse generalizado não seriam necessárias leis, mas ainda assim há alguns aspectos que, no espírito da lei em vigor, poderão ser tidos em linha de conta tornando o seu cumprimento menos gravoso ponto de vista ambiental e até mesmo uma oportunidade de valorização de outras espécies autóctones que  ocorrem espontaneamente nas parcelas a limpar.

Esses aspectos são, de forma resumida, os seguintes:

 - O espírito da lei pretende acima de tudo uma redução significativa da matéria combustível. Isto é, não é necessário destroçar de forma generalizada tudo excepto árvores adultas! Além destas há um sem numero de arbustos, sub-arbustos e árvores juvenis que, além de pouco combustíveis, são um importante suporte para inúmeras formas de vida. Medronheiros, adernos, pilriteiros, carrascos, folhados são, entre muitas outras espécies, alguns exemplos. Preservá-las através de uma limpeza selectiva não representa custos acrescidos e os benefícios são visíveis.
 - Apesar do limite para a realização de trabalhos de limpeza coincidir com a Primavera (este ano prolongado até ao fim de Maio, devido aos impactos do vírus COVID-19), estes trabalhos não têm de ser efectuados em plena Primavera. Pelo contrário! A Primavera é a época de floração da grande maioria das plantas e de procriação da maior parte dos seres vivos, pelo que perturbar o seu habitat nesta estação é prejudicar irremediavelmente a biodiversidade. Na nossa perspectiva, a  melhor altura para executar estes trabalhos é, se for possível, de Setembro a Janeiro.

 - Reduzir a matéria combustível, na grande maioria dos casos, alcança-se reduzindo apenas as espécies mais abundantes e de crescimento mais vigoroso. Em regra e quase sempre, consoante as regiões, urzes, fetos, tojos, silvas e estevas. E dizemos "reduzir" em vez de eliminar porque não faz sentido pretender erradicar estas espécies. Além de ser um esforço inglório, ela desempenham um importante papel pelo que podem ser deixadas pequenas manchas a serem geridas, de forma alternada, ao longo dos anos.

 - Por fim, as acções de limpeza florestal são uma excelente oportunidade para criar bosques por regeneração natural, sem necessidade de plantar ou semear árvores que, na maioria dos casos, sao provenientes de outras regiões. A grande maioria dos povoamentos de pinheiro ou eucalipto existentes foram efectuados ao longo do século XX. Porém, ao contrário do que hoje acontece, os métodos de plantação não aniquilaram as espécies pré-existentes como carvalhos ou sobreiros. As suas raízes permanecem vivas e só esperam uma oportunidade para rebentar a partir da "toiça". Estas, a que se somam as foram semeadas pelas aves - gaios, por exemplo, são quase sempre mais do que suficientes para iniciar uma renaturalização bem sucedida. Mais do que semear ou plantar novas árvores, o importante é realizar uma limpeza selectiva que salvaguarde as já existentes!

Terminamos por fim com um pequeno video ilustrativo de uma limpeza florestal que tivemos a oportunidade de influenciar recentemente e que, de acordo com as linhas acima descritas, permitiram alcançar resultados muito mais mais equilibrados.

Trata-se de uma pequena parcela, na região de Leiria -Batalha, a Oeste da maciço calcário estremenho (Serra de Aire e Candeiros), cujo povoamento original de Carvalhos-cerquinhos (Quercus faginea broteroi) e sobreiros (Quercus suber) foi, ao longo das últimas décadas substituído por pinheiros e eucaliptos. 

A limpeza agora efectuada, apesar de não ter sido realizada na melhor altura(início de Junho), pretende no médio e longo prazo voltar a dar a primazia aos carvalhos e e sobreiros. Mas sem radicalismos. Neste processo foi efectuado um desbaste de eucaliptos e pinheiros e os que se deixaram, além de futuramente produzirem madeira, ajudarão na protecção das outras espécies ainda juvenis como é o caso, para além dos carvalhos e sobreiros, dos folhados, zambujeiros e pilriteiros.

As pilhas/amontoados de ramos e folhas, dispostos de acordo com as curvas de nível, irão decompor-se ao longo do tempo. Além de incorporarem matéria orgânica no solo, ajudarão a reter água e servirão de abrigo a repteis e pequenos mamíferos.

No final as espécies preservadas permitirão que dentro de alguns anos surja nesta parcela o que será um bosque mais resiliente e com um risco de incêndio bastante menor!



sexta-feira, 5 de junho de 2020

Dia Mundial do Ambiente ?

Dia 5 de Junho - Dia Mundial do Ambiente. Depois do dia da Árvore em 21 de Março, do Dia da Terra a 22 de Abril, do Dia internacional do fascínio das Plantas em 18 de Maio; do Dia da Abelha a 20 de Maio e do Dia da biodiversidade a 22 de Maio, as festividades de hoje encerram por este ano o circuito de celebrações para sossego das consciências. Os media, o governo, escolas e um sem numero de organizações ,celebrarão com bonitos logotipos e muitas acções de sensibilização o Dia Mundial do Ambiente. 

Mas equanto isso acontece, nós, portugueses, tratamos assim a Terra em que vivemos para fazer renascer um eucaliptal em fim de vida na região Oeste. Com uma receita simples: retiram-se todos os cepos, hoje carcaças esgotadas por diversos cortes em 30 anos de produção; lavra-se e draga-se com maquinaria pesada; destroi-se qualquer forma de vida que possa existir e afecta-se profunda e irremediavelmente a estrutura do solo. fazem-se ainda uns socalcos para melhor gerir e espetam-se eucaliptos. E aí teremos, uma nova "floresta sustentável", possivelmente "certificada" e que, provavelmente, até ganhará prémios europeus de exemplar sustentabilidade livre de incêndios!

Só que isto não é floresta! Aliás Isto nem monocultura chega a ser!

