No passado dia 6 de Outubro, em Braga, o Banco Português de Germoplasma Vegetal, em conjunto com a ATAHCA - Associação Desenvolvimento das Terras Altas do Homem, Cávado e Ave, assinalou os seus 40 anos promovendo uma conferência Internacional sob o tema “Conservação dos Recursos Genéticos: na Alimentação, nos Sistemas de Produção e nos Bancos de Germoplasma”.
Não obstante estarmos sobretudo focados nas sementes das espécies silvestres para fins ornamentais e paisagísticos, foi para nós um privilégio poder assistir ao conjunto de apresentações e diferentes painéis de oradores que, com enfoques diversos mas complementares, perspectivaram a extrema importância dos nossos recursos genéticos vegetais numa perspectiva da segurança alimentar das gerações futuras.
O Banco Português de Germoplasma Vegetal, integrado hoje no INIAV e localizado em Merelim- Braga, tem uma designação que, temos de reconhecer, assusta a maior parte de nós. É um nome, diríamos, demasiado hermético para designar o que é na realidade e que qualquer um tem facilidade de perceber a importância:
DIriamos antes que é sim uma imensa Arca de Sementes que conserva o essencial das espécies que os nossos agricultores utilizam para produzir os alimentos que consumimos: Os cereais, as leguminosas, as hortícolas, e tantas outras espécies nas suas inúmeras variedades regionais que ao longo dos séculos foram sendo seleccionadas pelos nossos antepassados. É, portanto uma Arca de Noé. De sementes Portuguesas. Que garante que o essencial desse valioso património colectivo é guardado e passado às gerações futuras. Só isso e já é imenso!
Atenção: Não é uma loja de sementes nem disponibiliza sementes a coleccionadores e interessados! A sua missão é simplesmente preservar!
Esta Arca de Noé, iniciada em 1976 pela prof. Renna Farias - uma cidadã brasileira que, tivemos nós essa sorte, dedicou a energia da sua vida a construí-la para nós, e hoje continuada pela Eng. Ana Barata - que, mais não fosse pelo facto de também ser mulher, nos garante que a sua missão de guardar a agro-biodiversidade continua em boas mãos guardiãs. Está entre os mais de 1700 que existem pelo mundo e destaca-se, pela quantidade e diversidade de sementes guardadas, no grupo dos 170 mais importantes, conforme reconheceu a FAO em 2016.
Dos diferentes painéis e oradores, gostaríamos de destacar, cometendo a injustiça de não referenciar muitos outros igualmente relevantes, a apresentação da Investigadora e professora Dulce Freitas que muito recentemente viu o seu projecto de investigação sobre a introdução das sementes na Península Ibérica ser seleccionado pelo Conselho Europeu para a Investigação (AQUI) E que nos próximos anos irá estudar como se processou, a partir da Ibéria de meados do século XVIII, a introdução das espécies oriundas dos novos mundos descobertos, revolucionando a alimentação e proporcionaram o crescimento populacional sem precedentes que a partir daí toda a Europa alcançou.
Nota final - Talvez mais subtilmente do que o desejado, este texto pretende também ser uma desenvergonhada homenagem às mulheres que individualmente e no seu todo, em Portugal e em tantos, tantos outros sítios do mundo, chamam a si a tarefa de guardar as sementes para o Futuro. Fecundas como a terra que semeiam são e serão sempre a única terra de onde poderá, um dia, brotar alguma coisa! E é tanto assim e está de tal forma enraízado no nosso sub-consciente, que, enquanto esta missão tiver nome de Banco a cobrir a sua evidente natureza materna, dificilmente alguma vez será compreendido e apreendido à primeira pela maior parte de nós!
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