Nos últimos anos e sobretudo desde os grandes incêndios de Pedrogão Grande em 16 Junho de 2017 - fazem agora 3 anos!, as leis de limpeza de espaços florestais, com regras nem sempre fáceis de compreender, têm colocado uma pressão adicional sobre pequenos proprietários que, em prazos apertados, com custos significativos e sob pena de multas pesadas, são forçados a realizar trabalhos de limpeza de muita duvidosa necessidade e com claros prejuízos em matéria de biodiversidade.
É claro que se o bom-senso fosse generalizado não seriam necessárias leis, mas ainda assim há alguns aspectos que, no espírito da lei em vigor, poderão ser tidos em linha de conta tornando o seu cumprimento menos gravoso ponto de vista ambiental e até mesmo uma oportunidade de valorização de outras espécies autóctones que ocorrem espontaneamente nas parcelas a limpar.
Esses aspectos são, de forma resumida, os seguintes:
- O espírito da lei pretende acima de tudo uma redução significativa da matéria combustível. Isto é, não é necessário destroçar de forma generalizada tudo excepto árvores adultas! Além destas há um sem numero de arbustos, sub-arbustos e árvores juvenis que, além de pouco combustíveis, são um importante suporte para inúmeras formas de vida. Medronheiros, adernos, pilriteiros, carrascos, folhados são, entre muitas outras espécies, alguns exemplos. Preservá-las através de uma limpeza selectiva não representa custos acrescidos e os benefícios são visíveis.
- Apesar do limite para a realização de trabalhos de limpeza coincidir com a Primavera (este ano prolongado até ao fim de Maio, devido aos impactos do vírus COVID-19), estes trabalhos não têm de ser efectuados em plena Primavera. Pelo contrário! A Primavera é a época de floração da grande maioria das plantas e de procriação da maior parte dos seres vivos, pelo que perturbar o seu habitat nesta estação é prejudicar irremediavelmente a biodiversidade. Na nossa perspectiva, a melhor altura para executar estes trabalhos é, se for possível, de Setembro a Janeiro.
- Reduzir a matéria combustível, na grande maioria dos casos, alcança-se reduzindo apenas as espécies mais abundantes e de crescimento mais vigoroso. Em regra e quase sempre, consoante as regiões, urzes, fetos, tojos, silvas e estevas. E dizemos "reduzir" em vez de eliminar porque não faz sentido pretender erradicar estas espécies. Além de ser um esforço inglório, ela desempenham um importante papel pelo que podem ser deixadas pequenas manchas a serem geridas, de forma alternada, ao longo dos anos.
- Por fim, as acções de limpeza florestal são uma excelente oportunidade para criar bosques por regeneração natural, sem necessidade de plantar ou semear árvores que, na maioria dos casos, sao provenientes de outras regiões. A grande maioria dos povoamentos de pinheiro ou eucalipto existentes foram efectuados ao longo do século XX. Porém, ao contrário do que hoje acontece, os métodos de plantação não aniquilaram as espécies pré-existentes como carvalhos ou sobreiros. As suas raízes permanecem vivas e só esperam uma oportunidade para rebentar a partir da "toiça". Estas, a que se somam as foram semeadas pelas aves - gaios, por exemplo, são quase sempre mais do que suficientes para iniciar uma renaturalização bem sucedida. Mais do que semear ou plantar novas árvores, o importante é realizar uma limpeza selectiva que salvaguarde as já existentes!
Terminamos por fim com um pequeno video ilustrativo de uma limpeza florestal que tivemos a oportunidade de influenciar recentemente e que, de acordo com as linhas acima descritas, permitiram alcançar resultados muito mais mais equilibrados.
Trata-se de uma pequena parcela, na região de Leiria -Batalha, a Oeste da maciço calcário estremenho (Serra de Aire e Candeiros), cujo povoamento original de Carvalhos-cerquinhos (Quercus faginea broteroi) e sobreiros (Quercus suber) foi, ao longo das últimas décadas substituído por pinheiros e eucaliptos.
Trata-se de uma pequena parcela, na região de Leiria -Batalha, a Oeste da maciço calcário estremenho (Serra de Aire e Candeiros), cujo povoamento original de Carvalhos-cerquinhos (Quercus faginea broteroi) e sobreiros (Quercus suber) foi, ao longo das últimas décadas substituído por pinheiros e eucaliptos.
A limpeza agora efectuada, apesar de não ter sido realizada na melhor altura(início de Junho), pretende no médio e longo prazo voltar a dar a primazia aos carvalhos e e sobreiros. Mas sem radicalismos. Neste processo foi efectuado um desbaste de eucaliptos e pinheiros e os que se deixaram, além de futuramente produzirem madeira, ajudarão na protecção das outras espécies ainda juvenis como é o caso, para além dos carvalhos e sobreiros, dos folhados, zambujeiros e pilriteiros.
As pilhas/amontoados de ramos e folhas, dispostos de acordo com as curvas de nível, irão decompor-se ao longo do tempo. Além de incorporarem matéria orgânica no solo, ajudarão a reter água e servirão de abrigo a repteis e pequenos mamíferos.
No final as espécies preservadas permitirão que dentro de alguns anos surja nesta parcela o que será um bosque mais resiliente e com um risco de incêndio bastante menor!
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