Isto a ser alguma coisa é mineração a céu aberto de papel higiénico, indústria onde Portugal decidiu ser líder mundial. É evidente que ali - uma ZIF- Zona de Intervenção Florestal que poderia ter os sobreiros mais produtivos do país, nunca existirão fogos porque tudo está morto. Nem fogos nem nada. nem uma erva nem um pássaro ou um rato. Apenas a morte.

Excepto os pobres eucaliptos que nos próximos 30 anos terão de parir pasta de papel à força, dê por onde der.

Nota -As sementes de Portugal são uma micro empresa exclusivamente dependente dos clientes que lhe adquirem sementes de flora silvestre! Por varias razões, explicáveis e inexplicáveis, no nosso país considera-se que uma empresa deve ser apolitica, exclusivamente focada nas vendas e lucros, devendo abster-se da politica e ter uma comunicação de responsabilidade social o mais assexuada possivel para que ninguém se melindre. Não é o nosso caso. Qualquer coisa que exista a pulsar neste planeta, mesmo sendo abstracta como o é uma empresa,faz politica diariamente na sua actividade. E não é somente quando paga impostos ou Segurança Social ou as taxas devidas, com a regularidade exigida, como é o nosso caso mesmo em tempo de COVID19. Tem também a obrigaçao moral de, na sua área e nas conexas, não ser indiferente ao que a rodeia.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Três espécies que merecem um lugar em qualquer jardim




Há 30 dias atrás assinalávamos o inicio do mês mais glorioso da nossa Primavera - Maio - e hoje assinalamos o seu fim com 3 espécies altamente ornamentais, mas que incompreensivelmente ainda hoje são pouco utilizadas na nossa jardinagem. E Injustamente. 

As 3 espécies pertencem todas à grande família das Apiáceas (o nome API indicia o quanto apreciadas são pelas Abelhas e da qual, só em Portugal , ocorrem cerca de 100 espécies distribuídas por 40 géneros diferentes) e todas alcançam um porte considerável, sendo possível encontrá-las um pouco por todo o pais. 

Na foto, em baixo da esquerda para a direita, o Canabrás (Heracleum sphondylium) o primeiro a florir em Março; o Turbit-da-terra (Thapsia villosa) que tem o seu auge de floração em Abril -Maio e a Canafrecha (Ferula communis), a mais alta das nossas espécies herbáceas (pode atingir 3 metros de altura!), e que tem em Maio-Junho o seu período de glória. 

Todas elas, além de estéticas e atractivas para as abelhas, partilham uma outra boa característica: são perenes vivazes. Isto é, só aparentemente é que morrem com a chegada do Verão. Para sobreviverem aos 3 meses de calor intenso que agora se seguem as suas raízes entram em dormência para renascerem com as primeiras chuvas do Outono. 

Ao longo dos últimos 6 anos fomos partilhando vários posts sobre esta família, onde se incluem as cenouras-bravas e o funcho, mas também espécies venenosas como a Cicuta! 

Para quem quiser aprofundar é só consultar a pasta das Apiaceas: http://sementesdeportugal.blogspot.com/search/label/Apiaceae

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Celebrar condignamente o Dia da Espiga


Dia 21 de Maio de 2020 - Dia da Espiga! Em matéria de feriados móveis há pouco para saber: 40 dias antes da Páscoa é o Carnaval e 40 dias depois a Quinta-feira da Ascensão - uma forma habilidosa para a Igreja tomar como sua as enraízadas celebrações pagãs da fertilidade da Terra e das colheitas generosas que pelo centro e sul, nomeadamente no Alentejo, se celebram desde há milénios.

Uma tradição tão profunda que até ainda bem pouco tempo este era o DIA! "o dia mais santo do ano", em que não se devia sequer trabalhar. Ou o dia da hora porque havia uma hora, o meio-dia, em que tudo parava, "as águas dos ribeiros não correm, o leite não coalha, o pão não leveda e as folhas não se cruzam". Era nessa hora, pelo meio-dia, que se deviam colher as plantas para fazer o ramo da espiga, do qual, em dias de trovoadas se queimava um pouco no fogo da lareira para afastar os raios.

Um ramo a preceito tem, cada uma com o seu significado, oliveira, alecrim, pampilhos, folhas de videira, papoilas e espigas. de forma diversificada e equilibrada, que a abundância nunca foi nem nunca será feita de monocultura intensiva. E, em muitas cidades e vilas do nosso pais* que têm neste dia o seu feriado municipal, é o que muitas pessoas irão fazer hoje: colher um ramo de espiga!

Porém, nos dias de hoje celebrar o dia da Espiga terá pouca serventia se for apenas para cumprir a tradição e nos lembrarmos como era Portugal até aos anos 80. Por muito bonito que seja o ramo, mais importante que isso, do que celebrar a Espiga, o Dia do fascínio das plantas de há 2 dias atrás ou mesmo o Dia das abelhas que se celebra hoje dia 20 de Maio ( que na pratica são dias que também de forma também habilidoso foram instituídos simplificando o ancestral dia da Espiga que já celebrava tudo isso!) , é importante termos presente que a terra que habitamos é também em boa parte resultado da nossa acção e vontade colectiva. Fará sentido celebrar o dia da Espiga e tudo o resto se o Alentejo se transformar num território exclusivo da monocultura de Amendoal e de Olival intensivo!?!? Se deixarem de existir searas e bermas floridas? Nós temos duvidas! Aliás, as maiores duvidas que essa fosse a fertilidade desejada pelos nossos antepassados! A "fertilidade" nauseabunda dos lagares de azeite que hoje, mesmo na Primavera,se respira em muitas estradas do Alentejo. Dai que, mais do que colher a espiga e fazer um ramo bonitinho, o desafio mais relevante seja o de reflectirmos até que ponto as nossas acções individuais e colectivas poderão, ou não, influenciar a paisagem que é "transformada" à nossa volta sem que sequer nos tenha sido perguntado se era isso mesmo que queríamos. Se tivermos consciência do que está a acontecer ali, mas também no imenso eucaliptal do centro interior ou nos novíssimos pomares de abacate e laranja do Algarve, sem que tenhamos tido sequer uma palavra, então o Dia da Espiga será celebrado condignamente! Se calhar sem tanta alegria, mas pelo menos mais consciente!

