domingo, 21 de abril de 2019

Jardins Perfeitos


Jardins perfeitos. 

Têm certamente muitas flores, arbustos, sub arbustos, algumas árvores. E mais flores. Uns caminhos e uns bancos pelo menos. Mas só será mesmo um jardim perfeito o que também tiver outras formas de vida a usufruí-lo. Muitas minhocas e outras larvas. Caracóis e lesmas. Formigas e repteis. Sapos e Ouriços-cacheiros. abelhas e milhares de outros insectos. Rãs, relas tritões. Uma ou outra toupeira, ratos, cobras e um sem número de pássaros. Um jardim sem eles pode ser um jardim, mas não é perfeito nem a sério! 

Por isso, e apesar de nas Sementes de Portugal estarmos focados em tudo o que pode ser feito com flora nativa para que um jardim seja vez mais perfeito, relembramos que as plantas são apenas uma pequena parte do prazer! 

Para celebrarmos árvores, flores e o canto dos pássaros que tantos gostamos, temos urgentemente de aprender também a gostar de vermes. E a amar os insectos. A maior parte deles nem chega a picar e são eles que além de polinizarem as flores, constituem o alimento de quase todas as outras formas de vida que acima, sem pestanejar, dissemos gostar. 

Temos de aprender a tolerar alguns dissabores e a perceber que nesta terra, e num jardim em particular, não há uns sem os outros. Herbicidas, pesticidas, roças prematuras, são, na generalidade dos casos, desnecessárias. 

São tristes e mesquinhos ecocídios, feitos de forma inconsciente umas vezes, ao abrigo cobarde da lei outras. E que apenas impedem a existência a outros seres vivos que, por acaso, nem querem saber quem somos. 

Nestes dias perfeitos de Primavera, a única coisas que nos é pedido para fazer é simplesmente uma que não dá trabalho e não custa nada: USUFRUIR!! Mas se não formos capazes disso, podemos sempre seguir caminho e deixar estar em paz todos os outros que usufruem dos muitos jardins perfeitos que nos rodeiam!




terça-feira, 16 de abril de 2019

E PORQUE NÃO!? - Conferência Internacional de Primavera em Évora


Uma semana depois do seu fim, na passada segunda-feira dia 8 de Abril, partilhamos o essencial daquele que foi inequívoca e muito provavelmente o evento mais relevante em matéria de jardinagem sustentável que se realizou este ano em Portugal: A Conferência Internacional de Primavera organizada pela Associação de plantas e jardins em climas mediterrânicos de Portugal, em Évora entre os dias 5 e 8 de Abril, e à qual tivemos o privilégio de estar associados enquanto parceiro oficial.

Na conferência de há 3 anos, realizada em Lagos em Abril de 2016, já tínhamos  tido a oportunidade de assistir a uma palestra de Olivier Filippi sobre uma visão que é revolucionária, mas possível, para novos jardins e espaços públicos, mais vibrantes, sem relvados nem sistemas de regra, com flora autóctone, sustentáveis e ecologicamente diversos.

E esta conferência foi mais uma oportunidade para ver e ouvir o que, um pouco por todo o Mediterrâneo, está a ser feito com sucesso ao longo dos últimos anos  por diferentes arquitectos paisagistas,. Pela boca de Olivier Filippi (http://www.jardin-sec.com/) e pela de Helen e James Basson ( http://www.scapedesign.com) que, a partir do Sul de França, se inspiram nas paisagens mediterrânicas para construir experiências de fruição mais sofisticadas e exigentes.

Porém, se alguns dos que lêem estas linhas, pensam que a "jardinagem" se resume a uma matéria de estética restrita e fútil, desenganem-se! Com efeito, se numa perspectiva restrita um jardim sem dispendiosos sistemas de regra já é tema suficientemente importante e vasto, o FACTO é que a JARDINAGEM, como pode e deve ser entendida, é MUITO MAIS DO QUE ISSO!

Tomando como nossas as palavras de Burford Hurry, presidente da Mediterranean - Gardeners Portugal, resumimos a importância do tema: NÓS PRECISAMOS DOS JARDINS E DAS PLANTAS PARA CONTINUARMOS HUMANOS!

