quinta-feira, 30 de abril de 2020

Dias das Maias


1º de Maio - Dia das Maias - Faltam menos de 24 horas para estarmos em Maio! Significa isto que temos o dia de hoje, quinta-feira, dia 30, para cumprir a tradição e colher um ramo de maias (giestas!) para o pendurar na porta antes que se faça meia-noite. Isto se quisermos afastar os maus espíritos, as doenças e a escuridão. E entrar em Maio a celebrar a fertilidade de tudo o que nos rodeia!

Em tempos de Covid-19 e com muitos de nós ainda confinados, a tarefa estará facilitada para quem tem giestas no jardim...Mas a quem as não tem, não será difícil encontrar uma por perto. É que neste momento as Giestas já estão em floração abundante por toda a parte, de Norte a Sul de Portugal.
Dirão alguns.. "Ah mas isso é uma tradição provinciana e arcaica sem qualquer significado ou utilidade...". Não é. Pelo contrário! Há muito mais num pequeno ramo de Maias do que podemos imaginar!!
Quando além de belas, resilientes e proporcionadoras de uma maior biodiversidade, as nossas espécies silvestres têm uma identidade e um forte simbolismo desde há milénios, nós não cumprimos apenas uma tradição oca ao tê-las por perto. Fundimos em nós esse significado e irmanamos-nos como todos aqueles que antes de nós lhe conferiram essa identidade. Damos-lhe vida e isso torna-nos inquestionavelmente mais ricos e sobretudo muito mais humanos!

As Maias não são só um arbusto de abundante e prolongada floração amarela que, além de meliferas, são um excelente fixador de azoto no solo! Encerram em si toda a esperança de uma terra fértil, fecunda e generosa. O 1º de Maio era para os nossos ancestrais celtas o 1º dia de Verão o que merecia um dos seus festivais mais importantes: Beltrane. (De notar que para eles só existiam duas estações: O Inverno - de 1 de Novembro a 30 de Abril e o Verão de 1 de Maio a 31 de Outubro).
E depois deles, quando éramos Romanos, consagrávamos estes dias a Maia (deusa da Fertilidade) e a Flora (Deusa da Natureza e da Primavera) num igualmente importante Festival : A Floralia, cujas festividades duravam vários dias.

Mas se isto foi há milénios,ainda no nosso pais agrário do século passado eram inúmeras as diferentes maneiras que, de região para região, existiam para celebrar a Natureza gloriosa de Maio.
No nosso pais e por toda a Europa, não deve existir época com mais ritos e celebrações do que a de Maio-Junho, Santos incluídos. É que não são só os passarinhos e as flores que sentem os calores de Maio como uma boa oportunidade para se reproduzirem. Em Vila Nova de Anços, No Baixo Mondego, era nesta noite que os rapazes colocavam coroas de flores à porta das raparigas que amavam.....E Se houver alguém que não gosta do seu aniversário no Inverno, tem aqui a razão para se alegrar! Será com toda a certeza o fruto bem sucedido de um urgente e inconfinável amor... de Primavera!

Importa por isso, apesar de em modo de confinamento ou sobretudo por estarmos num insustentável e anti-natural modo de confinamento, arranjar maneira de encontrar um ramos de Maias. Ou dois, se quisermos. So com Maias ou com papoilas ou, também com outras flores! Para pendurar numa porta ou na janela. De pernas para o ar ou para baixo, numa jarra, numa parede ou no tablier do carro. Não importa a forma nem o feito. Não há tradições vivas cristalizadas. E o que importa para lhes manter a vitalidade é e será sempre apropriarmos-nos delas, hibridá-las fecundamente com os nossos genes e dar-lhes uma nova Vida! Todas as Primaveras, temos essa oportunidade. Que a celebremos então de peito aberto!!!

A todos os que nos seguem os votos então de um Glorioso, Fértil e Abundante mês de Maio. Ou de Verão, se preferirem!

Nota Final - Sendo óbvio, não deixamos de o escrever. O dia da Mãe a 3 de Maio (é sempre no primeiro Domingo de Maio); Maio o mês de Maria, A Nossa Senhora, da Igreja católica, são apenas outras formas de celebrar com outros nomes e outros ritos uma só coisa: A fecundidade da Terra e de todas as Mulheres. Como é óbvio também, essa reverência ao profundamente sagrado que é a maternidade em sentido lato, não tem rigorosamente nada a ver com shows televisivos de quem quer casar com o Agricultor. Recentremos-nos. Mesmo latifundiário, mais não fosse por uma questão estética, seria sempre ele a transfigurar-se para provar inequivocamente que só ele e ninguém mais do que ele estava à altura daquele sagrado. O único que com ela merecia gerar os filhos que haverão de vir no próximo Inverno de 2021!

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