**Alcanena, Alenquer, Almeirim, Alter do Chão, Alvito, Anadia, Ansião, Arraiolos, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Beja, Benavente, Cartaxo, Castro Verde, Chamusca, Estremoz, Golegã, Loulé, Mafra, Marinha Grande, Mealhada, Melgaço, Monchique, Mortágua, Oliveira do Bairro, Quarteira, Salvaterra de Magos, Santa Comba Dão, Sobral de Monte Agraço, Torres Novas, Vidigueira e Vila Franca de Xira, são algumas das muitas localidades que assinalam o seu feriado municipal amanha dia 21, dia da Espiga!

domingo, 10 de maio de 2020

A invenção da Natureza


A propósito do dia da Europa, que se assinalou ontem dia 9 de Maio, partilhamos hoje um post sobre um dos europeus cuja visão e trabalho marcaram da forma mais significativa e inspiradora o mundo contemporâneo e a forma como ainda hoje olhamos para o mundo que nos rodeia.

Humboldt (1769-1859), o "maior homem desde o dilúvio" como alguém seu contemporâneo lhe chamou,  não foi só o último dos grandes universalistas europeus cujo saber enciclopédico se distribuía por diversas disciplinas. Foi também um dos primeiros a perceber que a Natureza, mais do que uma criação divina para usufruto do Homem, era sobretudo um todo interligado e interdependente cujas relações era necessário estudar e compreender. 

Mas esta visão revolucionária - que o levou há 200 anos a prever as expectáveis alterações climáticas como resultado exploração predatório dos recursos, não se esgotava no mundo físico e objectivo. A poesia, a arte ou a politica eram igualmente essenciais para compreender de forma holistíca o mundo que nos rodeia.

Apesar de praticamente esquecido nos dias de hoje, a sua visão que influenciou de forma determinante cientistas e artistas ao longo de todo o séc XIX e XX, dos quais Charles Darwin é apenas um dos mais conhecidos, está hoje na base do pensamento de muitos dos ecologistas e ambientalistas de hoje.

Dono de uma vida longa e preenchida - 80 anos - e dedicada a compreender a Totalidade, Humboldt  ambicionava materializar numa única obra "que juntasse tudo o que existe nos céus e na Terra, indo das distantes nebulosas à geografia dos musgos e da pintura de paisagens à migração das raças humanas e da poesia".

A sua mais recente biografia, de Andrea Wulf, de 2015, e cuja leitura recomendamos, é uma boa forma de contactar com a personalidade fascinante de um homem que acreditava sobretudo nos ideais de Liberdade e cujas ideias contribuíram para o fim da escravatura e da emancipação dos países latino-americanos.

Em tempos em que a compartimentação e divisão da ciência, num infindável número de disciplinas que espartilham a realidade, tem sido levada ao limite, perdendo-se frequentemente a tão necessária visão do todo, aqui fica na nossa homenagem a um dos Europeus a quem nós mais devemos!

domingo, 3 de maio de 2020

As ervas daninhas não existem!



Uma das coisas que mais nos custa ler e ouvir, ainda de forma generalizada na nossa sociedade, é a expressão "Ervas Daninhas"! Como se nos coubesse a nós fazer um julgamento moral do comportamento das ervas! De uma vez por todas: as ervas daninhas não existem! O que existem são ervas e arbustos INFELIZES que tiveram o grande azar de tentar cumprir o seu ciclo de vida perto de nós!

Vem isto a propósito do ainda uso generalizado de herbicidas, das roças sistemáticas, que a partir de agora se começam a fazer de forma furiosa, e também da limpeza de matos cuja obrigatoriedade,devido ao COVID-19, foi alargada até ao fim do mês de Maio.

No caso das bermas e passeios a utilização de roçadora é francamente melhor que a aplicação de herbicidas. Porém, não tem de ser efectuada já. Pode aguardar mais algumas semanas e dar oportunidade aos milhões de insectos, pássaros e outras formas de vida de usufruírem do seu polén e néctar. Algo que, em última análise, também nos beneficiará.

Não faz é sentido celebrar o inicio da Primavera a 21 de Março, O dia da Terra a 22 de Abril e o das Maias a 1 de Maio, para, menos de 3 dias depois e logo nos dias mais gloriosos de Maio, investirmos-nos de uma raiva furiosa contra tudo o que cresce! Só porque teve a infelicidade de nos aparecer ao pé da porta!

E como estamos com as mãos na massa, acrescentamos que as ditas limpezas obrigatórias dos espaços florestais, muitas vezes com tractores e maquinaria pesada que levam tudo a eito, não distinguindo um tojo ou uma giesta de um jovem carvalho, também não fazem qualquer sentido. Seria perfeitamente possivel alcançar os mesmo resultados de redução da matéria combustível com uma roçadora manual, a qual permite fazer esse trabalho de forma mais selectiva!

As fotos deste post são da autoria da Fernanda Botelho que, a par da Alexandra Azevedo e da Quercus - ANCN são, entre outras iniciativas que um pouco por todo o país têm surgido nos últimos anos, quem mais tem trabalhado para a mudança de comportamentos nesta matéria, nomeadamente junto das autarquias locais. Mas é importante que cada vez mais de nós, junto de vizinhos, amigos e família, contribuamos seja pela pedagogia seja pelo exemplo, para uma mais rápida e efectiva mudança de hábitos!