E PRECISAMOS MESMO! Em tempos cada vez mais cibernéticos e onde a hiper-especialização é a palavra de ordem que é imposta a seres que durante 30.000 anos prosperaram por serem generalistas, A JARDINAGEM pode ser a experiência TOTAL de todos aqueles que acreditam que só há uma maneira de continuar humano: A de insistir, afastar a sombra e persistir na certeza de que o nosso lado mais luminoso pode sempre crescer. Um work in progress que nunca termina e que todos os dias reclama por ESPAÇO!

E HÁ TANTO ESPAÇO! Os quatro dias da conferência de Évora foram um exemplo disso e da experiência total que os jardins podem proporcionar sendo o seu fio condutor e estrutural!

Uma Experiência TOTAL que juntou pessoas provenientes da Austrália, África do Sul, América, SUL e Norte, de Portugal e de outros países europeus. Para ver Monsaraz e o maior lago da Europa. Para duvidar do seu sentido e se isso é mesmo motivo de orgulho, e duvidar também se as cultura hiper-intensivas e irrigadas de amêndoal e olvial em redor de Évora serão efectivamente estratégia ou simples depradação da terra.

Para nos inspirarmos, pela mão da Prof. Aurora Carapinha da Universidade de Évora, nos jardins históricos da Quinta do General, Borba, ou nos emocionarmos pela sofisticação alcançada no Convento de S. Paulo da Serra da Ossa, Redondo. Sofisticação que infelizmente não impediu a transformação daquela Serra num imenso eucaliptal. Para vermos um exemplo do sistema mais eficiente de gestão de recursos naturais do mundo que o Homem persistiu em desenvolver e estimar ao longo de séculos - O MONTADO - na quinta da Maroteira, Redondo.

Para ouvir a a Professora Ana Margarida Fonseca sobre as dezenas de alimentos silvestres que em épocas de sobrevivência do século XX alimentaram os generalistas alentejanos a partir dessa mesma paisagem sustentável.

Para tentarmos perceber como uma da áreas consistentemente habitadas no fulgurante período megalítico de há 6 mil anos, que construiu menires, antas e o inigualável cromeleque dos Almendres, tem hoje uma das mais baixas densidades populacionais do mundo (22 habitantes/Km, que comparam com 1.163 no Bangladesh).

Para vermos os planos de revitalização do Jardim Botânico do Porto dirigido pelo Prof. Paulo Farinha Marques fazendo um uso crescente da flora nativa de Portugal. E para aprendermos com Paula Maria Simões e Marilyn Ribeiro as melhores práticas quando decidimos ter um jardim vivo e não um sistema de irrigação.

Mas também para ver um sonho improvável concretizado na Vidigueira: A QUETZAL, uma vinha/Adega que é um centro de arte moderna de excelente qualidade. E que muitos rejeitam pela ousadia, como se não se pudesse também sonhar no Alentejo. Como se não compreendessem que o desafio nunca é justificar um NÃO mas arranjar forças para dar forma ao PORQUE NÂO!?!?!

Tal qual como os nossos melhores, de D. João II e os que o rodeavam, fizeram há cerca de 550-600 anos entre Évora, Alcáçovas e Sintra. Que, muito possivelmente entre sebes de murta e fontes de um delicado jardim renascentista - hoje visitável no antigo palácio dos Henriques, não tiveram dúvidas em decidir onde tinham de se concentrar: No E PORQUE NÂO? E PORQUE NÂO, persistir e Progredir pelo mar adentro?

E PORQUE NÂO? Esse será sempre o âmbito maior da Jardinagem! E é por ele que entre 5 e 8 de Abril, humanos provenientes de Inglaterra, bélgica e Holanda, residentes em Portugal, que amam incondicionalmente esta terra que os escolheu há décadas, prepararam com generosidade um programa excepcional para portugueses, australianos, gregos, chilenos, sul-africanos e tantos outros  que moveram as suas energias para estarem uma semana da Primavera de 2019 em Évora. ÈVORA, uma cidade que há muito mais de 40 anos não é só nossa mas da HUMANIDADE, deles e de todos os outros que um dia ainda conseguirão visitá-la!

Nota final e pessoal - Um OBRIGADO muito particular a todos os elementos da Mediterranean Gardeners e em particular ao Rob&Rosie Paddle, responsáveis pela organização deste evento maior dedicado ao tema do "E PORQUE NÂO?". Ou, se preferirem dedicado ao tema de como "Trazer a paisagem mediterrânica para o jardim". São do nosso MELHOR. Tê-los é e será sempre um privilégio nosso e um direito justamente reclamado por esta terra que sabiamente os prendeu cá.