domingo, 5 de janeiro de 2014

As Cistácias



Para a maioria de nós, o titulo deste post causa algum pavor pois não é um termo de uso corrente e em regra tendemos a desgostar do que não nos é familiar. Porém, se um dos nossos objectivos é o de dessacralizar o jargão técnico-cientifico, mostrando que afinal as plantas já existiam antes dele, outro é o de ir introduzindo alguma da nomenclatura cientifica que organiza o mundo da botânica e relacioná-la, tão rápido quanto possível, com as plantas que nos rodeiam e que conhecemos do dia a dia. 

Dessa forma, e sendo claro que somos apenas dois autodidactas mais atrevidos, esperamos contribuir para a divulgação cientifica, mas sem nos fecharmos na sua linguagem, dessacralizando-a sempre que possível. Aliás, como já se devem ter percebido os seguidores que agora se iniciam no tema da flora autóctone, é inquestionável que a partir de um "certo numero de plantas", os nomes comuns deixam de ser suficientes para encaixarmos toda a diversidade que nos rodeia.

As cistácias são uma família que agrega diversos géneros e espécies de plantas, características da flora mediterrânica, que partilham uma característica curiosa e que está na base do seu nome. As suas sementes encontram-se em cápsulas globulares divididas em diversas "compartimentos" que para  o percursor da botânica moderna, Lineu (Carl Linnaeus 1707-1778) se assemelhavam a cestos, isto é, em latim, cistus.  Surgiu assim a designação de Cistaceae para esta família, ou como "aligeirado" para Português, as cistácias.

Dos 5 géneros da família que existem em Portugal destacam-se dois: o género Cistus, que é o mais representativo e o género Halimium. De uma forma muito grosseira são as espécies popularmente denominadas como estevas ou sargaços. De qualquer das formas, mesmo que nem estas expressões conheçamos, será fácil ao leitor reconhecer a sua existência na sua envolvente: fazem parte da paisagem de quase todo o nosso território e na Primavera é impossível não reparar na sua floração abundante, nas suas cores ou no seu aroma/cheiro adocicado - sobretudo nos grandes estevais da costa vicentina ou de Trás-dos-montes para dar dois exemplos.

Como escreveu recentemente Margarida Costa da APH - Associação Portuguesa de Horticultura no artigo "Estevas e sargaços no seu jardim" (1) são plantas que estão "adaptadas a solos pobres e a períodos de seca prolongados" o que faz delas uma opção segura para qualquer jardim. Tão segura que é uma planta que tem sido bastante trabalhada por inúmeros jardineiros e viveiristas. Nomeadamente em Inglaterra, onde a admiração pelas plantas mediterrânicas já é longa, os Cistus têm sido desenvolvidos em novas variedades e híbridos. E o que é curioso, muitos deles já disponíveis nos nossos garden centers que os importam sobretudo da Holanda. 

E embora não tenhamos nada contra os híbrido ou as "espécies comerciais" não deixa de ser "irónico" necessitarmos que outros povos valorizem o que é naturalmente nosso para nos dispormos a pagar pelo que sempre nos acompanhou.

Mas como este post já vai longo deixaremos para artigos futuros os diferentes aspectos e particularidades que em nosso entender justificam plenamente a opção por qualquer das espécies de Cistus e Halimium que a nossa Natureza nos oferece. A multiplicidade de usos, o interesse ecológico e a beleza intrínseca das suas flores simples e abundantes, fazem das cistácias uma das opções incontornáveis na tão necessária renovação da jardinagem portuguesa de que o Arq. Ribeiro Teles nos fala há já tanto tempo.

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