Nota Final - A expressão "daninhas" tem uma origem - plantas que por nascerem junto das espécies agrícolas competem com estas pela água e nutrientes. Evidentemente há que fazer opções e, se queremos ter aqueles alimentos, mondar as plantas que não deveriam ali ter nascido, é o mais acertado. De igual forma isso acontece em qualquer jardim e, tal como nos campos, mondar selectivamente, à mão e sem químicos, é mais de metade do prazer de qualquer jardineiro. O critério, na hora de arrancar é sempre o mesmo é é fácil de ter presente: "esta erva compete com os recursos da planta que eu quero preservar? Se não compete e até proporciona flores, não há então razão nenhuma para a arrancar! Por exemplo, Um dente-de-leão, uma papoila ou um malmequer, dificilmente prejudicam um arbusto adulto ou uma Árvore. Acresce por fim que muitas dessas ervas têm interesse e podem ser utilizadas por nós, seja em saladas, seja como aromáticas e até mesmo medicinalmente!

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Tempo de celebrar

Se Abril é um tempo de Esperança, Maio e Junho são tempo de celebração! Continua a ser possível semear, sobretudo em tabuleiros ou vasos, mas a exuberância que vimos em nosso redor é mais resultado do que foi semeado no último Outono/Inverno. Nas próximas duas a três semanas a Natureza alcança o seu climax, nomeadamente em termos de máximos de floração, fazendo de Maio, o nosso mês mais glorioso e que tem necessariamente de ser celebrado.

A tradição das Maias, que para os Celtas marcava o inicio do Verão neste dia era acompanhada de um importante Festival - Beltrane - que o celebrava. E não há razão nenhuma, pelo contrário, para o não fazer agora sem vergonha e encarar com naturalidade um direito que assiste a todas as formas de vida: O de celebrar!

Nota - A palavra CELEBRAR mete, por razões várias, medo à maior parte de nós. Nuns casos lembramos-nos de celebrações litúrgicas e cheiros a naftalina. Noutros pensamos que é expressão para contratos e compromissos arriscados. Mas há uma terceira via, para quem não se permite e não quer correr o risco de parecer um freak espiritualista new age. E que é o seu significado original:
CELEBRAR: cantar, comemorar, dizer, engrandecer, exaltar, festejar, honrar
COMEMORAR: Trazer à memória!

E como não há Futuros auspiciosos sem trazer à memoria o Passado ou sem agradecer o Tempo Presente, Celebrar é tão relevante quanto semear, colher ou simplesmente descansar!



quinta-feira, 30 de abril de 2020

Dias das Maias


1º de Maio - Dia das Maias - Faltam menos de 24 horas para estarmos em Maio! Significa isto que temos o dia de hoje, quinta-feira, dia 30, para cumprir a tradição e colher um ramo de maias (giestas!) para o pendurar na porta antes que se faça meia-noite. Isto se quisermos afastar os maus espíritos, as doenças e a escuridão. E entrar em Maio a celebrar a fertilidade de tudo o que nos rodeia!

Em tempos de Covid-19 e com muitos de nós ainda confinados, a tarefa estará facilitada para quem tem giestas no jardim...Mas a quem as não tem, não será difícil encontrar uma por perto. É que neste momento as Giestas já estão em floração abundante por toda a parte, de Norte a Sul de Portugal.
Dirão alguns.. "Ah mas isso é uma tradição provinciana e arcaica sem qualquer significado ou utilidade...". Não é. Pelo contrário! Há muito mais num pequeno ramo de Maias do que podemos imaginar!!
Quando além de belas, resilientes e proporcionadoras de uma maior biodiversidade, as nossas espécies silvestres têm uma identidade e um forte simbolismo desde há milénios, nós não cumprimos apenas uma tradição oca ao tê-las por perto. Fundimos em nós esse significado e irmanamos-nos como todos aqueles que antes de nós lhe conferiram essa identidade. Damos-lhe vida e isso torna-nos inquestionavelmente mais ricos e sobretudo muito mais humanos!

As Maias não são só um arbusto de abundante e prolongada floração amarela que, além de meliferas, são um excelente fixador de azoto no solo! Encerram em si toda a esperança de uma terra fértil, fecunda e generosa. O 1º de Maio era para os nossos ancestrais celtas o 1º dia de Verão o que merecia um dos seus festivais mais importantes: Beltrane. (De notar que para eles só existiam duas estações: O Inverno - de 1 de Novembro a 30 de Abril e o Verão de 1 de Maio a 31 de Outubro).
E depois deles, quando éramos Romanos, consagrávamos estes dias a Maia (deusa da Fertilidade) e a Flora (Deusa da Natureza e da Primavera) num igualmente importante Festival : A Floralia, cujas festividades duravam vários dias.

Mas se isto foi há milénios,ainda no nosso pais agrário do século passado eram inúmeras as diferentes maneiras que, de região para região, existiam para celebrar a Natureza gloriosa de Maio.
No nosso pais e por toda a Europa, não deve existir época com mais ritos e celebrações do que a de Maio-Junho, Santos incluídos. É que não são só os passarinhos e as flores que sentem os calores de Maio como uma boa oportunidade para se reproduzirem. Em Vila Nova de Anços, No Baixo Mondego, era nesta noite que os rapazes colocavam coroas de flores à porta das raparigas que amavam.....E Se houver alguém que não gosta do seu aniversário no Inverno, tem aqui a razão para se alegrar! Será com toda a certeza o fruto bem sucedido de um urgente e inconfinável amor... de Primavera!

Importa por isso, apesar de em modo de confinamento ou sobretudo por estarmos num insustentável e anti-natural modo de confinamento, arranjar maneira de encontrar um ramos de Maias. Ou dois, se quisermos. So com Maias ou com papoilas ou, também com outras flores! Para pendurar numa porta ou na janela. De pernas para o ar ou para baixo, numa jarra, numa parede ou no tablier do carro. Não importa a forma nem o feito. Não há tradições vivas cristalizadas. E o que importa para lhes manter a vitalidade é e será sempre apropriarmos-nos delas, hibridá-las fecundamente com os nossos genes e dar-lhes uma nova Vida! Todas as Primaveras, temos essa oportunidade. Que a celebremos então de peito aberto!!!

A todos os que nos seguem os votos então de um Glorioso, Fértil e Abundante mês de Maio. Ou de Verão, se preferirem!

Nota Final - Sendo óbvio, não deixamos de o escrever. O dia da Mãe a 3 de Maio (é sempre no primeiro Domingo de Maio); Maio o mês de Maria, A Nossa Senhora, da Igreja católica, são apenas outras formas de celebrar com outros nomes e outros ritos uma só coisa: A fecundidade da Terra e de todas as Mulheres. Como é óbvio também, essa reverência ao profundamente sagrado que é a maternidade em sentido lato, não tem rigorosamente nada a ver com shows televisivos de quem quer casar com o Agricultor. Recentremos-nos. Mesmo latifundiário, mais não fosse por uma questão estética, seria sempre ele a transfigurar-se para provar inequivocamente que só ele e ninguém mais do que ele estava à altura daquele sagrado. O único que com ela merecia gerar os filhos que haverão de vir no próximo Inverno de 2021!

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Dia 22 de Abril. Dia da Terra!



DIa 22 de Abril - Dia da Terra! Há 50 anos que a humanidade assinala o Dia da sua casa-comum! O planeta Terra, que não é a só a nossa casa mas a de milhões de outros seres-vivos! Para nós jardins perfeitos não são só para deleite de Humanos. Poderão e deverão ter muitas flores, arbustos, sub arbustos, algumas Árvores e ainda mais flores. Mas só serão mesmo jardins perfeitos se também tiverem outras formas de vida a usufruí-lo. Muitas minhocas e outras larvas. Caracóis e lesmas. Formigas e repteis. Sapos e Ouriços-cacheiros. Abelhas e milhares de outros insectos polinizadores. Rãs, tritões. Uma ou outra toupeira, ratos, cobras e um sem número de pássaros. Um jardim sem eles pode ser um jardim bonito..., mas não é um Jardim a sério! Por isso, e apesar de nas Sementes de Portugal estarmos focados em tudo o que pode ser feito com flora nativa para um jardim perfeito, relembramos que as plantas são apenas uma pequena parte do privilégio! Para celebrarmos árvores, flores e o canto dos pássaros que tantos gostamos, temos urgentemente de aprender também a gostar de vermes. E a amar os insectos. São eles que além de polinizarem as flores, constituem o alimento de quase todas as outras formas de vida que acima, sem pestanejar, dissemos gostar. Temos de aprender a tolerar alguns dissabores e a perceber que nesta terra, e num jardim em particular, não há uns sem os outros. Herbicidas, pesticidas, roças prematuras, são, na generalidade dos casos, desnecessárias. São tristes e mesquinhos ecocídios, feitos de forma inconsciente umas vezes, ao abrigo cobarde da lei outras. E que apenas impedem a existência a outros seres vivos. E em dias perfeitos de Primavera, se não temos nenhum jardim, a única coisas que nos é pedido para fazer bem é simplesmente uma e não custa nada: AGRADECER E USUFRUIR os jardins perfeitos que nos rodeiam por todo o lado. Sem que tenhamos tido qualquer trabalho!





25 de Abril. 46º Aniversário!


Há Revoluções e sempre haverá Revoluções! Umas correm bem enquanto outras não têm a mesma sorte. Mas a nossa, que para alguns poderá ter tido imensos defeitos, foi, qualquer que seja o prisma, uma revolução bonita! Uma Revolução que nos rumou a todos à LIBERDADE! Este ano não será assinalada nas ruas, onde deveria, mas se nestes dias nos lembrarmos de que mesmo fechados em casa há sempre revoluções que poderemos fazer, o 25 de Abril cumpre-se!

Nota 1: Há 3 anos tomamos a decisão de fazer aquilo que chamámos uma edição especial. Há muitas espécies emblemáticas na nossa flora, mas estas não esgotam as plantas e flores que, apesar de oriundas de outras paragens, fazem parte da nossa identidade colectiva. Os cravos são, a par de outras uma dessas espécies emblemáticas que nos dizem muito! Normalmente só costumavam estar disponíveis nas lojas físicas de alguns parceiros nossos como A Vida Portuguesa , mas este ano já será possivel encontrar na nossa loja on-line. Aqui: https://www.sementesdeportugal.pt/product/cravos/ .

Nota 2 - Há 3 anos no nosso blogue publicámos sobre esta nossa edição. AQUI. Desse texto transcrevemos a parte relativa a esta tradição que tem origem num acto desinteressado da Sra. Celeste Caeiro: "Há actos singelos de enormes repercussões! E este é um bom exemplo de como até os maiores eventos podem ter origem em nano-atitudes. microscópicas, desinteressadas e sem qualquer pretensão de perdurarem para a eternidade. Teria sido a nossa revolução diferente se Celeste Caeiro não tivesse oferecido cravos naquele dia? Talvez não, porque somos um povo de paz, mas graças a ela e para o mundo inteiro, a flor de Zeus (Dianthus em latim quer dizer isso mesmo) juntou-se ao já nosso já imenso património colectivo e é hoje reconhecido como um símbolo de Portugal!

À senhora Celeste Caeiro, hoje com 83 anos, que há 43 disse que um cravo se oferecia a qualquer pessoa, o nosso obrigado e sincera homenagem!"

Nota 3 - Todos os comentários depreciativos do 25 de Abril serão pronta e imediatamente eliminados. Esta página não é um forum de discussão politico-partidária!! E não, não é um paradoxo! A Liberdade é demasiado importante para ser sequer discutida!

terça-feira, 7 de abril de 2020

Trazer a paisagem mediterrânica para o Jardim




Faz agora um ano que se realizou em Évora (dias 6 e 7 de Abril de 2019) a conferencia Internacional de Primavera da Mediterranean Gardeners - Portugal e que na altura partilhámos AQUI.

Um dos momentos altos foi a apresentação, agora disponível on-line - https://vimeo.com/352971855, de Olivier Filippi sobre as infindáveis possibilidades que temos ao nosso dispor para recriar jardins mais sustentáveis nos países da Europa do Sul! Vale a pena voltar a assistir.

Há mais de duas décadas que, a partir do Sul de França, Olivier Filippi desenvolve novas perspectivas sobre jardins mais sustentáveis, mais bio-diversos e onde os sistemas de rega, além de desnecessários, são mesmo prejudiciais! Na Europa do Sul não temos mesmo (nem podemos!) continuar a tentar copiar jardins do Norte da Europa! A alternativa está à nossa volta e por todo o lado para nos inspirar: As nossas paisagens naturais!

sexta-feira, 27 de março de 2020

Um jardim autóctone e ...não só!


No nosso último post, acerca do blogue Jardim autóctone, de Rafael Carvalho, editado entre 2011 e 2015 fazíamos referência a uma das suas publicações onde evidenciavam as razões para que cada vez mais incluamos espécies da nossa flora autóctone num jardim. Nele uma das ideias partilhadas é a de que, nesta matéria, como em muitas outras não há lugar a ortodoxias. Um jardim pode ter plantas autóctones mas também pode continuar a ter espécies de outras proveniências que nao o território local/regional ou nacional!

Claro que somos adeptos de jardins com mais flora autóctone! Em regra são jardins mais sustentáveis, mais adaptados ao nosso clima, ecologicamente mais ricos e, consequentemente, com maior biodiversidade! Mas pode um jardim ter outras espécies que não sejam autóctones!?!Na realidade um jardim pode (e deve!) ter todas as plantas que o seu mentor considerar adequadas!

Não existe nenhuma regulamentação de como deve ser um jardim. Não existe nenhum decreto nem nenhuma lei que defina que um jardim é melhor com estas de que com aquelas espécies! Um jardim é e será sempre um espaço de SONHO e LIBERDADE com os pés e as mãos na terra. Uma construção humana, intima e pessoal que espelha as opções éticas e estéticas de quem o desenha, planta e cuida.

Pode ter espécies do hemisfério Sul!? Pode! E do mediterrâneo Oriental!? Também! E autóctones da outra ponta do país? Porque não? E cultivares apurados por jardineiros ao longo de gerações? E porque não também? Até pode ter plantas geneticamente modificadas se for essa a vontade. O melhor jardim é e sempre será só um: aquele que faz alguém feliz!

Estabelecidos os limites, que não são nenhuns, qualquer pessoa pode (e deve!) começar essa aventura - assim tenha as condições e....a vontade! Para desenhar, plantar, semear, errar, ver crescer, mondar, voltar a plantar, retirar e um dia voltar a recomeçar! Se nessas múltiplas acções alcançar paz e alegria, o jardim já lhe deu tudo o que teria de dar! E foi certamente muito! Como bónus pode ainda deleitar-se a recordar o nome das plantas, dos arbustos e das árvores. Das que dão flores e folhas comestíveis. A saber distinguir as que são perenes das anuais ou bi-anuais. As que ocorrem na linha de costa ou as que nem são de cá, as que eram comuns nos jardins medicinais dos mosteiros e as que as abelhas adoram. As que só enraizaram à terceira, as que precisam de muito cuidado e as que só querem ficar sossegadas. As que implicam muita rega e as que não precisam dela para nada! A ver as estações a passar por ele e a lembrar-se de todas aquelas que não se conseguiram adaptar naquele solo/localização. A aprender a viver com essa frustração, a não desistir e ainda assim continuar a plantar outras que poderão prosperar.

Ao fim de algum tempo, com persistência e alguma paciência, qualquer um de nós poderá ter por fim o seu Jardim. Não será um jardim qualquer, nem tão pouco perfeito. Será simplesmente o seu Jardim. E isso é tudo o que basta!

Nota Final - No nosso blogue,https://bit.ly/2JlqKbr, partilhamos mais fotos de um Jardim sem qualquer sistema de rega e onde, a par de espécies autóctones de Portugal continental - provenientes de regiões tão dispares como Algarve, Beira Baixa, litoral atlântico, baixo -mondego e Serras de Aire e candeeiros, foram incluídas espécies provenientes da África do Sul e Mediterrâneo Oriental!





Nota - As fotos aqui partilhadas são de um Jardim, sem qualquer sistema de rega e onde, a par de espécies autóctones de Portugal continental - provenientes de regiões tão dispares como Algarve, Beira Baixa, litoral atlântico, baixo -mondego e Serras de Aire e candeeiros, foram incluídas espécies provenientes da África do Sul e Mediterrâneo Oriental!




segunda-feira, 23 de março de 2020

Em tempo de ficar em casa... Um Jardim autóctone!

(colagem elaborada com fotos de Rafael Carvalho obtidas em  www.jardimautoctone.blogspot.pt)

Num momento em que  por precaução todos nós devemos ficar por casa, só por análise ligeira é que corremos o risco de nos entediar. Quem tem filhos ou está em tele-trabalho tem o programa de festas mais do que definido. Mas para quem não está nessa situação também  não lhe faltarão alternativas para ocupar o tempo. Entre ficar escravo das redes sociais e da voragem dos números da pandemia, alienar-se nos canais de entretenimento, por a leitura em dia ou simplesmente aproveitar  para repensar a forma como nos iremos recriar no futuro próximo, são muitos os focos que nos podem ajudar a passar este tempo de forma proveitosa. Claro que a jardinagem e o contacto com as plantas e a terra são um dos melhores programas, mas nem todos têm essa possibilidade ao seu alcance.

Nós iremos fazer um pouco de todas as coisas que acima referimos e para começar a semana dedicamos hoje atenção ao nosso blogue. Infelizmente ao longo dos últimos anos a nossa disponibilidade para o manter foi diminuindo e o ritmo frenético das comunicação no Facebook e Instagram acabam por consumir a maior parte da energia. Não sem pena nossa. A blogoesfera tem virtualidades insubstituíveis e hoje muito do que somos a ela devemos. Dessas virtualidades a maior é a de todos os posts partilhados continuarem perfeitamente disponíveis para todos os que se interessarem por qualquer temática. Mesmo que por qualquer razão o seu editor resolva deixar de editar novos posts, todo o saber que generosamente partilhou continua acessível!

Desde que iniciámos o nosso projecto em 2013 nós próprios partilhámos neste blogue muitos textos sobre espécies, ideias e temas relacionados com a flora autóctone e a jardinagem sustentável que, sem qualquer pretensão cientifica, continuam a merecer uma visita. Porém, melhor do que nós outros alimentam ou alimentaram blogues que ainda hoje são para nós uma referência que vale a pena ler como se tivessem sido acabados de editar!

O blogue Jardim autóctone, editado pelo Arq. paisagista Rafael Carvalho entre Novembro de 2011 e Abril de 2015, é para nós um dos mais válidos e que merece ser lido. Hoje, em 2020, já é relativamente consensual a mais valia que a flora autóctone pode trazer a um jardim e são já alguns os projectos que a incluem de forma perfeitamente consciente e assumida. Mas há perto de 9 anos criar um blogue só sobre esse tema era desbravar terreno virgem!

 Partilhando não só informação útil mas muitas das opções que ia  colocando em prática no seu jardim particular em Armamar, no Alto Douro, o qual infelizmente nunca tivemos a oportunidade de visitar, Rafael Carvalho partilhou generosamente ao longo de mais de 3 anos muitas ideias que continuam totalmente actuais e válidas. Desde sebes a como fazer um pequeno charco, passando pelas inúmeras combinações estéticas que é possivel formular fazendo uso de plantas provenientes de outras regiões do nosso país até à necessária vertente ecológica que qualquer jardim pode ter para além da simples fruição humana. Há poucos posts que não mereçam leitura e, nestas semanas em que o tempo é coisa que nos sobra,  todos aqueles que se interessam por esta temática  têm ali muitos recursos!

Um dos posts, que para nós é fundador, é de Novembro de 2012:  Plantas autóctones no jardim – Porquê? Aconselhamos vivamente a sua leitura no sítio onde originalmente foi publicado - Até porque é acompanhado de fotos. Mas não resistimos a transcrever o seu texto. Todas as variáveis relevantes nesta matéria estão nele abordadas! 

Ao Arq. Rafael Carvalho o nosso Obrigado e a quem ler este texto os votos de que este tempo inédito se passe da forma menos penosa possivel!


                                   Plantas autóctones no jardim – Porquê?


O termo autóctone é sinónimo de nativo ou indígena, isto é, diz respeito a todo o ser vivo originário do próprio território onde habita.

O território continental português é ponto de encontro de duas regiões biogeográficas: a Eurossiberiana e a Mediterrânica. Na região Eurossiberiana, inclui-se o noroeste de Portugal Continental, com um clima temperado e chuvoso, fortemente influenciado pelo efeito amenizante do Oceano Atlântico. A Região biogeográfica Mediterrânica, que ocupa a restante parte do nosso território, caracteriza-se por possuir um clima em que as chuvas escasseiam durante o verão. Às distintas regiões biogeográficas correspondem faunas e floras muito próprias, muitas vezes sobrepostas no caso do nosso país por se localizar na franja de transição. No contexto europeu, a localização geográfica de Portugal, ponto de encontro de dois mundos, coloca o nosso país numa invejável posição no que à biodiversidade diz respeito.

Existe uma expressão popular portuguesa que afirma “A galinha da minha vizinha é melhor do que a minha”. Curiosamente o dito pode ser pensado ao contrário. As minhas galinhas, para as minhas vizinhas, serão pois melhores do que as delas. Confuso! Dá que pensar…

Votadas ao desprezo por nós, as nossas plantas têm lugar de destaque em paragens distantes. Para os franceses o azereiro (Prunus lusitânica) é o Loureiro de Portugal, para os ingleses o rosmaninho (Lavandula stoechas pedunculata) é a Lavanda portuguesa. E o que dizer do carvalho português (Quercus faginea)?!…Pinheiros mansos, lódãos, sobreiros, … Arquitetos paisagistas como o arquiteto Ribeiro Teles, são um verdadeiro exemplo a seguir. Com visão de futuro transportam os nossos espaços naturais para o interior das nossas cidades.

Algumas das nossas espécies autóctones já são entre nós comercializadas, sem que a maioria dos consumidores suspeite sequer de que se tratam de espécies autóctones – medronheiro, folhado, pilriteiro, loendro, rododendro, madressilva, alecrim, murta, loureiro …
Entre herbáceas, plantas de cobertura, arbustos, árvores e trepadeiras, existem contudo muitas outras espécies cujo potencial se encontra desaproveitado: esteva, sabugueiro, roselha, trovisco, sargaço, tojo, sanguinho das sebes, carqueja, lentisco bastardo, catapereiro, jasmim-do-monte, carrasco, vinca, vide-branca, zambujeiro, morangueiro bravo, arméria, roseira brava…

Cada região biogeográfica tem a sua flora característica, capaz de servir de inspiração na hora de construirmos os nossos jardins. Os modelos de jardim importados, exigem muita manutenção. São mantidos à custa de muito dinheiro gasto em água, que não temos, e em adubos. As chuvas na maior parte do nosso território são escassas e irregulares, concentradas apenas numa parte do ano. Os modelos importados abusam dos relvados, quando os nossos prados naturais, limpos e cortados, mesmo que secos no verão se enquadram no ambiente natural da Europa do Sul, onde nos encontramos.

A menos que sejam invasoras, com este texto não pretendo de forma alguma fazer um apelo à irradicação das plantas exóticas dos nossos jardins. Quase todos os dias como batatas. A batata que eu como e nós cultivamos é uma exótica importada da América do Sul. Também da América veio o milho, e como gosto eu de broa! E o que dizer das saborosas laranjas que os portugueses trouxeram do Oriente? Nos passeios que dou pelas cidades que vou visitando, os seus parques e jardins são ponto de paragem obrigatória. Quando visito um jardim botânico, muitas das vezes constituído maioritariamente por plantas exóticas, entro em êxtase. Vinda dos trópicos, como admiro eu a nepentes que lá em casa tenho suspensa na minha cozinha…
Com este texto, pretendo simplesmente chamar a atenção para o desprezo a que têm sido votadas as nossas plantas autóctones. Eu próprio tenho um jardim autóctone e com isso fico satisfeito.

Com objetivos produtivos ou ornamentais, plantas existem que não sendo autóctones há muitas centenas de anos convivem entre nós: ciprestes, amendoeiras, oliveiras, figueiras, romãzeiras, laranjeiras, limoeiros. Aliadas às autóctones estas plantas produzem espaços ajardinados bastante equilibrados e agradáveis, respeitadores das nossas paisagens.

É também através das plantas autóctones que os turistas que nos visitam podem reconhecer a singularidade do nosso país. A vegetação natural ajuda a ler o território. É isso que o turista procura quando visita um país estrangeiro. A nossa vegetação nativa deve para nós ser um motivo de orgulho. Os turistas que nos visitam procuram o que de mais genuíno possuímos - as nossas cores, os nossos aromas, as nossas formas. Se quisessem apreciar paisagens tropicais, repletas de palmeiras, não seria Portugal que procurariam. As plantas autóctones respeitam as nossas paisagens e a nossa cultura, produzindo jardins mais autênticos e genuínos. E não nos esqueçamos que as paisagens são tão identitárias para os povos como a sua língua - e como gosto eu de falar português!

A combinação de cores intimamente ligada às estações, os aromas, as texturas e composições vegetais, o relevo e os próprios sons permitem identificar a região onde nos encontramos. Os sabores também não ficam de fora – no verão delicio-me com as camarinhas em pleno litoral arenoso; no inverno embriago-me com os medronhos em pleno Alto-Douro vinhateiro. 

Verdade seja dita que muitas das nossas plantas autóctones são difíceis de obter. Muitos desconhecem as suas potencialidades…. Os circuitos comerciais e de produção, muitas vezes estão sediados em países distantes que desconhecem o potencial da nossa flora. Acredito que se estas plantas fossem parte integrante da flora onde a investigação em floricultura é mais avançada, já há muito estariam difundidas pelos jardins. O facto de continuarmos a valorizar exotismo em regime de exclusividade, também não ajuda.Nem tudo está perdido. No nosso país existem empresas a dar os primeiros passos na investigação e produção de plantas autóctones. A lisboeta Sigmetum (http://sigmetum.pt/), a funcionar na Tapada da Ajuda, é um exemplo de excelência.

Com recurso à reprodução vegetativa ou através de sementes recolhidas na natureza, os mais aficionados poderão constituir o seu próprio viveiro de plantas autóctones. Evidentemente que esta solução não é para todos.

Habituadas às agruras na natureza, as espécies nativas são muito rústicas. Com apenas um pouco de mimo, florescem abundantemente e apresentam vigorosas folhagens nos nossos jardins. As plantas dos nossos espaços naturais são as que melhor se adaptam às nossas características do solo e do clima. 


Claro que ser autóctone não é um passaporte garantido para a plena adaptação ao nosso jardim. Dentro das plantas autóctones existem plantas adaptadas a diferentes habitats/ecossistemas. Plantas ruderais, rupícolas, ripícolas, resistentes ou não a solos calcários… observando a natureza é necessário escolher a planta certa para o lugar certo. Apesar de autóctone, não me parece ser boa ideia plantar um nenúfar-branco numa floreira de varanda; também não me parece bem plantar um sobreiro no meio de um lago… Um jardim com espécies autóctones no atlântico Gerês, será necessariamente diferente do equivalente no mediterrânico Algarve.

Escolhida a planta certa para o lugar certo, as plantas autóctones após a fase de implantação dispensam a rega. Não há necessidade de fertilizantes nem de cuidados sanitários. Estas plantas desenvolveram ao longo de milhares de anos diversas adaptações ao meio que lhes conferem um elevado nível de resistência a pragas e a doenças. Uma vez plantadas têm a capacidade de se auto-regenerarem. Necessitando de muito pouca manutenção, as plantas autóctones tornam mais sustentáveis os nossos espaços verdes. Acresce ainda que muitas das plantas da nossa flora espontânea têm propriedades medicinais, são aromáticas e/ou condimentares podendo por isso representar mais uma forma de valorizar as potencialidades de cada região.

Os jardins autóctones fomentam a biodiversidade. À riqueza florística adiciona-se a riqueza faunística, pelas relações que as plantas autóctones estabelecem com os animais, fornecendo-lhes alimento e abrigo.
Com recurso às plantas autóctones, as paisagens portuguesas poderão ser ainda mais portuguesas."